Mariana Leal
Há 25 anos, Estela Geraldo de Siqueira, de 65, mora na Rua Ofélia Cirino Malozze, na Vila Oroxó, no Rodeio. No início, segundo ela, o "barraquinho" era de madeira e um mandiocal cobria boa parte da área hoje considerada de risco pela Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Civil já que o barranco onde os imóveis foram construídos ameaçou ceder em janeiro deste ano. Por viver todo este tempo no local e nunca ter sentido na pele o problema de desmoronamentos, ela considera dispensável a mudança imposta pela Administração Municipal no começo do ano, durante o período de chuvas. Assim como ela, outros moradores do Bairro lamentam a saída de suas casas, mas garantem que, caso realmente seja preciso, se mudarão para os apartamentos do programa "Minha Casa, Minha Vida", assim que as unidades forem liberadas.
"Tinha comprado R$ 400,00 em piso e iria deixar isso aqui com cara de residência mesmo", brinca. "Sinceramente, não entendo onde está o risco, porque nunca caiu um tijolo na minha cabeça nem nas dos meus netos, que foram todos criados aqui. Mas fizemos o cadastro e estamos esperando. Se precisarmos sair, vamos fazer o quê?", diz Estela.
Reginaldo José dos Santos, 48, mora na casa número 229 há 20 anos e planejava uma reforma para ampliar os cômodos. Algumas paredes foram levantadas e a laje seria feita em fevereiro, mas a carta da Prefeitura informando que teria de sair dali o levou a abortar os planos. "Gosto daqui porque conheço todo mundo, já somos uma família. Fizemos uma Festa Junina há algumas semanas, com direito até a fogueira e todos trouxeram pratos típicos. Se me deixassem ficar aqui, eu não reclamaria, porque se tivermos que morar em apartamentos, não vamos ficar juntos mais. Porém, já fomos cadastrados, assistimos a palestras na Prefeitura e entendemos o risco", ressalta Santos.
O secretário municipal de Segurança, Eli Nepomuceno, informa que o local foi interditado, porém oito famílias permanecem lá, contrariando a interdição e as recomendações da Pasta e da Defesa Civil. Existe um monitoramento periódico desta área e também um contato permanente com moradores do entorno, que comunicam a Prefeitura sempre que há uma situação de perigo, mas como o período agora é de estiagem, os riscos são menores.
"O problema se agrava no período de chuvas, quando o local passa a apresentar risco de deslizamento. De qualquer maneira, mantemos um monitoramento na área, sempre alimentando vínculos com moradores, que nos avisam em qualquer situação de emergência. Esta área especificamente é pública, foi interditada e precisa ser desocupada, mas como o risco agora está menor, por causa da estiagem, estamos evitando adotar uma medida mais radical", declara Nepomuceno.
O secretário lembra, ainda, que as famílias se inscreveram em programas municipais de habitação e as moradoras originais até já saíram. O problema é que os imóveis foram rapidamente reocupados por outras pessoas, que se recusaram a deixá-los. A encosta toda da Vila Oroxó é ocupada por 16 famílias, mas somente estas oito estão em área de risco de deslizamento e tiveram, portanto, os imóveis interditados.
Além da Vila Oroxó, Mogi das Cruzes tem áreas de risco de deslizamento no Jardim Itapety (cerca de 10 famílias), no Botujuru (4 casas) e na Vila Nova União (5 residências), porém não são casos de risco de deslizamento, logo não há imóveis interditados nestes locais e é possível a permanência das pessoas em casa, especialmente agora, no período de estiagem. O local também recebe monitoramento e, naturalmente, ganhará atenção especial no próximo período de chuvas.
Fonte:O Diário de Mogi