quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Moradores de Mauá se recusam a deixar casas interditadas por causa da chuva

Pelo menos 154 casas foram interditadas em Mauá, na região metropolitana de São Paulo, depois da morte de cinco pessoas em desmoronamentos causados pelas chuvas. Grande parte dos moradores desses locais, entretanto, se recusa a deixar as residências mesmo sabendo que, a qualquer nova chuva forte, eles podem se tornar mais uma vítima das tempestades.

Das cinco mortes em Mauá, três ocorreram no mesmo bairro, o Zaira. Duas, em um desmoronamento na semana passada e mais duas na queda de um barranco a poucos metros do primeiro desmoronamento, durante a chuva da madrugada de segunda para terça-feira.
O Zaira é um aglomerado de casas construídas na encosta de alguns morros. Nele, moram milhares de pessoas que, embora vivam sob o risco de acidentes há anos, recusam-se a deixar suas moradias por falta de um outro lugar para morar.
“Não vou assinar coisa nenhuma”, respondeu hoje (12) Daniel de Caldas da Silva à agente da Defesa Civil de Mauá, ao ser informado que sua casa acabara de ser interditada. “Você não me oferecem nenhum lugar para que eu possa ir. Como eu vou sair daqui?”
Daniel mora no Zaira há 13 anos. Construiu com vizinhos e família a sua própria casa, onde ele vive com mais sete pessoas. Entre elas, sua mãe, de 67 anos.
A casa de alvenaria está com sua frente intacta. Porta e janelas novas e o reboco camuflam o perigo. Atrás, porém, acumulam-se quilos de lama que desceram do barranco que desmoronou há dois dias. “Sei que tenho que sair. Já tirei algumas coisas. Mas não tenho onde colocar tudo.”
A situação de Daniel é a mesma de Cícera de Souza Cruz. A casa dela também fica à beira do morro que desmoronou na segunda-feira e foi interditada pela Defesa Civil. Assim como Daniel, ela não cogita deixar o local. “A gente vive com medo, mas não tem saída.”
Na casa interditada moram Cícera e o marido e a irmã dela e o cunhado. O casal teve a casa invadida pela lama. Sabendo do risco de passar a noite ali, Cícera dormiu na casa de vizinhos na noite de ontem. Porém, um furto a fez mudar de ideia.
“Passei um noite fora e invadiram minha casa. Roubaram meu botijão de gás”, disse. “Todas as minhas coisas e da minha irmã estão aqui. Não posso abandonar tudo.”
A prefeitura de Mauá informou que recomenda que todos os moradores de áreas interditadas deixem esses locais imediatamente. Segundo a prefeitura, as famílias desalojadas podem ir para abrigos provisórios montados em escolas ou então para um novo abrigo que será inaugurado amanhã.
A prefeitura também informou que desabrigados poderão ficar no abrigo pelo tempo que quiserem. Ainda de acordo com a prefeitura, as famílias terão direito a auxílio aluguel para que possam arrumar outro local para morar. O valor da ajuda e o tempo que ele será pago, contudo, não foram divulgados.

Vinicius Konchinski

Da Agência Brasil
Em Mauá (SP)  - www.uol.com

Teresópolis (RJ) confirma 115 mortos e decreta estado de calamidade pública

Menos de um ano depois da tragédia que matou mais de 160 pessoas em Niterói e outras 250 no Estado, em abril passado, e um ano após as mais de 50 mortes em Angra dos Reis, o Estado do Rio de Janeiro volta a sofrer com desmoronamentos provocados pela chuva. A Defesa Civil de Teresópolis, cidade mais afetada pelos temporais que atingem a região serrana do Rio desde a última segunda-feira (10), confirmou no início da noite desta quarta-feira (12) a morte de 115 pessoas nos deslizamentos, que atingem principalmente 15 bairros. Segundo as autoridades fluminenses, há mortos também nas cidades de Petrópolis e Nova Friburgo.
Até o momento, foram contabilizados cerca de 1.250 desabrigados e 960 desalojados, 200 feridos e 200 atendimentos de emergência em Teresópolis. Os desabrigados estão sendo encaminhados ao ginásio de esportes da cidade Pedro Jahara, conhecido como "Pedrão" -- mesmo local que está recebendo as doações.
Muitas pessoas ainda estão presas em localidades isoladas, que não podem ser acessadas por automóveis. A Prefeitura de Teresópolis informou que apenas nessas localidades ainda falta luz e água. Nos demais pontos, os serviços já foram restabelecidos.
O prefeito Jorge Mario (PT) assinou durante a tarde o decreto de estado de calamidade pública com o objetivo de pedir recursos emergenciais. Ele, que classificou a tragédia como "a maior catástrofe da história do município", estima que a verba necessária seria da ordem de R$ 100 milhões.
Nesta quarta-feira, o prefeito esteve reunido com o secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Minc, com a presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, e com o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Rodrigo Neves. Espera-se que o ministro de Integração Nacional, Fernando Bezerra, chegue em Teresópolis ainda hoje.
De acordo com Rodrigo Neves, o governo estadual vai disponibilizar ajuda financeira para as famílias prejudicadas. A presidente do Inea disse que, emergencialmente, estão sendo mobilizados equipamentos, escavadeiras, caminhões e pessoal para ajudar a desentupir os rios do município.
A Secretaria Estadual de Saúde também autorizou a instalação de um hospital de campanha, que provavelmente deve ser montado no centro da cidade, que não foi atingido pelo deslizamento.
Para Minc, "a desgraça seria muito maior" se o governo não tivesse retirado das áreas de risco e dado aluguel social a 200 pessoas, no ano passado.
A secretaria municipal de Meio Ambiente informou que o volume de chuvas que atingiu o município durante cinco horas na madrugada foi o equivalente ao esperado no mês. Em 24 horas, foram registrados 140 mm de chuva.
O gabinete de emergência foi acionado pelo prefeito ainda de madrugada e cerca de 800 pessoas estão trabalhando no atendimento aos prejudicados. A expectativa é de que volte a chover, mas não em volume tão grande quanto o que foi registrado durante a madrugada.

Nova Friburgo

Pelos números Defesa Civil de Nova Friburgo, são 38 os mortos na cidade -- parte registrada desde ontem, quando um prédio de pequeno porte desabou sobre casas no bairro de Olaria. Uma mulher também foi levada pela enxurrada dos deslizamentos, e um carro do Corpo de Bombeiros soterrado deixou três bombeiros mortos e três feridos.
O vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, e o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Pedro Machado, foram a Nova Friburgo avaliar as ações que serão tomadas pelo governo do Estado. Pezão informou, por meio da assessoria de imprensa, que todos os helicópteros do governo, inclusive das polícias Civil e Militar, serão disponibilizados para levar bombeiros e equipamentos para as regiões mais castigadas, que são de difícil acesso.
Cada quartel de bombeiros da capital enviou uma viatura com quatro profissionais para reforçar as corporações da região. Também foi mobilizada uma força-tarefa integrada por bombeiros de duas unidades especializadas, o Grupamento de Busca e Salvamento e o 2º Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente de Magé, com experiência nessas missões, inclusive com atuações destacadas nas tragédias do Haiti, Ilha Grande e morro do Bumba, em Niterói.


Petrópolis

Em Petrópolis, a prefeitura confirma 18 mortes. Segundo o boletim da Defesa Civil da cidade, as primeiras vítimas foram dois idosos que tiveram a casa arrastada pela enchente na localidade da Estrada do Brejal.
As novas mortes foram registradas nas localidades de Vale do Cuiabá, Estrada das Arcas, Gentil, Madame Machado e Brejal, mas os números, ressalva nota oficial, “podem passar dos 40 mortos” -- uma vez que equipes da Defesa Civil local procuram pessoas arrastadas pelas águas na região.
Em alguns pontos, a água no local subiu mais de cinco metros de altura. Muitas casas foram destruídas pela força das águas do rio Santo Antônio. Os principais estragos na cidade de Petrópolis foram também em decorrência de alagamentos.
Conforme a Defesa Civil do Estado, o problema na região acontece sempre que chove muito nos municípios de Teresópolis e Nova Friburgo. A água que desce da serra provoca o transbordamento do rio Santo Antônio, causando grandes alagamentos em toda a região de Itaipava e arredores, deixando os moradores completamente ilhados e causando grandes prejuízos. Homens do 2º Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente de Magé também foram mobilizados -- 30 bombeiros de lá vão atuar nas ações de resgate em Friburgo e Teresópolis.
Marinha

No final da manhã, também pela assessoria de imprensa, o governador do Rio, Sérgio Cabral, solicitou ao comandante da Marinha Brasileira, almirante Júlio Moura, aeronaves para o deslocamento de mais tropas e equipamentos do Corpo de Bombeiros, o que será providenciado pela Marinha. Amanhã (13), Cabral irá à região serrana.
O governador disse em nota lamentar “profundamente a perda de vidas” na tragédia causada pelas chuvas e manifestou solidariedade às famílias, inclusive às dos bombeiros que morreram em Nova Friburgo.

Estradas bloqueadas

As fortes chuvas que atingem as cidades serranas do Rio de Janeiro desde o início da semana provocaram quedas de barreiras, transbordamento de rios e, consequentemente, a interdição e o bloqueio parcial de diversas estradas da região. Segundo a Defesa Civil do Estado, até o momento, as cidades de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo são as mais atingidas.
Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ), os esforços foram redobrados na região serrana por conta dos incidentes, a pedido do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). O vice-governador Luiz Fernando Pezão deve se encontrar nas próximas horas com o presidente do DER, Henrique Ribeiro, para vistoria nos pontos afetados e avaliação dos problemas. Veja aqui as estradas com problemas.
Conta corrente em Teresópolis

A prefeitura de Teresópolis já disponibiliza, a partir desta quarta, uma conta corrente no Banco do Brasil para receber doações e ajudar as famílias atingidas pelo temporal. Com o nome "SOS Teresópolis -- Donativos", a conta está disponível na Agência 0741 do Banco do Brasil, com o número 110000-9.
Outras doações, como alimentos, roupas, cobertores, colchonetes, além de itens de higiene pessoal -- como sabonete, pasta de dentes, fralda descartável e absorvente higiênico -- podem ser entregues no ginásio Pedrão (rua Tenente Luiz Meirelles, 211 -- Várzea).


* Com informações de Daniel Milazzo, em Teresópolis, Especial para o UOL Notícias 12/01/2011

Colégio é usado como necrotério em Nova Friburgo; chuva mata 139 no Rio

O major Gilberto Santos, da Defesa Civil de Nova Friburgo --na região serrana do Rio--, afirmou que até as 17h30 haviam sido localizados 21 corpos de vítimas das chuvas na cidade. Desse total, 11 mortes foram registradas no centro e as demais em outras localidades.
 A prefeitura confirmou oficialmente sete mortos, mas a reportagem da Folha contou pelo menos 11 corpos resgatados no centro da cidade. Há relatos de vítimas também em outras localidades.

Os corpos das vítimas estão sendo levados provisoriamente para um colégio da cidade, antes de serem transferidos para o IML (Instituto Médico Legal).
O corpo de Bombeiros não informou o motivo pelo qual os corpos foram encaminhados para o Instituto de Educação de Nova Friburgo, que fica no centro.
O cenário em Nova Friburgo é de caos. A cidade está coberta de lama e muitas pessoas estão desabrigadas. As ruas estão repletadas de pessoas que perlambulam à procura de um abrigo.
DESLIZAMENTO

Até o fim da tarde, ao menos 15 homens do Corpo de Bombeiros trabalhavam no resgate de quatro pessoas que estão sob os escombros de imóveis que desabaram no centro da cidade na madrugada.
Duas das vítimas são dois bombeiros que foram atingidos por um segundo desabamento no mesmo local no fim da manhã.
Quatro bombeiros já haviam sido resgatados e encaminhados para atendimento médico. Três deles foram liberados. Apenas Ronald Lopes, 29, permanece internado no hospital Raul Sertan.
O deslizamento de terra na rua Augusto Spinelli atingiu quatro casas, um prédio de quatro andares, uma loja e um lava-jato. Na localidade, foi registrado o maior número de vítimas das chuvas na cidade. Entre os mortos, dois eram crianças --uma de três e outra de seis anos.
Segundo relatos de moradores, ainda há mais de dez desaparecidos no local.


FAMILIARES

Parentes das vítimas se aglomeravam no local em busca de informações --escassas por conta da queda das redes de telefonia celular na cidade. Entres os familiares, estavam mulheres e filhos dos bombeiros.
Casada com sargento Marcos Antonio Herly da Conceição, 42, Isolina Freiman, 47, estava muito emocionada e surpresa com o soterramento do marido. "Nunca imaginei que isso pudesse acontecer agora. Ele ia se aposentar em 2016. Estou com muito medo, mas, se Deus quiser, vai dar tudo certo."
Também estão sob os escombros os soldado Victor Lembo, 29, e outro soldado identificado apenas como Flávio.
                                                                                                                    Vanderlei Almeida/AFP
Bombeiros e moradores tentam resgatar vítimas em morro de Teresópolis, na região serra do Rio; veja imagens
Bombeiros e moradores tentam resgatar vítimas em morro de Teresópolis, na região serra do Rio

CHUVA


As chuvas que atingiram a região entre a noite de ontem e a manhã desta quarta-feira se aproximaram do esperado para todo o mês de janeiro inteiro, segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Em 12 dias, já choveu em Nova Friburgo 84% a mais do que o volume esperado para todo o mês. Das 9 h de ontem às 9 h desta quarta-feira, foi registrado um índice pluviométrico de 182,8 mm --o índice esperado para janeiro inteiro era 199 mm. Desde o começo do ano, as chuvas acumuladas na cidade são de 366,8 mm. Cada milímetro equivale a um litro de água por metro quadrado.
Já em Teresópolis, o volume de chuva registrado nas mesmas 24 horas chegou a 124,6 mm. Com isso, as chuvas acumuladas no mês chegaram a 219 mm. O esperado para o período era de algo entre 140 e 200 mm.
Em Petrópolis, a região do Vale do Cuiabá foi a mais atingida na cidade, com a água subindo mais de cinco metros de altura. Muitas casas foram destruídas pela força das águas do rio Santo Antônio. O Inmet não tem números sobre a chuva na cidade. A previsão do instituto é que as chuvas fortes continuem nos próximos dias, na região serrana e em outras áreas do Estado do Rio.

                                                                                         Gerson Gonçalo/Agência O Dia

Equipes buscam vítimas de desabamento em Nova Friburgo, região serrana do Rio
Equipes buscam vítimas de desabamento em Nova Friburgo, região serrana do Rio.
AJUDA

O governador Sérgio Cabral conversou no começo da tarde de hoje com a presidente Dilma Rousseff para tratar das medidas emergenciais em relação à tragédia causada pela chuva. Cabral está em férias com a família, fora do país, e só chegará ao Rio amanhã.
O governo editará medida provisória liberando R$ 700 milhões para ajudar os Estados atingidos pelas fortes chuvas dos últimos dias. O Ministério do Planejamento confirmou ter recebido do Ministério da Integração Nacional pedido de crédito extraordinário no Orçamento deste ano.
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, prometeu visitar na tarde desta quarta-feira as áreas afetadas. A visita é uma das medidas do governo federal acertadas ontem pelo ministro Antonio Palocci (Casa Civil) para ajudar o Estado. Ele se reuniu em Brasília com o senador eleito Lindberg Farias (PT-RJ). A conversa foi acompanhada via conferência telefônica pelo governador Cabral.
O vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), coordena em campo as operações dos bombeiros e Defesa Civil. Segundo ele, a situação é muito grave, e em alguns lugares o acesso só é possível por helicóptero. 
                                                                                                      Vanderlei Almeida/AFP
Rua bloqueada por galhos e destroços levados pela chuva em Teresópolis, na região serrana do Rio; veja mais imagens
Rua bloqueada por destroços levados pela chuva em Teresópolis, na região serrana do Rio.

DIANA BRITO
ENVIADA A NOVA FRIBURGO - www. Folha.com