segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Entenda o que é autofagia, descoberta que levou o Nobel de Medicina Japonês Yoshinori Ohsumi foi laureado com edição do prêmio deste ano. Pesquisa mostrou processo de limpeza e 'reciclagem' das células.

France Presse
03/10/2016 20h45 - Atualizado em 03/10/2016 20h45

Da AFP
Nobel de Medicina e Fisiologia de 2016 vai para o cientista Yoshinori Ohsumi (Foto: Reprodução)
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 Nobel de Medicina e Fisiologia de 2016 vai para o cientista Yoshinori Ohsumi (Foto: Reprodução)
Nobel de Medicina e Fisiologia de 2016 vai para o cientista Yoshinori Ohsumi (Foto: Reprodução)
A descoberta do mecanismo da autofagia, que levou o Prêmio Nobel de Medicina, pode contribuir para uma melhor compreensão de patologias, como as vinculadas ao envelhecimento, e talvez um dia permitir que os humanos vivam mais tempo com boa saúde, de acordo com vários especialistas.
O japonês Yoshinori Ohsumi foi laureado nesta segunda-feira (3) com o Nobel de Medicina pela sua pesquisa da autofagia, um processo de limpeza e, principalmente, de "reciclagem" das células.
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Japonês leva Nobel de Medicina por pesquisa sobre reciclagem da célula
"Este processo é muito importante, porque se a célula não é capaz de se limpar, haverá uma acumulação de resíduos", explicou Isabelle Vergne, pesquisadora do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas, da França), que trabalha com autofagia.
"Se este processo é completamente desregulado, pode levar a muitas patologias", acrescentou. É o caso de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer ou o Parkinson, doenças infecciosas e diferentes tipos de câncer.
Mas outras patologias como a obesidade ou a diabetes, algumas doenças cardiovasculares ou intestinais, ou inclusive a artrose, também podem estar ligadas à autofagia.
"A maioria das grandes patologias estão ligadas a uma insuficiência ou a uma disfunção do processo autofágico", afirmou o professor Guido Kroemer, outro especialista francês que trabalha no Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm), na França.
A autofagia, que vem do grego e significa "comer a si mesmo" é um processo conhecido desde os anos 1960. Ohsumi identificou os genes essenciais da autofagia nos anos 1990, ao fazer um experimento com lêvedo e demonstrar que nossas células utilizavam um mecanismo similar.
A descoberta gerou uma série de pesquisas, que até o momento se limitaram a plantas e animais.
"Tentamos compreender porque este processo diminui com a idade e encontrar inovações capazes de ativá-lo para manter nossas células em bom estado por mais tempo e poder viver uma vida melhor e mais longa", afirmou Ioannis Nezis, professor da Universidade de Warwick, no Reino Unido.
Na maioria das patologias, a autofagia deve ser estimulada, como nas doenças neurodegenerativas, para eliminar os aglomerados de proteínas que se acumulam nas células enfermas.
Também para a artrose. O mesmo acontece para a diabetes, a aterosclerose ou as doenças infecciosas, quando se trata de estimular a resposta imunológica.
"É mais complexo no câncer", segundo o professor Kroemer, que detalhou que, segundo o caso, pode-se procurar "estimular ou, ao contrário, inibir" o processo autofágico.
Trabalhos com animais revelaram que os estimuladores da autofagia podiam melhorar a resposta anticancerígena, por meio da resposta imunológica. Por outro lado, alguns pesquisadores trabalharam para inibir a autofagia e assim "reduzir o estresse celular ligado à quimioterapia", disse.
Segundo Vergne, que trabalha com a micobactéria que origina a tuberculose, cada vez mais resistente aos antibióticos, a estimulação da autofagia permite controlar a infecção.
Uma estratégia que se emprega igualmente com outra microbactéria, muito presente em pessoas com fibrose quística, muito difícil de tratar. "Acreditamos que se chegamos a aumentar a autofagia, poderíamos eliminá-la (...) pedindo ao organismo que a mate através da autofagia", explicou.
Outra patologia, a artrose, que afeta principalmente pessoas mais velhas, também está na primeira linha.
Segundo Claire Vinatier, pesquisadora do Inserm, estudos pré-clínicos realizados em ratos revelaram que a ativação da autofagia desacelera o surgimento da artrose e melhora "os signos de mobilidade". Ela precisou, porém, que os experimentos com humanos ainda estão distantes.
Entre as moléculas já testadas em ratos está a rapamicina, um medicamento utilizado em humanos para reduzir as chances de rejeição em transplantes.
Para evitar os efeitos secundários deste potente medicamento, ele é injetado diretamente na articulação.
Além disso, se consideram outras opções, como a proteína Klotho, presente no corpo humano.
Enquanto não chegam os testes clínicos em humanos, algo que ainda poderá levar anos, já se pode estimular a autofagia com a alimentação, através do resveratrol, um antioxidante encontrado no vinho tinto, em algumas frutas e no chocolate.
Outra opção deste tipo seria a espermina, outra arma antienvelhecimento, presente no queijo roquefort, indicou Patrice Codogno, especialista do Inserm.

Fonte:G1.com