terça-feira, 25 de outubro de 2011

ONGs vão delatar esquema, diz PM


PROVAS Dias entregou documentos, 13 áudios, um celular e mídias que, a seu ver, comprovam os desvios


BRASÍLIA
Em novo depoimento, que durou mais de quatro horas, o policial militar João Dias disse ontem à Polícia Federal que pelo menos 20 organizações não governamentais (ONGs) estariam dispostas a delatar o esquema de arrecadação de propina que o PC do B teria montado no programa "Segundo Tempo", do Ministério do Esporte. Os representantes das entidades, segundo o PM, vão depor nos próximos dias.


Como havia prometido no primeiro depoimento, na semana passada, Dias entregou documentos, 13 áudios, um celular e mídias que, a seu ver, comprovam os desvios de recursos públicos. O material será submetido à perícia da PF. Entre as mídias estão dois áudios, transcritos na edição da revista "Veja" desta semana, nos quais dirigentes do ministério instruem o policial a fraudar documentos de prestação de contas de convênios firmados entre a pasta e duas ONGs que ele dirige.


Segundo o policial, nenhum dos áudios contém a voz do ministro Orlando Silva e nenhuma das provas o atinge diretamente. Mas Dias considera ser impossível que o titular da pasta não soubesse do esquema. "Se ele não sabia, como alega, não devia se considerar ministro, porque as exigências eram feitas por assessores diretos, dentro do ministério e em nome dele", argumentou. "O próprio secretário executivo dele me atendeu para dar instruções em seu nome."


O esquema, detalhou Dias, incluía o pagamento, pelas ONGs conveniadas, de um pedágio de 10% a 20% para um escritório de consultoria e a contratação dos serviços de um cartel de seis empresas ligadas ao PC do B, indicadas pela cúpula do ministério. Pelo menos 20% da verba dos convênios firmados com 300 ONGs, conforme o policial, eram desviados - parte desse dinheiro financiaria a estruturação do partido e campanhas de candidatos.


"Fui vítima de chantagem e retaliações porque não aceitei as condições absurdas que me exigiam", afirmou o delator, em entrevista. Além dessas ONGs, Dias deu à PF os nomes de outras dez entidades que, segundo ele, aceitaram as condições para obter verba do "Segundo Tempo".


As ONGs, para não serem retaliadas ao prestar contas, teriam de comprar produtos e serviços de um pool de seis empresas, segundo o delator.


Dias deu à PF os nomes das empresas: Infinita Comércio, Linha Direta, JG, Transnutre, HS e Capte Comércio. Todas serão intimadas a prestar esclarecimentos à PF.


Além das ONGs que se propõem a depor espontaneamente, Dias fez referência a outras dez entidades que ele afirma ter certeza de que aceitaram pagar o preço ao PC do B para obterem contratos. Cinco são de Brasília, uma do Rio e uma de Santa Catarina. O PM incluiu nessa lista três entidades da Bahia, mas sem revelar seus nomes.


Pelas acusações do policial militar, o esquema seria operado dentro do ministério por assessores diretos de Orlando, entre os quais o chefe de gabinete, o secretário executivo, o secretário nacional de Esportes Educacionais e os chefes de áreas técnicas e jurídica.


No front externo, os operadores da arrecadação, segundo ele, seriam o ex-presidente regional do PC do B, Apolinário Rebelo, irmão do deputado Aldo Rebelo (SP), e o dirigente Fredo Eberling Ambos já negaram a acusação. A PF não divulgou o teor do depoimento e informou, pela assessoria, que ainda não fechou o calendário de intimações.


Orlando tem negado sistematicamente as acusações, feitas a seu ver por um "bandido" e "desqualificado". Dias retrucou no mesmo tom: "Estou provando quem é o bandido desqualificado".


Fonte:O Diário de Mogi