domingo, 6 de maio de 2012

Tráfico é o crime que mais cresce


Operação Progresso da Polícia Federal desmantelou uma quadrilha que atuava no tráfico de drogas na região Sul do Brasil. Foto: PF/DivulgaçãoSÃO PAULO



O tráfico de drogas é o crime que mais cresceu nos anos 2000 no Estado de São Paulo. O número de flagrantes feitos pela polícia paulista é hoje quatro vezes maior do que há 12 anos. Foram cinco casos por hora no primeiro trimestre, graças a uma rede de distribuição cada vez mais pulverizada, que atrai pelo lucro fácil jovens e idosos, homens e mulheres, sem distinção.

Especialistas são unânimes em afirmar que há droga à vontade em circulação. "É evidente que a repressão aumentou, mas também deve ter aumentado a quantidade de drogas. Não se pode dizer que é apenas a ação da polícia a responsável pelo crescimento no número de flagrantes, porque aí poderia ter aumentado o preço. São as duas coisas", diz o pesquisador em Segurança, Guaracy Mingardi.


A queda significativa no preço deixa claro que há mais entorpecente em circulação do que a polícia consegue apreender. Sobra droga nas mãos dos traficantes.


Segundo a polícia, o preço da cocaína caiu pelo menos 30%, tanto no varejo quanto no atacado. O quilo da pasta custava no mercado nacional entre R$ 10 mil e R$ 12 mil no início dos anos 2000. Hoje, está entre R$ 7 mil e R$ 8 mil. A "versão comercial" da droga, aquela que chega ao consumidor final, sai atualmente por algo entre R$ 4 mil e R$ 5 mil o quilo.


Para o coordenador do Observatório de Segurança Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Luís Antonio Francisco de Souza, o mercado de drogas não segue necessariamente a mesma lógica dos demais, porque há um cálculo das perdas - pelo fato de ser algo ilegal. Mesmo assim, o aumento na quantidade de entorpecentes é sensível. "A droga está mais disseminada, porque ficou mais barata e porque os traficantes fazem seu cálculo de risco (sobre quando colocá-la no mercado)."


Além disso, a participação do tráfico sobre o total de boletins de ocorrência registrados nas delegacias paulistas cresceu três vezes em 12 anos - respondia por 0,44% dos BOs em 2000 e, hoje, alcança 1,38%.


O comércio da droga se expandiu sem fronteiras por São Paulo. Os flagrantes cresceram em todas as direções do Estado. Na Região Metropolitana, o aumento foi de seis vezes em 12 anos. Na capital, o número de flagrantes se multiplicou por 3,6 no mesmo período. No outro extremo, nos municípios do interior do Estado, o crescimento foi de 3,75 vezes, favorecido sobretudo pela disseminação do crack no campo, principalmente nos canaviais.


Para o diretor do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil (Denarc), Wagner Giudice, o Brasil não é mais apenas um corredor do tráfico entre países andinos e a Europa, como no passado. O bom momento econômico tem feito parte da droga parar por aqui, o que se reflete no número de apreensões.


Judiciário


Não é apenas a polícia que tem feito mais prisões em flagrante. O tráfico de drogas também tem pressionado o Poder Judiciário e o sistema prisional em São Paulo. Em 2000, 22,76% da população carcerária foi condenada por se envolver com o mercado de entorpecentes. Em dezembro de 2011, essa parcela já representava 29,28% do total.


Também chama a atenção o aumento no número de mulheres presas por tráfico. Elas representavam apenas 2,42% do total no início dos anos 2000. A participação cresceu, preocupa as autoridades e chegou a 11,86% no fim de 2011. Em grande parte dos casos, são elas quem comandam os pontos de venda - quando os companheiros vão para a cadeia.


Promotor de Execuções Criminais, Pedro Juliotti é favorável a penas mais duras para traficantes. Ele diz, porém, que esse tipo de criminoso costuma trazer mais problemas para as penitenciárias.


"Quando o traficante também é um viciado, e muitos usuários passam a vender porque têm dívidas, ele é mais problemático do que um preso comum, até pela necessidade da droga", afirma Juliotti.


Mais gente na cadeia significa também uma sobrecarga do Poder Judiciário. O peso do tráfico já é sentido nas Varas Criminais e de Execuções em todo o Estado.


Fonte:O Diário de Mogi