domingo, 14 de agosto de 2011

PR ameaça deixar a base aliada


fora Alfredo Nascimento, que deixou recentemente o governo sob acusação de irregularidades, leva o partido para o confronto com Dilma
BRASÍLIA
Alvo da faxina promovida pela presidente Dilma Rousseff no Ministério dos Transportes, o Partido da República (PR) ameaça agora sair da conflagrada base de apoio do governo no Congresso. A posição do PR será anunciada na terça-feira, em pronunciamento do senador Alfredo Nascimento (AM), que foi defenestrado dos Transportes na esteira das denúncias de corrupção e hoje comanda o partido.
"O PR saiu do céu, mas não vai para o inferno. Pagará os seus pecados no purgatório", afirmou o senador Blairo Maggi (MT). Padrinho político de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Maggi quer agora que todos os integrantes do PR entreguem seus cargos no governo.
Embora Dilma tenha feito uma devassa nos Transportes, que derrubou 27 servidores, os superintendentes estaduais do Dnit não mudaram. Apenas o de Mato Grosso, escolhido por Pagot, abandonou o posto em solidariedade a ele. Além de assento nessas repartições, o PR ocupa uma diretoria de Furnas.
"Não tem sentido adotarmos uma posição de independência em relação ao Palácio do Planalto, sair da base aliada e continuar com os cargos", insistiu Maggi. "É possível fazer política sem ter vaga no governo." O senador propôs que o PR desfiliasse o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, sucessor de Nascimento, para quem o partido "não é lixo" nem pode ser "varrido" da administração. "Passos não representa o PR", insistiu. A proposta de expurgo, porém, ainda não tem apoio da maioria.
Na quarta-feira, Dilma assumiu as rédeas da coordenação política do governo para contornar as insatisfações no PR. Chamou ao Palácio do Planalto o deputado Anthony Garotinho (RJ), que tem feito ácidas críticas a ela na tribuna da Câmara.
"Por que você está falando tão mal de mim?", perguntou Dilma, que, a exemplo de Garotinho, já foi do PDT. Ela pediu ao deputado "compreensão" com o cenário econômico e disse não ser possível aprovar mais despesas, como a proposta de emenda constitucional que estabelece um piso nacional de salários para policiais e bombeiros, conhecida como PEC 300.
Naquele mesmo dia, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, reuniu-se com Nascimento, Maggi e com o senador Antonio Russo (PR-MS).
Com 41 deputados e 7 senadores (João Ribeiro está de licença médica), o PR pode fazer diferença e ser o fiel da balança em votações no Congresso. Na prática, o Planalto teme o "efeito cascata" das reclamações, já que o PMDB também não esconde mais o desconforto e está em queda de braço com o PT.
Na semana passada, líderes do PMDB avisaram Ideli que a base não votará nenhum projeto do governo na Câmara até o feriado de 7 de setembro se o Planalto não liberar rapidamente recursos de emendas parlamentares.
"O governo estica a corda até o final para o cumprimento da execução do Orçamento. Agora fica parecendo que a presidente vai ceder à chantagem", protestou o deputado Lincoln Portela (MG), líder do PR na Câmara. Segundo ele, o PR não irá para o campo adversário. "Nós não seremos oposição. A ideia é dar apoio crítico à presidente." Na votação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), no final do ano, por exemplo, o PR vai dar trabalho. Dilma considera "fundamental" prorrogar a DRU por quatro anos. O mecanismo permite ao governo manejar livremente 20% dos recursos do Orçamento.
Emendas
Levantamento feito pelo DEM no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) revela que o governo está liberando a conta-gotas as emendas de parlamentares ao Orçamento de 2011. Dos R$ 10,8 bilhões autorizados, o governo empenhou R$ 55,2 milhões (0,51%). Entre junho e julho, o aumento não foi significativo: foram R$ 17,3 milhões em julho, ante R$ 11,4 milhões no mês anterior.
Em meio ao clima de rebelião, os aliados tentam pressionar o governo ameaçando criar uma CPI. A ideia é apoiar uma comissão que investigue um episódio específico, se a relação com o Planalto não voltar à normalidade. Coube ao PR ser o porta-voz da defesa de uma CPI restrita, e não genérica, como quer a oposição. "Se a CPI tiver um propósito único e esclarecedor, aí sim podemos apoiá-la", admite o líder Lincoln Portela.

Fonte:O Diário de Mogi