sábado, 11 de fevereiro de 2012

Hospital descarta erros por má-fé


MARA FLÔRES



"Se existe algum erro, vamos admitir esse erro. Mas erro é muito diferente de má-fé". A declaração de Álvaro Rodrigues, dada nove dias após ter vindo à tona a notícia de que a Secretaria de Estado da Saúde recomenda o descredenciamento do Centro Oncológico – Hospital do Câncer "Dr. Flávio Isaias Rodrigues" em função de uma suspeita de fraude de R$ 20 milhões, expressa a posição da diretoria da unidade de saúde mogiana frente às denúncias de irregularidades que vão da cobrança em duplicidade por procedimentos até a exacerbação na conduta médica. Em entrevista exclusiva a O Diário, o diretor do Hospital do Câncer falou ontem sobre o funcionamento da clínica, deu justificativas para os problemas apontados pelo Estado, admitiu a existência de algumas cobranças questionáveis mas, no entanto, negou qualquer tipo de fraude e, de forma indireta, criticou a conduta do Governo no caso, de quem espera a análise da defesa apresentada.


"Até agora, sabemos o que tem acontecido por meio da imprensa ou do secretário adjunto de saúde, que tem feito contatos com o Estado. Mas a direção do Hospital do Câncer mantém a posição de que não houve qualquer tipo de fraude durante esses anos", declarou Rodrigues, que é filho do médico que é fundador e empresta o nome para a unidade, Flávio Isaias Rodrigues, afastado temporariamente das atividades. "O relatório preliminar que veio para nós fala de irregularidades, mas não fala nada de desvio de verbas. Não tivemos a informação de desvio", acrescenta.


De acordo com o relatório dos auditores da Saúde do Estado, a principal irregularidade encontrada no Hospital do Câncer – presente em 62 dos 88 prontuários com problemas – é a duplicidade de cobrança, referente a um mesmo procedimento cobrado do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos convênios particulares. O diretor nega, explica que os casos referem-se a pacientes que fazem uso de medicação oral domiciliar, a qual não tem cobertura dos convênios, e informa que todos esses procedimentos foram previamente autorizados pela Secretaria de Estado da Saúde.


"Isso significa que ela mesma (a pasta estadual) autorizou os procedimentos. Portanto, evidências de dupla cobrança não têm. O que existem são pacientes com convênio que vem se tratar pelo SUS porque essa medicação domiciliar não é coberta pelos convênios. Existe até um movimento político para que as empresas de saúde dêem cobertura para esse procedimento", ressalta. "Não tive tempo de me aprofundar muito, mas estimo que menos de 10% dos nossos pacientes, que estão em tratamento pelo SUS, tenham convênio", informa ele, ao comentar que o hospital atende a 1,5 mil pacientes, sendo que até 40% desse total é atendido através de convênios particulares e, o restante, via SUS.


"Nós tivemos pouco tempo para preparar a defesa. Foram 15 dias e nós achamos melhor não pedir mais tempo porque o teor das respostas estava bem claro. A gente acredita que em três ou quatro casos a cobrança poderia ser discutida posteriormente, o que é uma medida administrativa comum. Ou seja, a gente acha que três ou quatro casos dariam margens para discussão, mas não nessa quantidade apontada pelos auditores", admitiu Rodrigues.


Segundo o diretor, também nunca houve cobrança do paciente e do Sistema Único de Saúde (SUS) num mesmo procedimento. Rodrigues esclarece que os quatro casos apontados pelos auditores do Estado foram devidamente explicados na defesa apresentada pelo Hospital – para O Diário, as explicações ficaram restritas a três: o primeiro fez uma consulta particular e, depois, seguiu o tratamento pelo SUS; outro, o paciente encerrou o tratamento pelo SUS há alguns meses e, depois, pagou uma consulta particular; o outro, colocou recibo de um paciente no prontuário de outro. "Tudo foi legalmente cobrado", afirma o diretor.


Com relação aos apontamentos de conduta exarcebada, segunda principal irregularidade detectada pelos auditores estaduais e presente em 21 prontuários onde o Estado acredita que a cirurgia foi superior a indicada para o caso, o diretor argumenta que, em oncologia, o médico só pode tomar uma decisão sobre o melhor procedimento no ato cirúrgico. "Muitas vezes, por melhor que seja o exame de imagem, só a hora que abre é que se vê a extensão do tumor", sustenta Rodrigues. "Na grande maioria das vezes, uma cirurgia oncológica é radical com o intuito de minimizar qualquer chance de reincidência. O câncer é uma doença grave, que ninguém quer ter e muito menos ser operado", complementa o oncologista Ricardo Motta.


Sobre as pesquisas realizadas sem consentimento do paciente ou responsável, o médico Daniel Grabarz, coordenador da pesquisa clínica do Centro Oncológico afirma que todos os estudos foram feitos com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dos comitês nacionais de investigação e de todos os pacientes. "Temos os prontuários de pesquisa clínica, que são enviados em cópia para os prontuários da clínica e nenhum paciente foi tratado sem o consentimento do mesmo. O que acontece é que, na época auditada, alguns prontuários não tinham as cópias na clínica, mas todos eles foram assinados e constam no prontuário da pesquisa clínica, que é o recomendado", justifica.


Fonte:O Diário de Mogi