quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

CIDADES: Imóvel com possível risco de queda preocupa moradores

7 de dezembro de 2016  Cidades, QUADRO DESTAQUE  
Casarão antigo fica na Rua Capitão Manoel Caetano. (Foto: Edson Martins)
Casarão antigo fica na Rua Capitão Manoel Caetano. (Foto: Edson Martins)

LUCAS MELONI
Em uma das esquinas centrais mais movimentadas de Mogi das Cruzes está um imóvel de 150 anos que dá sinais da ação implacável do tempo. A casa da família Barradas tornou-se uma loja e ponto de reparo de tapeçaria, de acesso restrito a clientes antigos, mantida por José Barradas, de 62 anos, há 40 no local que herdou. Ele fala sobre as dificuldades financeiras em restaurar o local e disse que pode vendê-lo, apesar das propostas apresentadas até agora estarem aquém do valor do metro quadrado (m²).

O imóvel como um todo tem mais de 700 m², com diversas pequenas lojas na calçada da Rua Capitão Manoel Caetano, mas a parte discutida se refere a um recorte de 121 m². Há um processo aberto no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Paisagístico de Mogi (Comphap), mas ele não teve continuidade por problemas na documentação do imóvel.


Em meados do ano passado, o prefeito Marco Aurélio Bertaiolli (PSD), havia anunciado a intenção de comprar aquele imóvel para instalar ali uma “Casa do Artesão”, para a promoção deste tipo de arte na Cidade. As tratativas, entretanto, não deram certo e o imóvel não foi adquirido. Muito antigo e com o telhado com diversos problemas, perceptíveis a qualquer um que passa pela rua, o imóvel não tem previsão de restauro, afirmou Barradas.

“Esta casa tem mais de 150 anos e foi feita a partir de taipa. Não deu certo a venda para a Prefeitura e agora estou tentando algum dinheiro para restaurar. Há alguns meses quase comercializei por R$ 420 mil, mas a negociação não foi adiante também. Agora há a transferência de potencial construtivo que pode auxiliar, assim como eu, vários outros proprietários de imóveis antigos”, afirmou à reportagem.

O imóvel da Coronel com a Manoel Caetano foi construído com traços da época colonial, com paredes de taipa e telhas feitas nas coxas de escravos, como explica o arquiteto e urbanista Paulo Pinhal, presidente do Colégio de Arquitetos. “Aquele imóvel tem mais de 150 anos e foi construído no estilo colonial. É uma extensão da obra da Igreja do Carmo, também no estilo colônia, com paredes de taipa e telhas feitas nas coxas. Para ir ao livro do tombamento, é preciso ter a documentação em dia e nem todos os imóveis têm. Tinham muitos contratos de gaveta e boa parte desses imóveis são de família, ficam de pai para filho e depois netos, bisnetos etc. Ninguém se preocupa com isso normalmente.

Há um dispositivo, que está num projeto urbanístico em trâmite na Câmara Municipal, prevê uma espécie de compensação à Cidade por parte das construtoras que quiserem realizar projetos com limites a excederem os especificados pelo Zoneamento. Por exemplo, uma empresa poderia custear a restauração de um imóvel antigo ao passo que o projeto de um novo prédio poderia ter a aprovação facilitada diante da compensação de preservação do espaço histórico.

A presidente do Comphap, a arquiteta e urbanista Ana Maria Sandim, afirma que houve problema no processo de tombamento deste imóvel por causa de documentos. “Foi aberto um processo de tombamento. Mogi tem uma relação com 34 imóveis com potencial de tombamento, dois já foram: Teatro Vasques e o Casarão do Carmo. Houve problema com a documentação. O proprietário me disse que iria desmembrar em blocos a construção (que total, chega a 720 m²). Isso facilita o tombamento daquele imóvel de esquina. Este processo administrativo junto à Prefeitura leva um ano, em média. Os processos de tombamento demoram. Veja o caso do antigo leprosário de Mogi (Hospital Dr. Arnaldo Pezzuti Cavalcanti, em Jundiapeba – cujas guaritas) passou pelo processo”, explicou. O imóvel que tem o trâmite quase concluído (80%) e pode ser o próximo a ser tombado é o Casarão da Mariquinha, na Ricardo Vilela, próximo ao Santuário do Bom Jesus, na região central, mas ainda não há previsão de quando isso poderá acontecer.

O lado da Prefeitura
Procurada, a Prefeitura de Mogi das Cruzes alegou problemas na documentação que impediram a aquisição da casa dos Barradas e afirmou que realizará vistoria no local para identificar eventuais riscos de queda no local. “Ao iniciar as tratativas para a desapropriação do casarão da família Barradas, situado na esquina das ruas Capitão Manoel Caetano e Coronel Souza Franco, foi identificado um empecilho referente ao registro cartorial do imóvel, que precisa ser resolvido pelos proprietários. A Prefeitura aguarda a solução desta questão para poder dar andamento às negociações. Sobre as questões estruturais do imóvel, a Secretaria Municipal de Segurança informa que a Defesa Civil já fez uma vistoria no local, ocasião em que foram adotadas medidas emergenciais para conter a situação do telhado. Diante da demanda, uma nova vistoria será feita no imóvel”, informou.

Fonte:O Diário de Mogi