terça-feira, 27 de setembro de 2011

Versão de acusado revolta vítima

Caso Cordeiro teve o braço direito amputado depois de ter sido obrigado a pular de um trem em movimento por skinheads; Dumbão já foi condenado e Capeta será julgado amanhã


Alexandre Barreira


"Na verdade, eu queria muito esquecer tudo isso". A frase é de Flávio Augusto do Nascimento Cordeiro, de 24 anos, uma das vítimas do "Caso Skinhead", ocorrido no dia 7 de dezembro de 2003. Na ocasião, ele e o amigo, Cleiton da Silva Leite, foram obrigados por três supostos integrantes de um grupo de skinheads a se jogarem do trem em movimento na Estação Braz Cubas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em Mogi. O crime chocou a todos e ganhou repercussão nacional.


Os dois rapazes caíram no vão entre a composição e a plataforma da estação. Cordeiro teve o braço direito amputado. Leite sofreu múltiplas fraturas e morreu após ficar uma semana em coma no hospital.


O julgamento do segundo acusado de cometer o crime, Vinícius Parizzato, o Capeta, será realizado amanhã, a partir das 13 horas, no Fórum Central de Mogi. Um dos acusados, Juliano Aparecido de Freitas, o Dumbão, foi julgado e condenado a 24 anos e seis meses de prisão em maio deste ano. No entanto, recorre da sentença em liberdade. O terceiro acusado, Danilo Gimenez Ramos, jamais se apresentou à Justiça e seu julgamento ainda não tem data para ocorrer.


"O que me impressiona mais é o fato de ele (Vinícius) aparecer depois de oitos anos do crime e ainda tentar se passar por vítima, alegando que estava em outro vagão da composição, que eu e meu amigo estávamos ‘surfando’ no trem. É um absurdo e me causa uma revolta muito grande", afirmou.


Cordeiro destacou que existem provas consistentes da ação do trio de skinheads na execução do crime. "Há imagens que provam que eles estavam no trem e faziam parte do grupo. Ele mesmo disse na ocasião que ‘agora Mogi tinha um grupo de skinheads’. Oito anos depois, ele aparece para negar tudo. É muito triste ler e ver tudo o que ele está falando agora", desabafou.


O rapaz, que hoje trabalha como auxiliar administrativo, mantém sua versão inicial de que ele e o amigo foram obrigados pelos skinheads a saltar do trem em movimento após receber ameaças. "Acredito no trabalho do meu advogado e no promotor de Justiça. Não tenho dúvidas do que aconteceu e vou sustentar o ocorrido", afirmou.


Sobre as marcas que o crime deixou, afinal Cordeiro perdeu um braço e seu colega morreu, ele disse que não tem como esquecer. "Vou levar isso para o resto da vida. Na verdade, queria muito esquecer tudo isso. É complicado, mas como temos que passar por isso (julgamento), estou muito confiante e minha expectativa é de que ele seja condenado, assim como já ocorreu com o outro acusado [Juliano]", disse Cordeiro, que por conta da ansiedade de mais um julgamento, passou mal na semana passada e precisou ficar internado.


Questionado sobre a possibilidade de as meninas que acompanhavam ele e seu amigo na viagem serem chamadas pela defesa de Parizzato no julgamento, Cordeiro não está preocupado. "Acho até que vai ser bom para nós porque mesmo depois que fomos obrigados a nos jogar do trem, eles continuaram fazendo ameaças do tipo ‘se eles sobreviveram, vamos voltar para matá-los’ e coisas deste tipo. Elas ouviram tudo. Creio que o depoimento delas será favorável a nós", definiu.


Fonte:O Diário de Mogi