sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dilma exige demissão no Dnocs




DESAFIADA Presidente Dilma fica irritada com declarações de Alves
Brasília
Foi a presidente Dilma Rousseff quem exigiu a cabeça do diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes, demitido ontem pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho. A demissão ocorreu depois de o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), ter desafiado o Palácio do Planalto ao dizer que não admitia ver seu afilhado sair com a pecha de corrupto.


Irritada com as declarações de Alves, a presidente mandou que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, entrasse em contato com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, para providenciar a rápida demissão de Fernandes.


Com receio de arrumar mais um problema com o PMDB em tempos de denúncias contra seu ministério, Bezerra pediu a ajuda do vice-presidente da República, Michel Temer, para explicar a situação a Alves.


Gleisi também recorreu a Temer e os dois concordaram que o líder do PMDB não podia dar um xeque mate na presidente. A negociação para abafar a crise foi feita por meio de intensa troca de telefonemas, a partir das 8 horas, já que o líder do PMDB estava em Natal, os ministros, em Brasília e Temer, em São Paulo.


Na prática, a presidente já estava decidida a dispensar Elias Fernandes, mas a atitude de Alves acelerou o processo. Na noite de terça-feira, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, também conversou com Temer e avisou que a situação do diretor-geral do Dnocs era insustentável.


Naquele mesmo dia, o líder do PMDB dissera ao vice-presidente e a Bezerra Coelho que aceitar a degola de seu afilhado, logo depois de o relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) ter apontado desvio de R$ 312 milhões no Dnocs, era o mesmo que uma confissão de culpa.


"O PMDB é governo e nós sempre defendemos os ministros que foram acusados injustamente, como Fernando Pimentel, Fernando Bezerra Coelho e Paulo Bernardo", esbravejou Alves. "Agora, queremos o mesmo tratamento e direito à defesa".


Na manhã de ontem, porém, diante da ponderação de Gleisi de que Dilma queria a demissão antes do fim do dia, Temer telefonou para o líder do PMDB. A chefe da Casa Civil estava preocupada, temerosa de que o episódio deixasse sequelas na relação do partido com o governo.


Na conversa com Alves, o vice-presidente disse que ele cometera um erro político grave, pondo em cheque a autoridade presidencial. O deputado ainda ponderou que suas declarações foram "turbinadas e mal interpretadas", mas admitiu que não havia outra saída: teria de pagar o preço da demissão do aliado.


Como prêmio de consolação, foi dado a Alves a prerrogativa de indicar o substituto. No meio da manhã, foi combinado que Fernandes tomaria a iniciativa de pedir demissão. Mas, como Alves ainda estava inconformado com o carimbo de corrupto pregado no afilhado, o ministro teria de fazer um gesto.


Bezerra comprometeu-se, então, a dar declarações sobre a "lisura dos procedimentos" de Fernandes à frente do Dnocs. Os peemedebistas lembraram que o próprio ministro havia considerado satisfatórias as explicações dadas pelo diretor em resposta às denúncias levantadas pela CGU.


A cúpula do PMDB não se conforma com as acusações de desvio de recursos pela CGU em uma obra que não foi licitada. Foi por isso que o partido exigiu a manifestação do Tribunal de Contas da União (TCU) antes de encaminhar a demissão reivindicada pelo Planalto.


A avaliação geral é de que a CGU está agindo por motivação política e que é o governo quem está por trás, "detonando os aliados". Nas conversas de bastidor, vários peemedebistas citaram a disputa com o PT, mais acirrada a cada dia, como uma das razões para a condenação sem direito à defesa, diferentemente do que aconteceu no caso das denúncias contra o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, chamado por eles de "queridinho da Dilma".


Um dirigente do PMDB diz que o episódio vai deixar sequelas que começarão a aparecer nos próximos 15 dias, a partir da reabertura do Congresso, na próxima quarta-feira.


Na semana seguinte, a bancada na Câmara deverá se reunir para reavaliar a relação com o governo. A previsão é de que vem aí uma agenda de desgaste para o Palácio do Planalto.


A ala descontente com o líder e com o Planalto já fala em "sinalizar" a insatisfação geral a Dilma, convocando Pimentel para esclarecer suspeitas de tráfico de influência em transações feitas pela P-21, a empresa de consultoria do ministro.


Em favor de Alves o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), disse ter recebido um telefonema do colega, admitindo exageros nas declarações. "O líder do PMDB, Henrique E. Alves, me disse que as suas declarações tomaram dimensões que ele não deseja e que vai ajudar na superação do fato", escreveu Teixeira no twitter.


A mensagem foi entregue a Dilma por um dos auxiliares que a acompanharam a Porto Alegre, onde ela participou ontem do Fórum Social Mundial.


Embora até o grupo mais próximo de Alves avalie que ele cometeu grave erro ao se meter em uma queda de braço com o governo, em torno do Dnocs, há mal estar na relação com o Planalto e o clima no partido é muito ruim. Divisões internas à parte, hoje os peemedebistas estão unidos na insatisfação com o governo.


Fonte:O Diário de Mogi