terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vistoria constata falhas no Luzia


Deputado Estadual André do Prado
Pacientes em macas nos corredores e, alguns, até em colchões no chão, dentro de quartos com seis, sete pessoas, sem o mínimo espaço entre elas. Todos os 14 leitos para adultos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ocupados; na UTI pediátrica, um adolescente de 16 anos, por falta de vaga na ala adulta, destoa em meio a bebês e crianças que lotam os nove leitos públicos, que são os únicos de toda a Região. O quadro descrito pelos deputados estaduais da Frente Parlamentar do Alto Tietê após uma visita ao Hospital Luzia de Pinho Melo, em Mogi das Cruzes, deixa claro que a unidade funciona além do seu limite, e comprova a necessidade imediata de investimentos do Governo do Estado no sistema de saúde.

As dependências da unidade foram visitadas na manhã de ontem pelos deputados da Frente Parlamentar, os quais têm vistorias programadas em mais dois hospitais estaduais que funcionam na Região – o Santa Marcelina, de Itaquaquecetuba, e o Regional, em Ferraz de Vasconcelos – para certificar in loco os problemas enfrentados pelos pacientes da rede pública e, consequentemente, pleitear investimentos.

A reportagem de O Diário não acompanhou a vistoria dos deputados ontem no Luzia de Pinho Melo, mas o relato feito pelos parlamentares e o material disponibilizado pelas assessorias parlamentares deixam claro que o Governo do Estado tem realmente motivos para impedir que a imprensa entre na unidade, ainda que ela seja pública. Afinal, o cenário de macas espalhadas pelos corredores, com pacientes de todos os tipos e em todas as condições, não é o que se espera de um hospital referência para o atendimento em toda a Região do Alto Tietê, habitada por quase três milhões de pessoas.

Segundo os deputados estaduais André do Prado (PR) e José Cândido (PT), e o advogado Rodrigo Valverde, que representou o deputado Alencar Santana (PT), essa situação já era conhecida através de relatos de pacientes e mesmo de funcionários. A vistoria, no entanto, foi fundamental para confirmar que o Luzia de Pinho Melo não tem espaço físico, equipamentos e profissionais em número suficiente para atender a demanda existente, o que implica num risco à saúde de quem depende do sistema público.

"Os diretores confirmaram que o número de leitos de UTI é insuficiente para um hospital do porte do Luzia de Pinho Melo e que não há espaço para colocar mais macas no Pronto-Socorro, por isso, muitos doentes ficam nos corredores. Eles inclusive explicaram que, quando surgem as denúncias de que não há macas no hospital, na realidade não são macas que faltam, mas sim, espaço para colocá-las", contou o deputado André do Prado.

"O que me deixou triste foi saber que a estrutura do hospital é de 40 anos atrás, quando o perfil de pacientes era outro, não existia tanto acidente como hoje e as pessoas não viviam tanto. E pior: como não fizeram nada durante esse tempo todo, será preciso consertar um erro histórico, reivindicando investimentos no que é mais urgente e torcendo para que o Governo nos atenda", ressaltou Valverde.

Os números informados pela Frente Parlamentar, com base no que foi transmitido pelos diretores Luiz Carlos Barbosa e João Luiz Rocha, indicam uma média de 30 mil a 40 mil atendimentos/mês no Luzia de Pinho Melo. Desses, de 14 a 15 mil/mês correspondem às consultas feitas no ambulatório, que oferece 46 especialidades. "Esse é outro problema revelado pelos diretores. Segundo eles, os pacientes encaminhados pelos postos de saúde depois que são tratados ali, não querem mais voltar para a rede básica", contou o deputado Prado.

No Pronto-Socorro, a média é de 17 mil atendimentos/mês para mais. E as salas de observação são insuficientes para acomodar toda essa demanda, que acaba ficando em macas nos corredores, quando não em cadeiras. Ontem, durante a vistoria, os deputados constataram a existência de colchões no chão – apenas sobre a base da maca, mas sem o suporte de altura – em dois quartos da observação, os quais estavam lotados. Os doentes, no caso, ficam quase que em contato direto com o chão e sob o risco de o paciente que está no alto cair em cima do que está em baixo, já que o espaço é mínimo.

"Está claro que o funcionamento é no limite. Existe uma demanda grande de pacientes e falta espaço para atender todos com a qualidade que é necessária. De fora, a gente não tem muita a noção do que realmente acontece, por isso, vamos fazer essas visitas para ver como os hospitais estão funcionando e ver como podemos ajudar", ressaltou o deputado José Cândido.

Restrição

A vistoria no Luzia de Pinho Melo foi divulgada pela Frente Parlamentar que, a princípio, chegou a informar que a imprensa poderia acompanhar a visita. Na manhã de ontem, no entanto, minutos antes do encontro, a reportagem de O Diário foi avisada pela assessoria do deputado André do Prado, presidente da Frente, que não poderia mais participar da vistoria por determinação da direção do hospital.


Fonte:O Diário de Mogi