sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tribuna Livre: "Muleque"? Quem? Dirceu Do Valle

Dirceu Valle

"(...) (N)essas épocas piedosas, criticar era sinônimo de injuriar; em literatura, só se admitia a epístola laudatória; e, como comentário às coisas públicas, só se tolerava a cantata" (Eça de Queirós, Brasil e Portugal, Notas Contemporâneas)".


Inicialmente - é óbvio, mas merece ser repeti-do -, cumpre destacar o quão importante é o direito à informação. E, igualmente, o direito à crítica. Um e outro se irmanam na busca do melhor. O duro é quando se perde a mão e descamba do dialético para a ofensa pessoal. Isso sim, coisa de moleque.


E, se o chulo soa ruim até entre os "comuns", pior quando partido daqueles que ignoram a liturgia do cargo ocupado. Palavreado de baixo calão, definitivamente, não cai bem. Foi-se (perdoe o cacófato) a época do coronelismo.


Em sendo assim, havendo erro ou excesso, cabe ao interessado o direito de resposta. Amigável ou judicial. De forma civilizada. Não fosse assim, grunhiríamos, tacapes às mãos.


Em reminiscências e para que melhor se entenda a razão da digressão, após mal súbito que acometeu o jornalista Márcio Siqueira (editor-chefe do MN), noticiado que nos hospitais particulares instalados por esses lados não há aparelho de ressonância magnética, ficando aqueles que precisam do exame à mercê de clínicas particulares ou, se sem plano de saúde, na dependência de atendimento pelo SUS enquanto espera - sentado, preferencialmente - pelo diagnóstico.


Assim, se o inconformismo da Imprensa na ausência do exame na rede privada é direcionado aos dirigentes desses estabelecimentos que economizam em investimentos, à evidência a classe política será o alvo por não contar a rede pública com o equipamento.


Explicando o mote sem maiores rodeios, deu no "Comunique-se", portal que congrega profissio-nais da comunicação, que o prefeito de Mogi das Cruzes, desgostoso com o teor de um editorial sobre o assunto pu-blicado no Mogi News, teria xingado o repórter Cléber Lazo de "muleque" e "filho da p ...", e, no entremeio, mandado o profissional a "p ... que o pariu".


A destemperança - crê-se verdadeira porque até agora não-contrariada -, alvo de repúdio na manhã de ontem durante o debate de todas as quintas na Metropolitana AM 1070, pegou bastante mal. 
O alcaide, como se o dr. Jekyll de "O Médico e o Monstro" de Robert Louis Stevenson, transmudou sua imagem da noite para o dia do cordato para o irascível.


Em não sendo essa dualidade revelada nota marcante de sua personalidade, provavelmente, sobrevirá um pedido de desculpas. E, com isso, vire-se a página do episódio. Todos valemos mais que o nosso pior momento.




Dirceu do Valle
advogado e professor de pós-graduação da PUC/SP