sábado, 11 de junho de 2011

Dilma muda equipe e enquadra PT

MUDANÇAS Os ministros Ideli Salvati e Luiz Sérgio anunciam durante coletiva a troca de suas pastas


BRASÍLIA



Depois da demissão, na terça-feira, do ministro Antonio Palocci da Casa Civil, a presidente Dilma Rousseff fechou a semana completando a nova equipe de articulação política e enfrentando a bancada do PT na Câmara. Contra a vontade do partido, a presidente nomeou a ex-senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para a Secretaria de Relações Institucionais e deu um destino surpreendente para Luiz Sérgio (PT-RJ), o alvo da fritura dos colegas nos últimos dias.


Apesar de se dizer sem condições de continuar no governo, Dilma impôs a transferência de Luiz Sérgio das Relações Institucionais para o Ministério da Pesca - onde estava Ideli.


Assessores de Dilma disseram ontem que a montagem da nova equipe política foi um "recado explícito" ao PT, mostrando que ela "não aceita prato feito". A presidente considerou "desrespeitoso" o comportamento de deputados do partido ao atacar o deputado Luiz Sérgio e tentar impor o nome de Cândido Vacarezza (PT-SP) para as Relações Institucionais.


Além das manobras em cima dos petistas, Dilma cooptou previamente o PMDB escolhendo o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) para o cargo de líder do governo no Congresso.


A nomeação do novo ministro da Pesca teve, segundo resumo feito por um interlocutor da presidente, várias serventias políticas: 1) ajudou a castigar o PT; 2) serviu de prêmio de consolação para Luiz Sérgio; 3) e poupou o ministro de regressar à Câmara, onde estão os colegas de partido que provocaram seu desgaste no governo e de voltar a ser apenas um de 513 deputados.


Dilma repudiou avaliações dos deputados do partido, apostando que Ideli cairá em poucos meses. A presidente espera que a forma como agiu para abafar a crise tenha um "efeito pedagógico" e funcione como um "aviso aos navegantes": ela não aceita tutela ou imposições do PT.


Em conversas reservadas, Dilma confidenciou que está "aliviada" com o fim da "pior semana do governo" - até agora. A primeira mudança no grupo político do governo ocorreu na terça-feira, quando a presidente demitiu o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci - questionado por conta do aumento do patrimônio pessoal -, trocando-o pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-SC).


Agora, um triunvirato feminino e com bases políticas na região Sul - Dilma (RS), Gleisi (PR) e Ideli (SC) - irá negociar propostas do governo com senadores e deputados.


A equipe de articulação política de Dilma passa a ser composta por uma petista com apenas cinco meses de experiência no Senado e uma outra que marcou seus sete anos na liderança do governo Lula no Congresso pelos embates que lhe deram fama de mulher de temperamento difícil na relação com parlamentares. Ideli era identificada como uma parlamentar "da tropa de choque" do Planalto.


O triunvirato feminino do governo na articulação vai definir, na próxima semana, o modelo das conversas com os deputados e senadores. A presidente entende que Ideli precisa e terá mais autonomia que Luiz Sérgio. Os pleitos dos parlamentares serão encaminhados diretamente para Dilma.


Nos cinco meses que permaneceu na Secretaria de Relações Institucionais, Luiz Sérgio tinha de passar os pedidos pelo crivo de Antonio Palocci, da Casa Civil, o ex-homem forte do governo que respondia na prática pela articulação com lideranças do Congresso.


Em entrevista depois da nomeação, a nova ministra das Relações Institucionais disse: "Não sei se serei uma Idelizinha paz e amor, mas vou negociar muito", uma referência à fama conquistada no Senado. Luiz Sérgio, por sua vez, disse que não sentia "mágoa" dos colegas petistas na Câmara e tentou demonstrar a importância da pasta da Pesca para sua carreira política: "É um ministério muito importante para o Estado do Rio de Janeiro e para o município de Angra dos Reis, onde eu fui prefeito."


Em conversas por telefone, Dilma discutiu o nome de Ideli Salvati com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desta vez, os interlocutores do Planalto tentaram minimizar possíveis interferências do ex-presidente nas decisões do governo Dilma. Nos últimos dias, a presidente teve de reforçar por meio de discursos e conversas de bastidores sua autoridade e independência.


Na noite de quinta-feira, Dilma conversou no Alvorada com o vice-presidente Michel Temer. Ela já tinha tomado a decisão quando, na manhã de ontem, disparou telefonemas para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e o deputado Cândido Vacarezza (PT-SP).


Nas conversas, Dilma falou do racha do PT na Câmara, pontuou que precisa do PMDB e frisou que conta com a colaboração do partido.


Fonte:O Diário de Mogi