domingo, 19 de junho de 2011

Preferência de Dilma por senadores irrita deputados

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Dilma Rousseff vai nomear um novo líder para representá-la no Legislativo. O governo dispõe de três cadeiras de líder. Uma está vaga.
A presidente pende para a escolha de um senador. Informados, os deputados governistas irritaram-se.
Dilma acaba de renovar a equipe que a assessora no Planalto. Na Casa Civil, acomodou uma senadora: Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Na Secretaria de Relações Institucionais, que cuida da articulação política, trocou o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) por Ideli Salvatti, uma ex-senadora.
Se nomear um senador para líder, queixam-se os deputados, Dilma vai tonificar a sensação de que dá de ombros para a Câmara.
Hoje, a presidente é representada nas sessões da Câmara pelo líder Cândido Vaccarezza (PT-SP). No Senado, fala pelo Planalto Romero Jucá (PMDB-RR).
Falta indicar um líder para as sessões mistas do Congresso, que reúnem deputados e senadores num mesmo plenário. O PMDB reinvida a vaga.
Em privado, o vice-presidente Michel Temer levou a Dilma o nome do deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS). Ela torceu o nariz.
Dilma pende para o nome do senador: Eduardo Braga (PMDB-AM). Alega que lhe chegam rumores de que o “aliado” anda insatisfeito.
Ex-governador do Amazonas, Braga ensaia no Senado uma atuação “independente”. Dilma quer prestigiá-lo para evitar que desgarre.
Além de Temer, também o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) levou ao gabinete de Dilma o nome de Mendes Ribeiro.
Deu-se numa conversa que precedeu a nomeação de Ideli para o posto de articuladora política do Planalto.
O PT da Câmara ainda tentava, àquela altura, manter sob seus domínios o assento que era de Luiz Sérgio.
Maia sugeriu que Vaccarezza fosse para o Planalto. No lugar dele, assumiria a liderança do governo na Câmara o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).


Para contemplar os interesses do PMDB, Maia endossou a sugestão de que Mendes Ribeiro fosse guindado à liderança do governo no Congresso.
De acordo com o relato feito por Maia a petistas, Dilma reagiu assim: “Quem nomeia ministros e líderes do governo sou eu”.


O condomínio governista soma na Câmara algo como 400 dos 513 votos. No Senado, a bancada do Planalto é estimada em 50 dos 81 senadores.
Daí a insatisfação dos deputados. Alegam que a preferência de Dilma por senadores injeta na equação legislativa do governo um desequilíbrio indesejável.
Dilma faz ouvidos moucos para o burburinho que lhe chega da “cuia” emborcada para cima, desenhada por Oscar Niemeyer para abrigar o plenário da Câmara.


Curiosamente, é ali que foram engatilhadas as duas principais encrencas que assediam o governo: a Emenda 29 e a PEC 300.
Numa, os deputados ameaçam votar antes do recesso de julho o reforço ao caixa da Saúde. Querem fazer isso sem dizer de onde virá o dinheiro.
Noutra, cogitam concluir em agosto, após o recesso, a votação da proposta que cria um piso nacional para PMs e bombeiros. De novo, sem indicar a fonte dos gastos, compartilhados entre União e Estados.
Juntas, as duas “bombas” produzirão no Tesouro Nacional um estrago estimado em R$ 55 bilhões. Uma cifra que supera os R$ 50 bilhões que o governo passou na faca.  


Escrito por Josias de Souza


Fonte:Folha.com