quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dilma agora tenta sair da berlinda

BRASÍLIA




Depois de enfrentar três semanas de desgaste e ouvir críticas por supostos imobilismo e falta de habilidade política, a presidente Dilma Rousseff aproveitou a despedida de Antonio Palocci - homem forte do governo e ministro da cota do ex-presidente Lula - na tentativa de mostrar a mesma influência do início do mandato e ressaltar a imagem de chefe de seu próprio governo.


Em solenidade no Planalto, ela fez questão de dizer que escolheu sozinha a senadora Gleisi Hoffmann para substituir Palocci na Casa Civil e que não ficará "imobilizada". "Assim como estou triste pela saída de um parceiro de luta, não posso deixar de afirmar que estou satisfeita pela solução que encontrei para assegurar a imediata continuidade do trabalho do gabinete civil da Presidência da República", afirmou.


O discurso de Dilma teve um diferencial. Ao contrário de quase todos os pronunciamentos anteriores no Planalto, ela não citou Lula. No momento em que a demissão de Palocci é vista como verdadeiro início da gestão Dilma por setores políticos, a falta de referência da presidente ao seu antecessor foi observada por assessores de governo. Em alguns dos 58 discursos feitos no palácio e durante viagens, ela chegou a citar o ex-presidente três vezes.


Durante a crise, Lula deixou Dilma numa berlinda política depois que se deslocou para Brasília na tentativa de salvar Antonio Palocci, suspeito de tráfico de influência e enriquecimento ilícito. A intervenção de Lula no debate no governo sobre a permanência de Palocci foi o bastante para Dilma ser criticada nos holofotes pelos opositores e nos bastidores pelos aliados por suposta dependência em relação ao antecessor.


No discurso de despedida de Palocci, Dilma afirmou que também tinha relação política e pessoal com o petista, ensaiando um semblante de emoção para "lamentar" a saída do "querido amigo". "Agradeço do fundo do meu coração o que Antonio Palocci por tudo o que ele fez por mim, pelo governo e pelo Brasil."


Ela avaliou que o ministro demitido foi um dos "artífices da jornada vitoriosa" da campanha de 2010. "Eu estaria mentindo se dissesse que não estou triste", disse a presidente. "Tenho muitos motivos para lamentar a saída do ministro Antonio Palocci, motivos de ordem política, administrativa e pessoal."


Na solenidade de "recomeço" de governo, Dilma ensaiou uma crítica à atuação dos opositores e voltou a mandar o recado que reagirá a ataques. "É do jogo democrático enfrentarmos a oposição, quase sempre ruidosa, nem sempre justa", afirmou. "A pressão e as criticas não vão inibir a ação do meu governo", ressaltou. Durante a crise que culminou com a queda de Palocci, a presidente tinha dito que não era "refém" de aliados e opositores.


Depois, a presidente mandou a ministra se preparar para os "compromissos ousados" assumidos pelo governo. "Vamos manter a economia em crescimento, controlar a inflação, garantir a rigidez fiscal, criar mais e mais empregos, investir pesadamente em educação, fortalecer a nossa classe média e distribuir renda", disse. "Temos promessas e vamos cumpri-las", completou. "Tenho certeza que você será bem sucedida, pois a conheço bem e conheço as atribuições do cargo que você vai assumir."


Diante de Dilma, Gleisi disse que atuará na Pasta tendo como exemplo a presidente, a qual ocupou o cargo no governo de Lula. "Foi aqui nesta mesma Casa Civil que a presidente mostrou sua capacidade", afirmou. Gleisi, que também terá a função de fazer articulação política, elogiou lideranças do Legislativo. "A política dá sentido à técnica e essa técnica dá sentido à política".

Fonte:O Diário de Mogi