domingo, 17 de julho de 2011

Parlamentares percebem que Dilma está mais afável no trato com os aliados

Paulo de Tarso Lyra - Correio Braziliense
Publicação: 17/07/2011 08:00 Atualização:
  (Roberto Stuckert Filho/PR)
Seis meses após assumir a Presidência da República, Dilma Rousseff imprimiu um estilo diferente na relação do Palácio do Planalto com a base aliada. Um estilo que está deixando os integrantes da aliança governista preocupados, porque eles não estão conseguindo antecipar os movimentos da presidente. “Todos nós estamos ficando com as barbas de molho. Quando a Dilma toma uma decisão, ela age, sem avisar nada para nós”, reclamou o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). “É comum reclamarmos das coisas, o saco é sempre fundo”, acrescentou, embora os próprios parlamentares da base reconheçam que, pelo menos no trato pessoal, Dilma tem sido mais cordial do que de costume.


A presidente tem adotado esse perfil sob a alegação de que pretende imprimir um estilo de governo mais gerencial, menos preso a barganhas e jogos políticos. Uma novidade em Brasília, capital acostumada ao loteamento de espaços na máquina federal e à troca de apoio parlamentar por liberação de emendas para deputados e senadores. Essa disposição paralisou o governo por diversas vezes ao longo deste primeiro semestre. 


Senadores experientes, como Pedro Simon (PMDB-RS) — que integra o chamado G8, grupo de oito senadores peemedebistas que se consideram independentes —, torcem para que Dilma mantenha essa pegada. “Eu sei que é difícil, a presidenta Dilma Rousseff está só. Eu espero que, com o cajado de sua caneta, ela consiga romper com essa cultura fisiológica”, disse Simon, em discurso na tribuna do Senado.


Seu companheiro de partido, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), pensa diferente. Ele espera que o coquetel oferecido por Dilma aos aliados na última quarta-feira possa significar um distensionamento nesse relacionamento. “Dilma estava mais afável, mais à vontade. Acho que ela está começando a se acostumar com essa relação.” Mas ele admite que esses primeiros momentos não foram fáceis. “Ela é técnica, não política, estamos tentando aprender como lidar com ela. Mas é sempre melhor esse estilo franco do que a dissimulação ou o empurrar com a barriga”, completou.


“Embocadura”
Um líder aliado acredita que falta à presidente “embocadura”. Segundo uma enciclopédia virtual, “a embocadura apropriada permite ao instrumentista tocar o instrumento na sua completa extensão, a manter o som limpo e a evitar possíveis danos aos seus próprios músculos”. Esse parlamentar, que tem uma relação próxima com a presidente, afirma que Dilma ainda precisa encontrar o tom exato na relação com os congressistas. Ele reconhece que alguns gestos são aprovados pela opinião pública, mas a presidente precisa se lembrar da “importância de construir a governabilidade no dia a dia”. 


Um integrante do PT acrescenta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também enfrentou dificuldades ao longo de seus dois mandatos, citando, por exemplo, o êxodo de petistas insatisfeitos com o governo rumo ao PSol. Mas acredita que Dilma herdou uma base muito ampla e uma oposição anêmica. “Se a Dilma tivesse contra si um Senado como Lula enfrentou em 2006, com adversários como Tasso Jereissatti (PSDB-CE), Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Efraim Morais (DEM-PB), talvez não fosse tão valente assim”, comparou.


Fonte:Correio Braziliese