sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Bando mata policial e o seu pai



EMPENHO O delegado Argentino Coqueiro deixa a casa da família; o Ipanema furtado usado pelos criminosos atolou e foi abandonado


LAÉRCIO RIBEIRO
Soldado da Polícia Militar desde 1997, Ligia Maria Mendes Machado dos Santos, de 35 anos, e o seu pai, o aposentado José Mendes Machado, de 66 anos, foram encontrados mortos no início da manhã de ontem, a cerca de 500 metros da casa da família, localizada na Rua Belmonte, 895, no Jardim Piatã, em Mogi das Cruzes, divisa de Suzano e Itaquaquecetuba.


Ligia levou um tiro na cabeça e o seu pai foi baleado no antebraço direito, mas sua morte foi provocada por um profundo corte na cabeça, na altura da nuca.


Os policiais acreditam que os assassinos retiraram com as mãos a massa encefálica do aposentado e a jogaram no meio da rua. O profundo ferimento teria sido feito por uma machadinha ou facão.


O corpo da policial ficou sobre o do seu pai. No local, a Polícia encontrou um pano amarelo com manchas de sangue que cobria o rosto dela, um óculos, um pé de sapato e um projétil deflagrado de uma arma ponto 40, bem como a identidade da soldado.


O tenente-coronel José Francisco Braga acredita que houve execução. Os quatro homens encapuzados, que seriam um maior e três adolescentes, apontados como autores do crime, ainda roubaram dois celulares, o Ford Fiesta prata, ano 2000 DEJ-7692, de propriedade da policial, e a pistola automática ponto 40, da Polícia Militar.


Motivo


O delegado César Donizeti Benedicto, titular em exercício do Setor de Homicídios de Mogi, disse que as investigações seguem na linha de crime passional. A Polícia trabalha com a hipótese do envolvimento do ex-marido da policial, Bernardo José dos Santos, de 43 anos. Ele teria feito acordo com Alessandra Cristina Pimenta Moreira, de 38 anos, ex-mulher de um sargento, com o qual a vítima estaria envolvida.


Consta que o motorista queria dar só uma surra em Lígia, porém longe dos filhos. Já Alessandra é acusada de contratar os criminosos para matá-la. Ela teria até assistido a execução.


Ligia Mendes era separada há três anos do caminhoneiro com quem teve um casal de filhos. Atualmente, ela se relacionava com o sargento, colega de serviço, e vinha recebendo ameaças da ex-mulher dele, Alessandra. Em 30 de dezembro último, ela foi agredida pela rival e deu queixa de lesão corporal dolosa no 62º Distrito Policial, no Jardim Popular.


O delegado Argentino Coqueiro, titular em exercício do 2º Distrito Policial, em Braz Cubas, registrou o crime como latrocínio (roubar para matar), roubo de veículo e localização e apreensão do Ipanema furtado pela quadrilha.


Ele também conversou com o motorista Bernardo José dos Santos, que afastou qualquer envolvimento na morte de sua ex-mulher e do ex-sogro.


Terror


Dalva Francisca Machado, de 62 anos, ainda não sabia, ontem de manhã, que o seu marido e a sua filha tinham sido executados. "Quero que a Polícia encontre os dois", pediu. Afirmou que o seu marido enfrentou os bandidos, dizendo que ia com a filha. "Eles disseram que a minha filha seria morta e o Zé respondeu que também morreria".


Ao lado do neto Gabriel, de 12 anos, Dalva falou sobre a invasão, mas antes apontou para a neta, de 6 anos, que estava dormindo no quarto pela manhã, em meio aos móveis e objetos revirados. O sargento Rodrigues, os pms Sandro, Jailson e outros policiais atenderam a ocorrência.


"A minha filha sai sempre para trabalhar às 4h30. Hoje (ontem) alguns homens tentaram invadir a nossa casa. Ela ficou até às 7h30, o dia já estava claro e, assim, resolveu ir para o serviço. No portão foi pega pelos jovens, que aparentavam ser menores; sei pelo físico e a voz", contou a mulher.


A Polícia Militar foi chamada pelo neto, que usou o celular do avô. Dalva e as crianças foram empurrados para o único banheiro da casa humilde, de quatro cômodos e abaixo do nível da Rua Belmonte, no Jardim Piatã I.


O marido dela, José Mendes intercedeu a favor da filha, que foi agredida em um dos quartos. "Eles pediram dinheiro, falamos que não havia, e então, gritaram que policial tem que ter dinheiro", disse Dalva. Ela, no entanto, falou a O Diário que o ataque estaria relacionado às ameaças que a filha recebeu da rival e do ex-marido. Gabriel contou que "viram a mãe com um livro da Polícia Militar e souberam que era uma policial".


Os quatro marginais colocaram pai e filha no Ford Fiesta, que foi seguido pelo Ipanema BFN-8838. O veículo, que foi furtado e clonado, atolou a 300 metros da casa. O grupo fugiu no Fiesta, deixando para trás o pára-choque com a placa do carro. Após desovar os corpos, os assassinos desapareceram. A Polícias Civil e Militar seguem nas investigações, que se estenderam à Zona Leste de São Paulo no começo da noite.


O delegado César Donizeti adiantou que a expectativa é de que a identificação dos bandidos, contratados da Capital, aconteça nas próximas horas. Com o esclarecimento da participação de cada autor, o grupo poderá ter a prisão temporária decretada pela Justiça.


Fonte:O Diário de Mogi