sábado, 4 de fevereiro de 2012

Suspeita de fraude Estado garante atendimento a pacientes de câncer em Mogi


Atendimento oncológico deverá ser assumido pelo Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo
Jamile Santana
Da Reportagem Local
Erick Paiatto

Maria Isabel: SP é longe
O secretário estadual de Saúde, Giovanni Guido Cerri, garantiu que os pacientes com câncer atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital do Câncer "Doutor Flávio Isaías Rodrigues" não serão transferidos para São Paulo caso a unidade seja descredenciada por irregularidades. O anúncio foi feito ontem durante reunião entre o secretário e o prefeito de Mogi das Cruzes, Marco Aurélio Bertaiolli (PSD). 
"Falei que é inadmissível ficar sem este serviço em Mogi das Cruzes. O secretário me garantiu que, se houver de fato o descredenciamento do Centro Oncológico, ele implantará outro serviço em Mogi das Cruzes. Este atendimento deverá ser assumido pelo Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo", explicou o prefeito.


A possibilidade de descredenciamento é resultado de uma auditoria que teria encontrado irregularidades em prontuários e uma suspeita de que o hospital pode ter fraudado o SUS em até R$ 20 milhões nos últimos dois anos. Diante da série de irregularidades, a secretaria irá solicitar ao Ministério da Saúde o descredenciamento da unidade do SUS, além de notificar o caso ao Ministério Público e entidades representativas do setor de saúde. Também irá solicitar a devolução dos recursos do SUS recebidos de forma indevida e irregular pelo hospital.


A análise dos prontuários apontou cobrança de dinheiro a pacientes atendidos pelo SUS, e que, portanto, deveriam ter sido atendidos gratuitamente, duplicidade de cobrança ao SUS e de empresas de planos de saúde por um mesmo tratamento e preenchimento de autorizações de internações e procedimentos médicos de alto custo com valores acima do tratamento efetivamente realizado.


"O secretário se comprometeu a avaliar os documentos que o hospital enviou como resposta à auditoria. Mas deixei claro que a cidade de Mogi das Cruzes não aceita a transferência dos pacientes com câncer para São Paulo e eu acredito que eles não podem ´pagar o pato´ por uma questão burocrática entre a secretaria e o hospital", afirmou o prefeito. 
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que "técnicos apontaram que o hospital fazia tratamentos experimentais, com uso de placebo, sem o pleno conhecimento dos pacientes ou de seus responsáveis, e não mantinha escala de médicos, enfermeiros e farmacêuticos em tempo integral, infringindo as diretrizes dos conselhos de classe e prejudicando a assistência prestada aos pacientes". E que com o descredenciamento da unidade, os pacientes matriculados na unidade também deverão ser transferidos ao Icesp, momentaneamente, até que a secretaria contrate ou implante um novo serviço de oncologia na região do Alto Tietê.


Pacientes
O possível descredenciamento do Hospital do Câncer traz preocupação e dúvidas para os pacientes. Quem esperava pela consulta ontem estava apreensivo com a possibilidade de ter de passar a ser atendido em São Paulo: "Faz dois anos que faço tratamento aqui. Se tiver que mudar para São Paulo vai ficar mais complicado. Não tenho como ir porque moro em Biritiba Mirim", argumentou Maria Isabel Cordeiro, de 58 anos. Ela contou que já realizou tratamento de radioterapia, quimioterapia e agora passa frequentemente pelo hospital para realizar exames.


A preocupação da mudança do local do tratamento não atinge apenas o paciente, mas toda a família que acompanha o caso. Outro agravante é a saúde debilitada das pessoas que passam pelo tratamento: "Há ano e meio faço tratamento neste hospital. Tive câncer no seio e o tratamento aqui é ótimo. Em Mogi fica tudo mais fácil. Dependo da minha nora para me levar às consultas", disse a dona de casa Amélia Lima Rodrigues, 87. 
Sueli Simões de Castro Rodrigues, 54, é a nora da dona de casa e vive duplamente a agonia da possível transferência. Isso porque ela também faz tratamento no Hospital do Câncer. "Não tem condições. Estou fazendo tratamento de câncer de mama e ela também. Só eu tenho como cuidar dela. Como vou levá-la se ela não consegue nem subir para o ônibus direito? Não tem como ir para longe. Como vou fazer meu tratamento?", indagou. (Com colaboração de Luana Nogueira)


Fonte:Mogi News