domingo, 26 de fevereiro de 2012

Dorneles, o novo ‘bebê’ de Dilma



SOMBRA Dorneles tinha 13 anos quando conheceu Dilma; ele era office-boy e ela, presidente da Fundação de Economia e Estatística, do RS
BRASÍLIA
Anderson Dorneles, 32 anos, um gaúcho chamado de "bebê" e "menino" pela presidente Dilma Rousseff, tem a função de portar e manusear, especialmente nos fins de semana, o iPhone mais temido do Planalto. O ofício que passou despercebido em outros governos e uma relação de trabalho e confidências de quase duas décadas foram suficientes para dar ao assessor, que não concluiu a faculdade de direito, o status de "ministro invisível".
Nos bastidores, ele é a "voz" de Dilma, uma presidente hermética, de poucas palavras e gestos públicos e, ao mesmo tempo, reconhecida por explosões de fúria e pelas queixas constantes.
O assessor tinha 13 anos quando conheceu Dilma. Ele era office-boy e ela, presidente da Fundação de Economia e Estatística, do Rio Grande do Sul. No Planalto, Dorneles ainda tem acesso ao iPad "presidencial", o tablet usado por Dilma, ajuda a filtrar os contatos, afasta os bajuladores influentes, dá recados para militares de alta patente, barra senadores midiáticos, manda avisos para ministros e brinca no Twitter do temor que sua função representa na burocracia do Palácio do Planalto.
"Cuidado, ministro, que hoje é dia que eu posso te ligar", escreveu Dorneles no Twitter para Paulo Bernardo, das Comunicações, num sábado, 29 de janeiro do ano passado. Exatamente uma semana antes, Dorneles brincou com Bernardo: "Me esqueci de te avisar que hoje eu tô de folga, daí o senhor poderia ter dormido até mais tarde".
Além do celular principal, controlado por Dorneles, a presidente tem à sua disposição outros três aparelhos com dispositivo de misturador de vozes que impede a captação por terceiros. Os cinco ajudantes de ordem que se revezam no trabalho e outros assessores influentes do gabinete presidencial podem ser encarregados de portar e atender os telefonemas.
Dorneles faz parte de um seleto grupo em Brasília de "amigos" pessoais da presidente - o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento Econômico) e o chefe de gabinete pessoal, Giles Azevedo, são os outros integrantes. Ao contrário de Azevedo e Pimentel, Dorneles não "pensa" o governo, não discute estratégias e planos. O trabalho dele é estar perto de Dilma. Foi essa aproximação, no entanto, que levou funcionários do Planalto a lhe dar, em um primeiro momento, outro rótulo: o "primeiro-filho".
O espaço de trabalho de Dorneles ajudou a consolidar sua posição de destaque no imaginário do Planalto, onde simbolismos valem mais do que uma placa de bronze no carro. A sala dele, no terceiro andar do Palácio, é mais sofisticada que os espaços ocupados por outros ministros. Não tem ligação direta com o gabinete presidencial, como a de Giles Azevedo, mas ostenta parte das principais obras de arte do prédio.
O assessor é quem mais ouve os resmungos e as reclamações de Dilma. "Ela é implacável com o Anderson", afirma um assessor. O problema é que ele repete algumas palavras ríspidas para outros assessores, completa. Na época em que trabalhava no Ministério de Minas e Energia, Dorneles avisou a Dilma que tinha conseguido um novo emprego em Porto Alegre. Ela pegou o telefone e mandou o empregador voltar atrás da decisão de tirar seu auxiliar.
O assessor é de uma família de baixa renda de Porto Alegre. O pai nasceu em São Borja (RS), mas não se sabe se há algum grau de parentesco com o ex-presidente Getúlio Dorneles Vargas. Só em dezembro de 2010 o assessor conseguiu bancar uma viagem da família para Brasília. A irmã Rita achou "inesquecível" a primeira viagem de avião. E perguntou, depois de conhecer o Planalto e o Alvorada: "Por que todo lugar chique não tem comida?".


Fonte:O Diário de Mogi