quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Insatisfeita, base paralisa votações



TENSÃO A crise com a base parlamentar atingiu o seu maior ponto de tensão nesses primeiros oito meses de governo da presidente Dilma


BRASÍLIA


Um dia depois da ação da Polícia Federal no Ministério do Turismo, comandado pelo PMDB, a tentativa da presidente Dilma Rousseff de se aproximar de seus aliados na Câmara não surtiu efeito e a crise com a base parlamentar atingiu o seu maior ponto de tensão nesses primeiros oito meses de governo.


Menos de três horas depois de Dilma reunir o Conselho Político, chamar os ministros de competentes e fazer afagos aos políticos, os deputados da base entraram em obstrução na Câmara e se negaram a votar qualquer proposta até a próxima semana.


O movimento claro de insatisfação com a presidente e com o seu comando político é fortemente influenciado pelas recentes "faxinas" promovidas em ministérios e a demora na liberação de emendas parlamentares ao Orçamento. A presidente, ao abrir a reunião do conselho convocado para discutir a crise econômica internacional, falou da necessidade de estreitar as relações com a base.


Na linha de gentilezas, a presidente também disse aos líderes e presidentes de partidos aliados que a liderança de um País como o Brasil é feita pela presidente da República, mas que ela tinha consciência de que essa liderança é exercida em conjunto com os agentes políticos, segundo relataram participantes do encontro.


A própria presidente usou em seu discurso a crise entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com o Congresso americano. Ela disse que o exemplo americano é de impasse político, mas que ela acredita "na maturidade de nossos políticos para enfrentar a crise", relatou um deputado presente à reunião.


Mesmo depois de inúmeras negociações com o parlamento, Obama não conseguiu aprovar da forma como desejava o aumento do teto de endividamento do País. Na sexta-feira passada, os Estados Unidos teve sua nota de crédito rebaixada pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s.


À tarde, depois de terem ouvido novamente as explicações econômicas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a crise, aliados ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), de que não haveria mais votações nesta semana. Nesse movimento estavam o PTB, o PP, o PR, o PSC e o PMDB. "Não dá para a presidente fazer de conta que está tudo bem. Não está", disse um aliado.


O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), afirmou que, além da crise internacional, há um problema dos municípios brasileiros que precisa ser resolvido. "O município mais próximo de Nova York fica a 10 mil quilômetros", disse. Os aliados lembram que ouviram a promessa do governo de que, na volta do recesso, a questão de liberação dos recursos de emendas destinadas a obras nos municípios estaria resolvida.


"O governo alega que não pode gastar neste ano, porque gastou muito no anterior e não poderá gastar no próximo, por conta das eleições. Quando afinal o prefeito vai conseguir construir uma escola, uma quadra de esportes?", reclamou outro aliado.


Os líderes querem que o governo assuma o compromisso de fixar um calendário para liberação das emendas do Orçamento deste ano e os recursos de emendas de orçamentos anteriores inscritos no chamado restos a pagar. Na reunião, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) chegou a externar para a presidente a necessidade da liberação das emendas.


O pico de insatisfação da base coincidiu com a divulgação do resultado de pesquisa de opinião apontando queda na popularidade da presidente Dilma. Quanto a isso, um petista se disse preocupado com a possibilidade de a base se aproveitar desse fato, caso a linha continue de queda, para endurecer na relação com a presidente.


Fonte:O Diário de Mogi