domingo, 21 de abril de 2013

Nadia Elui Bacci e sua arte de ensinar


Nadia Elui Bacci e sua arte de ensinar
DOM, 21 DE ABRIL DE 2013 00:00
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Nadia Elui Bacci, 59 anos, conta histórias vividas no Magistério, área à qual se dedica há quatro décadas / Foto: Gustavo Rejani


Ensinar a ler e escrever é a grande paixão de Nadia Elui Bacci. A tarefa a acompanha desde o início da década de 70, quando se formou no curso de Magistério do Liceu Braz Cubas, e ainda hoje ela está envolvida na alfabetização, trabalhando na formação dos professores que atuam nesta área. Nascida em Guararema, Nadia passou a infância e adolescência na Cidade, ao lado dos pais, o ex-funcionário público dos Correios, advogado e contador Abdel Rahman Elui e Olga Elui, e do irmão Armando. Aos 15 anos, vinha para Mogi das Cruzes estudar o colegial no Instituto de Educação Dr. Washington Luís. Em seguida, formou-se em Magistério no Liceu Braz Cubas, mudou-se com a família para a Cidade, onde começou a lecionar no início da década de 70, no Núcleo de Educação e Cultura (NEC), na Vila Oliveira, e ingressou na Faculdade de Ciências Físicas e Biológicas da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Lá também fez Biologia e pós-graduação em Psicopedagogia. Mas como sempre gostou de estudar, cursou ainda Pedagogia e Decoração na Universidade Braz Cubas (UBC). Durante 15 anos, deu aulas para alunos da pré-escola do NEC, em seguida trabalhou no Colégio Santa Mônica e em consultório, mas em 1996 iniciou a carreira na rede estadual e passou a lecionar Ciências e Matemática no Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries) e Biologia  no Ensino Médio, na E.E. Professor Rodolpho Mehlmann. Quatro anos depois se tornou professora efetiva e deu aulas nas escolas estaduais José Benedito Leite Bartolomeu, na região da Divisa de Mogi, Suzano e Itaquaquecetuba, e Tadao Sakai, em Quatinga, até que assumiu como assistente técnico pedagógico da Diretoria Regional de Ensino de Mogi, onde atualmente trabalha. Na entrevista a O Diário, ela conta suas histórias vividas no Magistério e em Mogi das Cruzes:

Quais as recordações de sua infância?

Nasci em Guararema e morávamos na Rua Marcondes Flores, na região central. Na frente do terreno ficava a casa e nos fundos havia um pomar, onde passei a infância subindo em árvores, além de brincar na rua com as crianças até tarde e andar de bicicleta. Foi uma infância maravilhosa e muito tranquila.

Onde a senhora estudou?

Fiz o primário e ginásio em Guararema, mas não havia colegial por lá e, aos 15 anos, vinha todos os dias para Mogi estudar no Instituto de Educação Dr. Washington Luís, onde tive professores como Niquinho (Antônio Freire Mármora), que na época fez o hino da escola, Osmar Teixeira Serra, José Ayulmar (de Miranda), Cidinha, Jader, além da dona Lígia, que dava aulas de Desenho, era muito brava e excelente profissional. O diretor era o doutor Epaphras (Gonçalves Ennes) e lembro que como ele não parava, as pessoas precisavam ir andando ao lado dele pelos corredores quando precisavam falar algo. Foi um tempo muito bom, a maioria dos mogianos estudava lá e todos participavam dos desfiles cívicos, principalmente os de aniversário da Cidade, em 1º de setembro, sempre acompanhados pela fanfarra da escola e marcados pela rivalidade com os estudantes do Liceu Braz Cubas.

E o Magistério?

Naquele tempo, ficávamos três anos no curso colegial normal e no quarto podíamos optar pelo Magistério, que fiz no Liceu Braz Cubas, onde me formei na turma de 1972. Lá também aprendi muito, principalmente com os professores Percy (Benedicto de Siqueira), Neimar Squarcine, Alceu Salvarani e Vera Boucault. Da minha turma, fizeram parte Ivonete Pimentel Fernandes, Tânia, Madre Conceição, que era do Instituto Dona Placidina, Nair Cury, Rosália, entre outros. Após o curso, queria fazer faculdade, mas meu pai não me deixou mais viajar todos os dias porque o curso era noturno. Como ele era funcionário público dos Correios, pediu transferência para Mogi e viemos morar na Rua Dr. Ricardo Vilela, onde meu pai ainda tem o escritório de advocacia e contabilidade.

Como era esta região da Cidade?

A Ricardo Vilela já era movimentada, mas nada comparado aos dias de hoje. Mesmo assim, nesta época já tinha calçamento, várias residências e repúblicas de estudantes. Os alunos da Faculdade de Medicina tinham aulas na Policlínica, ali perto. Quando conheci meu marido (Luiz Carlos Bacci, ginecologista, falecido em 2006), ele estava no terceiro ano da Faculdade e morava a um quarteirão da minha casa, mas a primeira vez que nos falamos foi no Claudio’s, um bar nas proximidades da UMC que funcionava como um clube, onde podíamos, inclusive, jogar boliche. O dono, chamado Claudio, era um empreendedor de bares na Cidade e também comandava o Cacuia, na Rua Coronel Souza Franco. Ele veio conversar comigo e descobrimos que havíamos nascido no mesmo dia, mês e ano. Nós namoramos um ano e nos casamos na Igreja do Carmo, em cerimônia feita pelo frei Crisóstomo, o frei Fofinho. Na época, havia um forte movimento de jovens estudantes cristãos na Cidade, o Fecicram, do qual participavam também o Wilson Cury, da Casa São João; e vários professores. Nós fazíamos encontros, retiros, reflexões e sensibilizações sobre família, amor e religião. Outros se envolviam nos bastidores, como na cozinha, ajudando a preparar a alimentação dos alunos durante estes eventos. Paralelamente, havia o retiro de casais.

Ficaram mais lembranças de sua juventude em Mogi?

Logo que me mudei para cá, passava dias e até férias na chácara da avó da minha amiga Rosiema Margenet, na região acima de onde hoje está construído o hipermercado D’avó. Por ali só havia algumas casas, a padaria, a praça e a Igreja (Nossa Senhora do Socorro). A Cidade vivia lotada de estudantes, principalmente das universidades, que trouxeram muitos jovens de fora para estudar aqui. Ir aos cinemas Avenida e Urupema eram passeios religiosos. Havia outros pontos de encontro, como a boate Labouche, em frente ao Liceu Braz Cubas, e o bar na esquina da escola. Também frequentávamos os bailes de debutantes, muito comuns na época.

Qual foi seu primeiro emprego?

Foi como secretária no escritório do Dr. Limongi (José Limongi Sobrinho) e do genro dele, o Dr. Roberto (José Roberto Sterse), no Edifício Drogasil, na Dr. Deodato Wertheimer, onde no mesmo corredor ficavam as salas do Dr. Bóris Grinberg e do engenheiro Miguel Gemma. Fiquei três anos com eles, cuidando de todos os pagamentos e lembro que o Dr. Limongi também era secretário municipal e tinha gabinete em cima do Cine Urupema, onde era a Biblioteca Municipal. Gostava de trabalhar lá porque vivia cercada de livros e aprendi muito com eles. Nos bancos, quando íamos fazer depósitos, havia caixas com as fichas dos correntistas, onde eram anotados os valores. Hoje, nem vemos mais o dinheiro que movimentamos nas agências bancárias, porque tudo é feito virtualmente. Fico admirada com esta rápida evolução.

Quando teve início sua carreira no Magistério?

Após a conclusão do curso, era difícil conseguir uma escola para trabalhar. Então, comecei a fazer o curso de Ciências Físicas e Biológicas na UMC (Universidade de Mogi das Cruzes) e fiquei como auxiliar do professor Ayumar. Um dia, a coordenadora do NEC (Núcleo de Educação e Cultura Estância dos Reis), professora Silvana, pediu à professora Durcília (Verreschi), que coordenava a Faculdade, a indicação de alunos para estágios. Ela falou com o professor Ayulmar, que indicou três estudantes e fui uma delas. Assim ingressei no NEC em 1975 e fiquei até 1990.

Como foi seu trabalho lá?

Alfabetizava alunos de 6 anos, da pré-escola, e sempre adorei esta tarefa de ensinar a ler e escrever. Foi uma experiência excelente, o diretor era o professor Marcos, que investia muito na formação dos professores e sempre recebíamos profissionais de São Paulo para comandar estas atividades. Na Cidade, encontro com ex-alunos, principalmente na academia, que me reconhecem e lembram suas histórias na escola.

Fonte: O Diário de Mogi