Noemia Alves
Da Reportagem Local
Oswaldo Birke
Reportagem mostrou atuação de garotas de programa na região central, nas ruas e em prostíbulos
Moradores e comerciantes do centro de Mogi, especialmente do entorno da praça Oswaldo Cruz, reivindicam das autoridades mais segurança. Segundo eles, a sensação de risco no chamado "quadrilátero do pecado" vai muito além da existência dos prostíbulos e das profissionais do sexo, como mostrou reportagem especial do Mogi News na edição de domingo.
Mais do que o constrangimento de ter como vizinhos ao seu estabelecimento mulheres ou travestis com poucas peças de roupas oferecendo sexo fácil, e de ter de aguentar música alta e brigas constantes (infração à Lei do Silêncio), muitos ainda sofrem represálias e ameaças de morte, caso resolvam denunciar o problema à polícia ou à Prefeitura.
Um exemplo de como o medo está presente nas regiões vizinhas aos prostíbulos: de dez comerciantes e entrevistados pela reportagem do Mogi News, poucos quiseram discutir o assunto, outros alegaram que não tinham "nada a declarar" e apenas dois aceitaram dar nome, porém com a ressalva de que seria mantido em sigilo o tipo e endereço do comércio.
"Incomodar diretamente não, porque elas (prostitutas) ficam lá e eu aqui. Aliás, quando fecho meu negócio elas estão começando a sair na rua para buscar o cliente e fazer as abordagens. Indiretamente, isso afeta porque muita gente que sabe que aqui na rua tem prostíbulo já evita passar por aqui em determinados horários e é consumidor, cliente, que a gente perde. Sem contar que, vira e mexe, tem muita briga, gritaria. As pessoas, em determinado dia e horário, evitam passar por aqui", contou um comerciante.
A proprietária de uma padaria e lanchonete no centro comercial da cidade, também entrevistada, diz estar pouco incomodada com a presença de dois prostíbulos próximo ao seu estabelecimento, mas muito mais preocupada com a falta de segurança que, segundo ela, é constante nas imediações da praça Oswaldo Cruz. "À noite, o cenário é completamente diferente do que vocês estão vendo aqui de dia, de degradação: é morador de rua deitado sob as marquises das lojas, são os bêbados brigando por cachaça e as moças oferecendo sexo. Mas isso não incomoda muito porque elas ficam lá e o nosso comércio, aqui. Essa região precisa de segurança, de rondas policiais constantes, afinal é final de parada da trem. Muita gente passa por aqui", diz.
"O problema é que nem todo hotel no centro é usado para prostitutas trazerem seus clientes. Tem estabelecimentos que são ambientes familiares, para estadia de pais e filhos, mas a presença constante de prostitutas e travestis faz com que os bons estabelecimentos percam muitos clientes por causa disso", conta o morador de um hotel na área central.
Outro comerciante, que tem estabelecimento próximo à rua Brás Cubas há cerca de um ano, diz ter "perdido bons clientes e negócios" por conta de um prostíbulo na rua Professor Flaviano de Melo. "A ´casa azul´ abriu há alguns meses e desde então muita gente deixou de passar na rua e no comércio do entorno. Movimento mesmo, agora, só depois das 18 e 19 horas, mas específico para a ´casa azul´", contou.
Enquanto permanecia no local, a reportagem flagrou pouco movimento no imóvel azul de janelas espelhadas. Já na rua Barão de Jaceguai, uma casa lilás, também identificada pela reportagem no fim de semana, estava de portão aberto com uma loira, de trajes curtos, aguardando para atender o cliente. Já num outro hotel naquele "quadrilátero", o movimento de vai e vem era constante, mesmo para uma segunda-feira, às 11 horas. Não é de hoje que a prostituição acontece na área central de Mogi das Cruzes. Estudos feitos pelo historiador e professor universitário Mário Sérgio de Moraes dão conta de que o comércio do sexo, em casas, no centro da cidade, já era constante na década de 1930. "Quando estava colhendo dados para a elaboração do livro ´Nova História de Mogi das Cruzes´ (lançado em 2010 pela editora Mogi News), alguns dos entrevistados relataram que no entorno do largo Bom Jesus, entre os anos 30 e 40, existiam alguns casarões que tinham festas noturnas e que usavam luzes de lanternas vermelhas. Nestas festas participavam bandas de música e também bandas de carnaval. A diferença em relação às atividades relatadas pela reportagem é o retrato social, a começar pela localização, um pouco mais próxima da estação ferroviária, uma área hoje degradada pelo tempo e vandalismo; que inspira violência, de pessoas querendo esconder seus direitos. Antes, essa área da praça Oswaldo Cruz era considerada nobre, com os tradicionais footings", explanou Moraes. Segundo ele, promover policiamento ostensivo seria "tapar o sol com a peneira". "O que precisa é implantar polos e centros culturais e atividades que promovam a revitalização do centro", disse.
O sociólogo Afonso Pola é da mesma opinião. "A repressão apenas vai fazer a situação mudar de lugar. O que precisa é a sociedade discutir abertamente essa prática comercial que existe há muito tempo e que há pouco pensou-se em discutir como lei a profissão de prostituição", comentou. (N.A.)
Fonte:Mogi News