domingo, 19 de junho de 2011

Violência doméstica Mais de 200 crianças estão em abrigos

Um deles é a Associação São Lourenço, em Taiçupeba, que cuida de 80 vítimas retiradas do âmbito familiar
Willian Almeida
Da Reportagem Local
Adriano Vaccari

Na Associação São Lourenço, em Taiaçupeba, 120 voluntários atendem 80 crianças, que recebem educação de qualidade com base nos princípios éticos e de cidadania
Os dias que antes começavam tensos agora são iniciados com orações. Os gritos e os abusos deram lugar ao afago e à troca de carinho. O trauma da violência aos poucos sai de cena para dar lugar aos sonhos para o futuro: ser médico, advogado, juiz ou jogador de futebol. Pelo menos para as 80 crianças que vivem na Associação São Lourenço, em Taiaçupeba, a vida agora é assim. Retiradas do âmbito familiar por agressões cometidas por familiares, elas são apenas uma parte das 215 que atualmente vivem nos cinco abrigos do município.


As situações que levaram cada uma dessas crianças, algumas já adolescentes, aos abrigos são as piores possíveis: agressão física, sexual, psicológica e moral. "Elas chegam achando que são culpadas pelo que ocorreu de ruim", disse o vice-presidente da associação, Maurizio Alesso, há 22 anos missionário do Grupo Familiar Comunitá Cenacolo, entidade católica de origem italiana.


Era 14h20 da última quinta-feira quando a equipe de reportagem chegou à associação. O local é bonito, tem oito casas grandes inspiradas na arquitetura italiana, um campo de futebol, horta orgânica, serralheria, marcenaria, padaria, lavanderia, capela e playground. Não mais do que dez crianças estavam na propriedade. As demais estudavam em uma escola católica da cidade. Ao todo, 120 voluntários trabalham na associação. São missionários vindos da Itália, Áustria, Polônia, França e México que vivem no local. Há sempre um casal de missionários responsável por uma das casas onde vivem grupos de 10 a 12 crianças, em média. "Deixamos um grupo menor em cada casa para que eles vivam em família, independentemente", afirmou Alesso. Pouco a pouco, as crianças vão aparecendo. Todas bem-educadas, passam e desejam boa tarde. Entre um exercício e outro de tabuada, elas contam que estão felizes. 
"O que fazemos aqui quando elas chegam trazidas pela Justiça é um trabalho difícil, mas não é impossível quando há amor. Aqui, as crianças e adolescentes aprendem a ter ética e dignidade. Aprendem que são amados. Pouco a pouco vamos transferindo os traumas, substituindo-os por alegria, felicidade". Vários já deixaram a instituição, constituíram família e hoje trabalham em diversas empresas. "95% seguem um bom caminho e voltam com as suas famílias".


O que se vê por lá é paz. E situações peculiares como uma casa com crianças mogianas falando italiano (quase todos falam), cuidada por uma austríaca e um polonês, onde a música no rádio é o bom e velho samba.


Fonte:Mogi News