terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Nova ministra fez ‘curso de aborto’



POLÊMICA Ministra Eleonora afirma que foi para a Colômbia aprender a fazer aborto pelo método Amiu


SÃO PAULO
A ministra da Secretaria de Políticas Para as Mulheres, Eleonora Menicucci, revelou em depoimento a uma pesquisadora de ciências sociais que fez um "curso de aborto" na Colômbia após fundar, em 1995, a entidade Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Na entrevista, feita em 2004, Eleonora contou ainda que se submeteu a seu segundo aborto, em 1970, por decisão tomada em conjunto com a organização clandestina na qual militava, o Partido Operário Comunista - um dos grupos de esquerda que participaram da luta armada durante a ditadura militar.


A entrevista, trazida a público ontem pelo jornalista Reinaldo Azevedo, da revista "Veja", deve alimentar as pressões de integrantes da bancada evangélica no Congresso pela demissão da ministra. Setores religiosos vinham atacando Eleonora nos últimos dias por causa de sua posição a favor da descriminalização da prática do aborto.


No depoimento, a ministra afirma que foi para a Colômbia aprender a fazer aborto pelo método Amiu (Aspiração Manual Intrauterina). Segundo ela, a entidade feminista da qual participava tinha como objetivo que as mulheres se "autocapacitassem" para "lidar com o aborto", mesmo que não tivessem conhecimentos de medicina.


A data da ida da então militante feminista para a Colômbia não fica clara. Na época em que o depoimento foi dado, a prática do aborto no país vizinho era considerada crime. Só em 2006 o Poder Judiciário decidiu legalizar abortos em casos de estupro, malformações do feto e risco para a mãe.


O curso de "autocapacitação" foi feito quando Eleonora já havia se submetido a dois abortos feitos por médicos. Presa política e torturada nos anos 70, ela revelou que o médico que a atendia após as sessões de espancamento era o mesmo com o qual havia feito um exame de pré-natal, antes de ser capturada.


O depoimento também traz relatos da vida sexual da nova ministra durante a época em que viveu na clandestinidade. Ela revela, por exemplo, que as mulheres de seu grupo guerrilheiro só podiam fazer sexo com pessoas da própria organização, por "questão de segurança".


Autora da entrevista, a professora Joana Maria Pedro, da Universidade Federal de Santa Catarina, disse que as declarações de Eleonora estão fora de seu contexto original.


A atual presidente do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, Ana Galati, disse que desconhece a realização de qualquer treinamento de aborto pela organização. Segundo ela, a ministra deixou o grupo em 2004.


"O Coletivo ensina mulheres a fazer autoexames (de mama e colo de útero), não a fazer aborto", afirmou Ana Galati. Ela explicou que o grupo é favorável à descriminalização da prática, mas que não encaminha a clínicas as mulheres que procuram a ONG interessadas em realizar abortos.


 Eleonora decidiu não fazer nenhum comentário a respeito da entrevista concedida por ela à professora de História Social Joana Maria Pedro.


Fonte:O Diário de Mogi