Funai rejeita pedido para forçar contato com tribos indígenas isoladas
Pedido foi feito por dois antropólogos dos EUA. Em resposta, Funai afirmou que contato forçado expõe tribos a doenças e violência
8 jul, 2016
Funai rejeita pedido para forçar contato com tribos indígenas isoladas
Funai diz que política de contato já foi tentada e teve resultados catastróficos (Foto: EBC)
O Brasil rejeitou e teceu fortes críticas ao pedido de dois antropólogos americanos para forçar o contato com tribos indígenas isoladas da Amazônia de forma a garantir a sobrevivência delas.
Em uma carta aberta divulgada na última quinta-feira, 7, e assinada por 18 especialistas em políticas indígenas, a Fundação Nacional do Índio (Funai) rejeitou a visão de Robert Walker e Kim Hills, que afirmaram que permanecerem isoladas “não é uma opção viável a longo prazo” paras as tribos na Amazônia que nunca tiveram contato externo. Estima-se que há entre 50 e 100 tribos nessa situação.
Walker e Kim são professores das universidades do Missouri e do Arizona. No ano passado, eles publicaram um artigo na revista Science defendendo que “o contato controlado é a única maneira possível de proteger essas tribos”. Os antropólogos criticaram a política brasileira, classificada por eles de “política do deixem eles sozinhos” e afirmaram que “o contato controlado é melhor que nenhum contato”.
No entanto, os especialistas da Funai argumentam que o contato pode gerar grandes riscos, incluindo a perda de terras e recursos para pessoas violentas, a exposição a doenças contra as quais os índios não têm nenhuma imunidade e a perda da autonomia das tribos. O órgão afirma que a política de contato já foi tentada e teve resultados catastróficos.
“Nunca há um controle absoluto em situações de contato. […] Vale lembrar que a prática adotada pelo Brasil durante a intensa expansão econômica das décadas de 1970 e 1980, resultou na ampla desintegração e morte de indígenas que, até então nunca tiveram contato externo”, diz a carta da Funai.
O órgão afirma que o crescimento observado nas últimas décadas na população de tribos isoladas em várias partes da Amazônia prova que a política do órgão de mapear, monitorar e respeitar a autonomia das tribos é a forma correta de protegê-las.
A decisão da Funai foi elogiada pelo grupo de direitos humanos britânico Survival International. O grupo classificou o artigo dos antropólogos americanos como “perigoso e equivocado”.
Sarah Shenker, integrante do grupo que se dedica à preservação de tribos indígenas, disse em entrevista à Reuters que a Funai tem pleno conhecimento da situação e sabe exatamente como proceder. “A mensagem deles é bem sensata. São eles que estão em campo, observando o que acontece em casos em que há o contato”.
Fonte:Jornal Impresso Brasil