domingo, 19 de junho de 2011

Dilma trabalha para debelar crise

BRASÍLIA

Sob intensa pressão do PT de São Paulo e do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), logo depois da demissão de Antonio Palocci da Casa Civil, a ponto de temer pela governabilidade, a presidente Dilma Rousseff fez o que muitos duvidavam que fosse capaz: passou a trabalhar intensamente nos bastidores da política para debelar crises.


Nos últimos 10 dias Dilma fez mais política do que nos cinco primeiros meses de governo, contabiliza um auxiliar. Primeiro, escolheu a senadora Gleisi Hoffmann para substituir Palocci de forma solitária, sem consultar nem sequer seu padrinho Luiz Inácio Lula da Silva - só comunicou a decisão. Depois, ignorou uma articulação feita pelo presidente da Câmara com petistas de São Paulo para levar o líder do governo, Cândido Vacarezza (PT-SP), para a coordenação política. Optou pela ex-senadora Ideli Salvatti.


Em seguida, a presidente Dilma exigiu de Vacarezza, do líder do PT, Paulo Teixeira (SP), do ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do ex-presidente nacional do partido Ricardo Berzoini (SP) que assinassem uma trégua. Afirmou que a crise alimentada pela briga deles desde a eleição de Marco Maia, em fevereiro, ameaçava contaminar o governo, a base aliada e o próprio partido.


Por fim, Dilma resolveu acertar as contas com Marco Maia, que ameaçava votar dois projetos - a regulamentação da emenda constitucional 29 e a Proposta de Emenda Constitucional 300 - que podem causar um rombo de R$ 40 bilhões no Tesouro. De acordo com funcionários do Planalto, foram quatro conversas, as três primeiras muito tensas, ríspidas, chamando o presidente da Câmara à responsabilidade. A última conversa, na quinta-feira, já foi mais tranquila.


O lado de Marco Maia confirma os quatro contatos. A diferença, na versão do presidente da Câmara, é quanto à forma. Segundo assessores do deputado gaúcho, todas as conversas foram tranquilas. O certo é que, aos gritos ou não, Dilma não se deixou emparedar pelo presidente da Câmara. E arrancou dele o compromisso de que não facilitará a votação das propostas.


A regulamentação da emenda 29 pode causar um rombo de R$ 8 bilhões no Tesouro. Ela vai definir os gastos mínimos da União para a área da saúde e o que é esse conceito. O rombo da PEC 300 é calculado em R$ 32 bilhões. Essa emenda constitucional unifica o piso salarial das polícias e faz com que a União compense os gastos dos Estados. Na opinião de Dilma Rousseff a aprovação das duas propostas inviabilizaria seu governo.


O senador Jorge Viana (PT-AC) atribui à cobiça eleitoral de seu partido e às desavenças internas a causa da maior crise do governo de Dilma Rousseff, que começou com o escândalo envolvendo Palocci em suspeita de enriquecimento ilícito e continuou com a briga dos petistas de São Paulo.


Ele considera ainda que o PT tem o "complexo de Mike Tyson". "Nós somos muito bons em atacar. Mas, se somos atingidos, ficamos iguais ao Mike Tyson, paralisados, até o nocaute", disse Viana. Ele quer que o PT pare de brigar com o PMDB. "Temos de ter a consciência de que casamos com o PMDB. Eles têm os mesmos direitos. Não podemos ficar querendo tudo para nós." Jorge Viana defende a entrada do vice-presidente Michel Temer nas negociações e no conselho político do governo.


O deputado Ricardo Berzoini é um dos que integram a lista dos brigões. Para ele, Dilma não precisa se preocupar com o PT, porque o partido não a trairá. "Não há na nossa história um caso de traição. A bancada resolve suas diferenças e seus problemas internamente. Na hora de votar, está sempre com o governo". Não é bem assim. Na votação do Código Florestal, dos 63 votos petistas, 35 contrariaram a orientação do partido e do Planalto.


Por isso, há entre os próprios petistas e entre os partidos aliados a impressão de que a paz que Dilma conseguiu na última semana pode ter prazo para terminar. Na definição de um petista, o problema não pode nem ser considerado da bancada, mas da própria Dilma. De acordo com ele, a presidente não nomeia os indicados, nem pelo PT nem pelos aliados, enrola na liberação das emendas dos parlamentares e no pagamento a convênios com Estados e municípios.


Fonte:O Diário de Mogi