domingo, 10 de julho de 2011

Constrangimento
"Somos guardadores de carro e não flanelinhas"
Guilherme Bertti

Cláudio garante a ordem
O guardador de carros, como gosta de ser chamado, Cláudio Souza de Freitas, de 35 anos, trabalha no estacionamento público da cidade há mais de 26 anos. "Comecei a olhar carros com nove anos. Em determinados momentos da minha vida parei para exercer outras atividades, mas acabo voltando pra cá", disse Freitas. "Não somos flanelinhas ou flanelões. Nossa função é guardar os veículos, o que fazemos muito bem, tanto que há pessoas que deixam a chave no contato para que possamos estacionar da forma correta. Gente atrasada", brincou.


Freitas é o responsável por "coordenar" os guardadores que atuam no estacionamento público. "Para entrar aqui é preciso falar comigo. Não é qualquer um que chega e já vai abordando os motoristas. Preciso ver se ele serve pra coisa", contou. "Nos outros pontos eu não sei como funciona, mas aqui não tem bagunça", garantiu. De moenda em moeda, ele consegue R$ 50 por dia. Os colegas dele também têm este faturamento. "Juntamos tudo e dividimos no final".


Morador da Vila Natal, Freitas é um exemplo da questão social que envolve os flanelões. O trabalho de olhar automóveis se estende de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. "Sou casado e pai de um filho de 14 anos. Nos finais de semana ajudo minha mulher a limpar túmulos no cemitério São Salvador. Não tenho uma vida fácil, mas graças a Deus vivo bem. Porém, trocaria essas duas atividades por um emprego fixo", frisou.


"Às vezes, a polícia chega e não nos deixa trabalhar. Eles pedem pra gente circular. Tento explicar que ninguém é obrigado a dar nada, mas para evitar confusão acabo saindo, para voltar algumas horas depois", contou.


Ele detalhou como deve ocorrer a abordagem. "Chego e dou um bom dia ou boa tarde e logo em seguida pergunto se posso dar uma olhadinha. Se a pessoas concordar tudo bem, caso contrário, sem problema. No momento em que o motorista volta, chego perto e sem falar nada a pessoa já dá umas moedinhas. Por fim, ajudo a sair", narrou Freitas.




Regulamentação
Outras cidades já desenvolveram projetos que regulamentam a atividade. Em Taubaté, os vereadores discutem, a possibilidade de incluir no cadastro de flanelinhas pessoas que já cumpriram pena, como forma de ressocialização. Entre as mudanças em debate estão a de autorizar que os flanelinhas não atuem nos locais em que há Zona Azul. Eles são identificados por coletes e crachás. 
Já o projeto implantado em Caraguatatuba chega ao ponto de hoje contar com uma Associação de Guardadores de Carro. A associação é frequentemente procurada por empresários que contratam os guardadores para trabalhar durante festas e eventos. A própria Igreja Católica buscou associados para prestar serviços durante festas e teve resultados positivos, a queda no número de roubo de carros. Entidades como o Sebrae ajudam na capacitação dos associados. Para se cadastrar é preciso atender alguns requisitos: morar no município há três anos, ser um chefe de família ou aposentado ou portador de deficiência física. (C.L.)


Fonte:Mogi News