quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Trajes informais substituem ternos



VISUAL: Edgar Passos, Fernando Muniz, Jorge Paz, Mario Berti, Marco Bertaiolli e Marco Soares (sentido horário) usam trajes mais despojados / Fotos Arquivo


A tradicional imagem do político engravatado está ficando para o passado. O terno, obrigatório em determinadas solenidades, confere às autoridades aspecto elitizado, um tipo de imagem cada vez mais rejeitada por quem ingressa na vida pública. Esta realidade pode ser percebida com clareza ainda maior no período eleitoral, quando o objetivo dos candidatos é se aproximar da população. Nas campanhas, o perfil dos concorrentes é cuidadosamente construído pelos profissionais de marketing, especialmente quando estão em jogo cargos altos como os de governador de Estado e presidente da República. Nas eleições municipais, algumas candidaturas também se atêm a este tipo de preocupação. Estratégia ou não, em Mogi das Cruzes todos os candidatos que concorrem ao cargo de prefeito estão optando pelo uso de roupas informais. O Diário analisou os visuais escolhidos pelos prefeituráveis para aparições públicas neste início de campanha.
Quando era deputado estadual, o prefeito Marco Aurélio Bertaiolli (PSD), que neste ano concorre à reeleição, comumente usava ternos em seus compromissos. Nas eleições de 2008, ao concorrer para o Executivo pela primeira vez, abandonou a gravata e nunca mais a colocou de volta. Agora, as roupas sérias são utilizadas apenas em compromissos de muita formalidade. Na atual campanha, ele tem ido às ruas da mesma forma com que é visto corriqueiramente na Prefeitura. As camisas de mangas compridas, usadas com cinto e sapatos sociais, ganham ar descontraído ao serem combinadas com as calças jeans. Apesar de informais, as roupas bem passadas e o cabelo sempre muito aparado não tiram de Bertaiolli o visual arrumadinho de “bom moço”, que a julgar pela popularidade apontada nas pesquisas, muito agrada ao eleitorado.
O advogado Marco Antonio Pinto Soares Junior (PT) – que aguarda posição da Justiça Eleitoral sobre a situação de sua candidatura - também surgiu no cenário político mogiano usando os tradicionais terno e gravata, exigidos pela profissão. Era assim que ele comparecia aos eventos das mobilizações populares apoiadas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), como por exemplo, as reuniões das lutas contra o “Lixão” e o “Cadeião”.
A partir do último ano, no entanto, quando recebeu os primeiros convites para sua candidatura, o petista começou a optar por um visual mais informal e abandonou o gel no cabelo e o penteado usualmente impecável. Na atual campanha, tem adotado postura mais descontraída e é visto nas ruas de camisa, calça jeans e tênis, além do broche vermelho no formato da tradicional estrela do partido.
O candidato do PPS, Fernando Muniz, é bacharel em Direito e trabalha como assessor jurídico em São Paulo. Em suas primeiras aparições públicas nesta campanha, tirou do guarda-roupa os mesmos ternos que usava para trabalhar, como ocorreu na convenção do partido no final de junho. Em visita à sede de O Diário, alguns dias após a oficialização da candidatura, usou gravata e suéter debaixo do paletó. Em pouco tempo, no entanto, mudou de estratégia. Em julho, quando visitou o calçadão de Mogi e comeu pastel no Mercadão, estava usando camiseta polo branca por cima da calça jeans. Apenas o sapato social destoava do visual casual, bastante apropriado para o jovem candidato que tem apenas 24 anos.
O professor Jorge Leonardo Paz, do PSOL, vai para as ruas fazer campanha exatamente como é. A simplicidade das roupas que usa combina perfeitamente com seus ideais de esquerda. O candidato, que frequentemente carrega uma mochila nas costas, gosta de usar tênis e calças jeans. Boa parte das camisetas que escolhe para fazer corpo a corpo é do próprio partido, o que não indica marketing pessoal, mas simbologia evidente. A imagem de um homem pouco vaidoso, com o cabelo sem corte, reflete o discurso socialista do prefeiturável, que defende uma “inversão de prioridades” na implantação de políticas púbicas em defesa do “povo pobre”.
Edgar Luiz de Oliveira Passos, que é candidato pelo PSTU e também recorre da decisão judicial de indeferimento de seu registro, usa roupas básicas. Ele gosta dos tradicionais camiseta, calça jeans e tênis brancos (despreocupadamente sujos). Nos dias mais frios, o candidato usa jaquetas grandes. O símbolo do partido é comum nas blusas ou em broches exibidos pelo prefeiturável de ideias bastante radicais. Nada mais apropriado para um jovem de 28 anos, que defende uma Cidade governada com a priorização das classes trabalhadoras, em detrimento dos interesses da iniciativa privada e das grandes empresas.
Já o visual de Mário Berti Filho (PCB) é difícil de ser definido. Em recente entrevista a O Diário, usou camisa social azul (mal passada, diga-se de passagem) e gravata vermelha. Na ocasião, informou que pretende construir uma imagem mais séria para convencer o eleitor de que não é mais aquele candidato radical que usou chapéu de cangaceiro em eleições passadas.
Nas ruas, tem usado calças de sarja com camisa de manga curta e, nos pés, sapatos sociais. Mas, também não é difícil encontrá-lo circulando pela Cidade com visual bem menos pretencioso. O “novo perfil” do candidato parece ainda estar em construção. De certo, apenas o cabelo tingido de preto para esconder os 63 anos de idade.
Proximidade
O visual informal aproxima os candidatos dos eleitores. Esta não é uma descoberta nova e já era utilizada no passado por políticos como o ex-governador Mário Covas, que comumente dispensava o paletó para eventos com grande presença de público. A estratégia se tornou mais comum depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito e se tornou o maior fenômeno de popularidade do País com seu jeito simples de agir, falar e se vestir. Daí em diante, políticos que tradicionalmente optavam pelo uso de terno e gravata em compromissos públicos, passaram a aparecer em inaugurações e lançamentos de obras vestidos de forma mais simples. Um dos casos mais próximos desta realidade é o do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que em suas visitas ao Alto Tietê tem subido aos palanques com trajes pouco formais.
O publicitário Duda Lima explica que as roupas usadas pelos candidatos são alvo de preocupação dos profissionais de marketing durante as campanhas. Ele conta que, no passado, os políticos usavam ternos porque a intenção era passar uma imagem de seriedade, de importância, de compromisso com o trabalho. “Ninguém usa gravata para uma atividade de lazer. Então, há essa mensagem subliminar estabelecida de que o terno indica que o candidato está preparado. Acontece que ele também pode ser associado à imagem de candidatos almofadinhas, que não amassam barro, que têm pouca relação com os pobres. Então, muitos políticos rejeitam esse perfil atualmente”.
O sociólogo Afonso Pola explica que o efeito das roupas dos candidatos nas campanhas já é algo perceptível desde a década de 1980, quando os partidos começaram a investir mais pesadamente em marketing. “Faz tempo que, em campanha, os candidatos têm se apresentado de forma mais descontraída. Isso tem uma certa coincidência com a valorização do marketing. Hoje, tudo que é feito em política traz um enorme conceito mercadológico. O traje mais formal - o paletó e gravata - coloca uma distância entre os interlocutores, o que não ocorre quando o candidato usa roupa mais informais”.(REPORTAGEM: JÚLIA GUIMARÃES)

Fonte:O Diário de Mogi