domingo, 22 de janeiro de 2012

Faltam clínicas para dependentes


Alexandre Barreira

Cracolândia
A falta de políticas públicas para o atendimento de dependentes químicos em Mogi das Cruzes prejudica o levantamento do número de usuários de drogas na Cidade, principalmente aqueles que entram neste submundo utilizando crack, droga mais barata e devastadora do que a maconha e cocaína.


Para especialistas, as constantes apreensões de entorpecentes registradas na Cidade não têm inibido a ação dos usuários, que são vistos, principalmente à noite, em vários pontos de Mogi, como a Praça Francisco Ribeiro Nogueira, antigo Largo 1º de Setembro, o Parque Botyra Camorim Gatti, pontos de Braz Cubas e do São João ou a Praça Veteranos de Guerra, em Jundiapeba.


Em duas entidades da Cidade, que atendem estas pessoas, pelo menos 80 pacientes recebem atualmente tratamento por causa da dependência do crack. E este número poderia ser ainda maior. De acordo com Paulo Sérgio Custódio, coordenador da Comunidade Missionária Nossa Senhora da Rosa Mística, no Aruã, 40 pessoas com algum tipo de dependência química são encaminhadas para a entidade diariamente. "Geralmente são moradores de rua que já têm a dependência do álcool e passam a usar o crack por ser mais barato e de fácil acesso", destacou Custódio, que também desenvolve um trabalho na Casa do Peregrino, que presta assistência aos moradores de rua, que por via de regra, também entram mais facilmente no vício por meio do crack.


Na entidade que Custódio coordena, sendo ele mesmo um ex-usuário de crack, muitos chegam por conta das condições em que se encontram justamente como moradores de rua, totalmente debilitados. "Passamos as orientações do tratamento, que não depende da nossa vontade e sim da do usuário. Ele precisa ter a consciência que é um dependente e que necessita do tratamento. Se optar pela internação, tem uma série de atividades que precisa seguir à risca", explicou, ressaltando que o tratamento tem duração de cerca de nove meses.


Na Comunidade Missionária Nossa Senhora da Rosa Mística, ligada à Igreja Católica por meio da Pastoral da Sobriedade, que atua na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, os internos têm um rotina voltada à ressocialização, acordam cedo, fazem trabalhos de capinagem, marcenaria e até cuidam de uma horta. "O despertar é às 6 horas e há uma série de atividades que levam a pessoa a realizar o tratamento de forma que, recuperada, possa voltar ao convívio social. Há atividades religiosas, laborais, com o trabalho na horta e trato com alguns animais que há no local, de lazer, como futebol, e acompanhamento psicológico e de um assistente social", explicou, reforçando que ele conta atualmente com 65 internos, sendo 40 por dependência do crack.


Após um determinado período, os pacientes têm um convívio maior com os familiares, que também recebem acompanhamento psicológico. "A família é fundamental para a recuperação do dependente químico. Portanto, sempre que já está em condições, ele passa a receber visitas e, em certos casos, volta ao convívio social, seja trabalhando ou retomando as atividades de sua vida", explicou.


As ações laborais e de acompanhamento psicológico também são realizadas na Associação Recanto Fonte de Luz, que tem duas unidades em Quatinga. Dos internos no local, 60% são para tratamento da dependência do crack. "Eles passam primeiro por uma triagem psiquiátrica, feita quando o paciente não tem um comprometimento mental grave, como esquizofrenia, por exemplo", explicou João Amador Pereira Lima, presidente da entidade, que recebe ‘doações’ dos familiares dos internos, como ele denominou, para realizar o tratamento.


Depois, começa a própria terapia, que consiste diretamente no tratamento do paciente, que aceita os termos e adere aos 12 passos do Narcóticos Anônimos (N.A.), seguidos pela Associação.


Estas etapas do N.A. consistem em determinadas regras, dentre as quais o dependente químico reconhece sua situação e se entrega a um despertar espiritual para poder se recuperar.


Fonte:O Diário de Mogi