quinta-feira, 21 de março de 2013

Boca no trombone Paulo Passos


Boca no trombone
Paulo Passos

Em 1970, Eduardo Galeano trouxe à luz "As Veias Abertas da América Latina", livro imprescindível para os que se interessam por este pedaço de continente em que vivemos.

Abordando aspectos históricos, retratava o autor o espólio contínuo a que invasores estrangeiros tinham submetido os povos subjugados, apoderando-se, sem misericórdias, de suas riquezas materiais.

Potosí, na Bolívia, próspera pela prata que produzia, depois, transformada em cidade empobrecida, carente, é exemplo gritante da rapina procedida. A Biblioteca Joanina, na Universidade de Coimbra, ornada de ouro surrupiado das minas brasileiras, outra demonstração flagrante.

Aos que o leram, e se revoltaram com a narrativa forte que os levaram, com certeza, aos tempos de antes, vale o lembrete que, passados 43 anos do lançamento da obra, e mais ou menos 500 dos atos de força produzidos por corsários travestidos de legais dominadores, continuamos a nos ressentir, em pleno século XXI, das mesmas atitudes abomináveis. 
Como fazem em outros cantos do mundo, as grandes empresas - quem sabe fundadas com o capital que desviaram às mão arma-das -, considerando os humanos do "terceiro mun-do" descartáveis, desrespeitam os seus direitos, sugam suas energias, quando não jogam suas vidas, contabilizando-as, quando perdidas, em lucros e perdas.

Somos, para o grande capitalista, produtos baratos! E, já que trazia exemplos, lá vai outro, só que este, acontecido em nossos dias, não precisa de literatura para que se torne conhecido.

A empresa Shell, gigante do petróleo, instalou em Paulínia, interior paulista, uma de suas divisões. O solo em que se construiu o empreendimento, aos poucos, em razão das operações que ali se faziam, foi se contaminando, o que sabido pelos dirigentes maiores da grande companhia.

Ansiosos pelo lucro fácil, em vez de tomarem as providências para que vidas fossem ceifadas, simplesmente omitiram a verdade, expondo, absurdamente, seus empregados, o que resultou na morte de 60 deles, e em um sem número de doentes pela contaminação ambiental.

Aos reclamos dos trabalhadores - eis que mentiras não se sustentam por longo tempo -, se negou a qualquer repara-ção, só o fazendo depois da busca do Judiciário e, mesmo assim, após resistência.

Para um número imenso de intoxicados - além dos mortos - estabeleceu o pagamento de R$ 5000.000.000, além de pensão mensal de R$ 1500,00, a partir de 2007, e plano de saúde permanente.

Conseguiu seu objetivo. A parcela acertada é parte irrisória do lucro obtido nesse período de mentiras e ilegalidades. Para ela, tornando ao passado, o Brasil vale apenas pela fortuna espoliada. As veias continuam abertas. São chagas que não conseguem cicatrizar!

Paulo Passos,
É advogado, mestre e doutor em Direito pela PUC/SP

Fonte:Mogi News