domingo, 30 de outubro de 2011

Aníbal se torna principal entrave para aliança entre PSDB e PSD

Lula Marques - 17.set.2009/Folhapress
Em 2004, o tucano José Aníbal quis ser prefeito de São Paulo. Em 2006, governador. Em 2010, o alvo era o Senado. Em cada uma dessas eleições, ele deixou suas ambições de lado e apoiou outro nome do seu partido, o PSDB.


A última desistência foi sacramentada na tarde do dia 3 de maio do ano passado, quando Aníbal despachou um amigo para o apartamento em que Geraldo Alckmin discutia os preparativos para o lançamento de sua campanha ao governo estadual.


O emissário comunicou que Aníbal abriria mão de concorrer ao Senado em favor de Aloysio Nunes, braço direito do ex-governador José Serra, em nome da "unidade" dos tucanos paulistas.


Muita gente temia na época que os aliados de Serra boicotassem a campanha de Alckmin ao governo se Aníbal insistisse em disputar com Aloysio a vaga no Senado, expondo publicamente as divisões existentes no partido.


Aníbal virou secretário estadual de Energia com a eleição de Alckmin e agora se prepara para tentar de novo. Ele quer ser prefeito de São Paulo e se recusa a retirar seu nome da disputa antes da prévia convocada pelo PSDB para escolher seu candidato.


A votação está prevista para janeiro e Aníbal acredita ter maioria suficiente para vencer seus rivais no partido, o secretário de Cultura, Andrea Matarazzo, o de Meio Ambiente, Bruno Covas, e o deputado Ricardo Trípoli.


Há ainda Serra, uma espécie de adversário virtual. Ele é considerado um dos poucos nomes capazes de unir os tucanos e o grupo do prefeito Gilberto Kassab (PSD) na eleição. Serra nega ter interesse na disputa, mas é visto como alternativa nos dois partidos.


Muitos políticos vêem a aliança de tucanos e kassabistas como a única maneira de impedir que o PT volte a controlar a Prefeitura de São Paulo, mas Aníbal avisou aos mais próximos que desta vez não abrirá mão de sua candidatura nem se isso for necessário para viabilizar a união.


Aníbal gosta de dizer que abandonou seus planos nas eleições anteriores por ser "homem de partido". Mas até aliados dizem que seu gênio difícil também é parte do problema. "Ele faz política como um elefante numa sala de cristais", afirma um amigo.


MATEMÁTICA


Filho de um rico comerciante cearense e uma descendente de espanhóis, Aníbal nasceu em Guajará-Mirim (RO). Ao dez anos, deixou a cidade para estudar no Rio. Recebia mesada, mas ampliava seu dinheiro vendendo aos amigos jogos de lençóis e outros artigos que a mãe lhe mandava em excesso.


Ele entrou na política pela porta do movimento estudantil em Minas Gerais, para onde se mudou em 1966. Foi lá que conheceu a presidente Dilma Rousseff, com quem mantém contato até hoje.


Em entrevista à Folha no ano passado, ela lembrou que Aníbal era fraco em matemática e isso contribuiu para aproximá-los. "Fui estudar com ele, na minha casa, todos os dias", disse Dilma.


Os dois foram militantes da Organização Revolucionária Marxista Política Operária, a Polop, um dos grupos de esquerda que combateram a ditadura militar (1964-1985).


Ele afirma que nunca participou de ações armadas, mas admite ter escondido armas para os companheiros e ter emprestado para o grupo um Fusca verde abacate que ganhara de presente do pai.


O secretário diz manter boa relação com Dilma. Em entrevista à Folha na quinta-feira, Aníbal citou pelo menos quatro vezes a presidente. Mas ele nega ter precisado de sua ajuda com a matemática.


Ao participar recentemente de um evento oficial em São Paulo, Dilma fez questão de mencionar o nome do antigo companheiro ao discursar. Aníbal foi o único secretário de Alckmin que citou.


Aníbal partiu para o exílio em 1973, com o endurecimento do regime militar, e viveu no Chile e na França. Voltou com a anistia, em 1979, e estabeleceu-se em São Paulo.


Participou da fundação do PT, mas saiu do partido após cerca de um ano. Pouco depois, foi para o PMDB, a convite de Mário Covas. Uma década mais tarde, seguiu Covas e o grupo que saiu para criar o PSDB.


Aníbal elegeu-se deputado federal pelo PSDB e foi líder do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante seu primeiro mandato, quando garantiu a aprovação das reformas constitucionais propostas pelo governo e da emenda que permitiu a reeleição de FHC em 1998.


A atuação no Congresso fez aumentar a fama de difícil de Aníbal e levou os desafetos a chamá-lo de "José Inábil", apelido que até hoje o incomoda. "Fui líder do governo e da bancada e presidente do PSDB. Acha que sou inábil?"


PUNHAL


O secretário é do tipo caseiro, que gosta de receber os amigos no espaçoso apartamento em que vive no bairro de Higienópolis, no centro de São Paulo. Ele adora livros, música clássica, MPB e jazz.


"Ele cozinha divinamente bem. Peixes amazônicos são sua especialidade", diz a psicanalista Anna Verônica Mautner, que deu aulas para a mulher de Aníbal, Edna, e tornou-se amiga da família.


"Eu me aproximei muito deles depois do que houve com o Ulisses", explica.


Ulisses foi o primeiro filho de Aníbal. Ele morreu afogado em 1998, aos 16 anos de idade. "É uma coisa da qual você nunca se recupera", diz o secretário, apontando a barriga antes de continuar. "É um punhal aqui, que não sai e todo dia dá uma pontada."


Na batalha para garantir seu lugar na corrida à prefeitura, Aníbal conseguiu uma vitória quinta-feira. Aliado aos outros três pré-candidatos tucanos, arrancou da direção do partido um compromisso para antecipar a prévia para o fim de janeiro de 2012.


Os entusiastas da aliança com Kassab queriam adiar até março. Isso daria tempo para Serra entrar na disputa, mas prejudicaria Aníbal e os outros pré-candidatos, menos conhecidos dos eleitores.


Aníbal se comporta como se a eleição municipal fosse amanhã. Na sexta-feira, mandou um assessor ligar para transmitir um recado. "Ele quer avisar que gosta de música clássica, mas também vai ao forró e curte sertanejo."


Fonte:Folha de S.Paulo