domingo, 5 de fevereiro de 2012

Busca por Kennedy já dura 25 anos


DANILO SANS
"Ainda tenho muita esperança de reencontrá-lo. Sempre me pergunto sobre como ele estaria hoje: Loiro? Moreno? Só vou baixar a guarda quando descer na sepultura". As palavras são de uma mãe que há 25 anos dorme e acorda tentando imaginar onde está o filho.


Kennedy Robert Pereira deve completar 30 anos no próximo dia 28. A última lembrança que a família tem dele é uma foto de infância utilizada em inúmeras campanhas que tentam desvendar o paradeiro do rapaz. O caso dele gerou tamanha comoção e foi um dos mais comentados em todo País, chegando até mesmo a virar reportagem da revista norte americana People.


A mãe, Divanei Pereira, comerciante de 48 anos, lembra com detalhes de toda a luta. "Meu filho sumiu no dia 11 de abril de 1986. Na época, ele tinha apenas 4 anos. Acordamos num dia como qualquer outro e resolvemos dar uma saída por volta das 16 horas porque o cachorrinho dele estava doente. Deixamos ele em casa com a irmã, já que minha mãe era vizinha e naquela época, as crianças ainda brincavam muito na rua, e voltamos depois de apenas 40 minutos, que foi o tempo necessário para que ele desaparecesse sem deixar o menor sinal de onde poderia ter ido".


O desespero começou a tomar conta da família na mesma hora. "Procuramos na casa da minha mãe e por todo o bairro, até porque naquela época todos se conheciam na Ponte Grande. Foi um dia inteiro de buscas intensas, mas não conseguimos uma pista sequer", conta a mãe.


Aqueles primeiros momentos ainda estão vivos em detalhes na memória de Divanei: "Me lembro que naquele dia, o cometa Halley seria visto da Terra e como a minha rua ficava de frente para a entrada do Parque Municipal, estava muito movimentada de pessoas subindo naquela parte da serra para presenciar o evento. Nós ficamos a noite inteira na calçada de casa, em claro, esperando por alguma notícia".


Depois daquela noite marcante, a família foi até a Delegacia registrar o desaparecimento. Durante sete meses, cada canto da Cidade foi vasculhado. Além da Polícia Civil, uma turma do Tiro de Guerra se empenhava no meio do mato, além de um ônibus com agentes do Centro de Operações Especiais da Polícia Militar (Coe) que veio a Mogi para realizar uma varredura completa na área.


"Lembro perfeitamente das palavras de um senhor do COE que me disse: "Eu tenho certeza absoluta de que seu filho não está morto. Também não está nesta redondeza, senão já o teríamos encontrado", recorda Divanei.


A ajuda vinha de todos os cantos. Um dos vizinhos, inclusive, emprestou três carros equipados com alto falantes que rodavam as ruas com faixas e cartazes. "Procuramos a televisão e o caso foi veiculado algumas vezes em rede nacional", conta.


"Fiquei 10 anos vivendo exclusivamente essa busca. Para mim, não existia mais família, não tinha mais filhos, ficava só com isso na cabeça o tempo todo", conta. A religião foi uma das maiores aliadas de Divanei com o passar do tempo. "Depois de 12, 13, 14 anos, fui aceitando aquela situação insuportável e acreditando que tudo na vida tem um motivo. A Igreja foi o que me deu força", afirma.


Divanei fez parte do grupo Mães da Sé. "A intenção lá era de chamar a atenção da mídia, que nestes casos têm mais poder do que a Polícia", avalia. A iniciativa, muitas vezes, dava resultado, já que as fotografias das crianças e a angústia das mães frequentemente apareciam nos programas de televisão. "Vários casos foram solucionados depois de terem aparecido no programa do Gugu ou do Moacyr Franco", lembra.


Em uma dessas aparições, o caso de Divanei foi ao ar pelo programa apresentado por Sílvia Poppovic, em 1996. "Uma pessoa do Alagoas viu a foto do meu filho e o identificou com um garoto que vivia lá com as mesmas características, inclusive uma cicatriz que ele tinha no pé", recorda.


O contato encheu de esperança a família, que logo tratou de trazer para São Paulo o jovem Marcelo dos Santos Rocha, na época com 14 anos. A semelhança era tanta que mesmo a mãe acreditava se tratar de Kennedy, desaparecido então há 10 anos. Apesar de um exame de DNA ter provado o contrário, o garoto viveu com a família por dois anos, antes de retornar a Maceió.


Eles mantêm contato até hoje e na última carta enviada por Marcelo, há três meses, o rapaz ainda se referia a Divanei como mãe e informou que estava bem, trabalhando e "solteiro", como enfatiza a comerciante, que fala ainda que "todos os dias, há 25 anos, eu deito e acordo tentando imaginar onde está meu filho".


Fonte:O Diário de Mogi