domingo, 26 de fevereiro de 2012

Luzia pode ter serviço oncológico

MARA FLÔRES
A diretoria do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) esteve, nos últimos dias, no Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo, no Bairro do Mogilar. O objetivo da visita foi avaliar a estrutura da unidade, que é cotada pela Secretaria de Estado da Saúde para abrigar o novo serviço de tratamento do câncer a ser implantado no Alto Tietê, o qual vai se basear no modelo do Icesp, considerado uma referência na América Latina e para onde, desde o ano passado, estão sendo encaminhados todos os pacientes da Região que recebem o diagnóstico da doença.


"Já estivemos no hospital de Mogi. Não posso entrar em detalhes, mas conversamos com a Secretaria de Estado da Saúde sobre a possibilidade de ajudarmos na implantação de serviços na Região, tanto de quimioterapia como de radioterapia", revelou Paulo Marcelo Hoff, diretor do Icesp, em entrevista a O Diário na última quinta-feira.


A proposta do Estado em implantar o novo serviço no Alto Tietê se respalda na meta do governo estadual de regionalizar o tratamento do câncer e, assim, permitir com que os pacientes sejam atendidos mais próximos de suas residências. No caso específico da Região, o plano terá de sair do papel mais cedo em razão das irregularidades encontradas no Centro Oncológico de Mogi das Cruzes – Hospital Dr. Flávio Isaias Rodrigues, unidade particular que realiza, via Sistema Único de Saúde, tratamentos de quimioterapia e radioterapia e que era, até então, a referência regional para os pacientes de câncer.


Desde o ano passado, no entanto, a unidade mogiana deixou de receber novos pacientes e, além disso, os cerca de 1,5 mil atendidos ali também correm o risco de serem encaminhados para outros serviços, fora da Região, em razão dos problemas detectados pelo Estado (leia mais na página 3).


Diante da situação, o secretário de Estado da Saúde, Giovanni Guido Cerri, anunciou estudos para viabilizar, em curto prazo, a implantação do novo serviço no Alto Tietê. A princípio, no entanto, não está definida a cidade que vai sediar o centro oncológico, já que além do Luzia de Pinho Melo, o Estado colocou no páreo o Hospital Regional de Guarulhos, unidade que também já foi vistoriada pelo Icesp.


"Se pensar na Região, os dois municípios terão de ser atendidos. Provavelmente, você tem demanda para fazer serviços nas duas cidades. Se vai ser ao mesmo tempo, ou num processo, a Secretaria vai definir, mas é preciso ter serviços atendendo uma região como essa. Mogi é muito importante e Guarulhos é a segunda maior cidade do Estado. Tenho certeza que não passa pela cabeça do secretário Giovanni deixar essa Região sem atendimento. A vinda dos pacientes ao Icesp é uma solução temporária até que a solução final possa ser estabelecida", ressaltou o diretor do Icesp, tido hoje como uma das maiores autoridades médicas na área do câncer e responsável, entre outros pacientes famosos, pelo tratamento dispensado ao ex-presidente Lula. "Não é nosso interesse trazer pacientes da região de Mogi para cá. O que o Icesp se propõe é ajudar a viabilizar serviços na Região", acrescentou.


O diretor do Icesp também se revelou um defensor do atendimento feito próximo da residência do paciente, realidade hoje distante da maioria dos portadores de câncer mas que o Brasil, com destaque para o Estado de São Paulo, começa a mudar.


"Não posso falar pela Secretaria, mas acredito que os técnicos estejam estudando alternativas para um atendimento regional e até que isso aconteça, estamos tentando dar a nossa colaboração. Um número grande de pacientes da região de Guarulhos e Mogi tem sido encaminhado pela Secretaria para o Icesp e não é de agora. Acho que há mais de um ano. Só no último ano, foram mais de mil casos novos dessa Região atendidos aqui no Ciesp", informou Hoff.


Para o médico, não se trata de regionalizar o atendimento ao paciente de câncer apenas para o Alto Tietê, mas sim uma iniciativa a ser adotada em todo o Estado e de forma também hierarquizada. "Alguns tipos de atendimentos precisam ser feitos de forma centralizada ou porque requerem máquinas de muita complexidade, caras, que não tem como distribuir pelo Estado ou, muitas vezes, porque são tratamentos tão raros que não compensa ter um especialista em cada região. Mas é claro que dentro de um programa de regionalização, o básico deve ser feito próximo da residência do paciente", defendeu o diretor. "Não sei dos detalhes, mas acredito que a Secretaria esteja repensando o modelo na Região, mas não que ela vá remover o atendimento. Ela deve estar repensando como ele será feito", opinou, com relação à polêmica de Mogi e cidades vizinhas perderem o serviço que hoje é feito no território mogiano.


"Qualquer tipo de atendimento deveria ser feito mais próximo da casa do paciente. Estamos falando do Estado e a Secretaria tem grupos de estudo tentando fazer com que haja um casamento da demanda com a oferta de serviços. Hoje o Estado tem três grandes serviços, que servem de eixo para o atendimento: Barretos, Jaú e o Icesp. Os três estão entre os maiores da América Latina e vão continuar sendo grandes centros, mas é importante que o atendimento mais cotidiano seja disseminado para outras regiões do Estado", ressaltou Paulo Hoff.


Questionada sobre a escolha da futura sede do novo serviço oncológico, a Secretaria de Estado da Saúde informou que os estudos ainda não foram concluídos. A ideia, no entanto, é que a unidade funcione dentro do modelo do Icesp.


"Não há interesse de fazer com que o Icesp assuma serviços. Mas ele está disponível e tem ajudado no planejamento de serviços que sigam a mesma política de tratamento humanizado e completo. Com a experiência acumulada, por exemplo, estamos ajudando na implantação da oncologia do Hospital Guilherme Alves, em Santos. Visitamos o serviço, ajudamos a redesenhar as plantas, vamos ajudar no treinamento e disponibilizar os protocolos de conduta. E vamos prestar essa mesma ajuda nos serviços que a Secretaria indicar. Acho que o caminho vai ser esse, ter a disseminação dos serviços de radio e químio, com atendimento padronizado. É importante padronizar para garantir a qualidade, garantir que o paciente receba o mínimo necessário", destacou o oncologista.


De acordo com o apurado por O Diário , o Luzia de Pinho Melo possui estrutura física que comporta o serviço de oncologia e hoje já é a referência regional para cirurgias de vários tipos de câncer. Esses diferenciais possibilitam a implantação, em curto prazo, de um modelo de atendimento do tipo do Icesp. A dificuldade maior, segundo consta, está na implantação do serviço de radioterapia, que consumiria vários meses. No entanto, dos 1,5 mil pacientes atendidos hoje no Hospital Dr. Flávio Isaias, estima-se que em torno de 10% necessitem desse tratamento. Consta, ainda, que um percentual significativo dos pacientes atendidos pelo hospital mogiano seja oriundo da cidade de Guarulhos.


Fonte:O Diário de Mogi