sábado, 24 de setembro de 2011

Senado vai engavetar Emenda 29

SENADO Segundo alguns senadores, governo está preocupado neste momento em votar outros temas polêmicos, como o Código Florestal


O Senado vai engavetar o projeto de lei complementar que regulamenta a destinação de recursos para a Saúde - a chamada emenda 29. Aprovada ontem na Câmara, a proposta não será votada este ano pelos senadores. Motivo: líderes aliados detectaram um movimento na base para que o Senado ressuscite no projeto o mecanismo que obriga a aplicação de 10% da receita corrente bruta da União no setor. Essa vinculação injetaria mais recursos no setor. Em 2010, o governo destinou cerca de R$ 60 bilhões.


"Não há hipótese de o governo aceitar o restabelecimento dos 10%", afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). "Como existe essa possibilidade dos 10% voltarem, vão empurrar o projeto com a barriga para o ano que vem", previu o senador Paulo Paim (PT-RS), um dos favoráveis à obrigatoriedade dos 10% da receita da União para a Saúde.


"Não interessa ao governo votar esse projeto agora", resumiu o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Segundo ele, o governo está preocupado neste momento em votar outros temas polêmicos, como o Código Florestal e o projeto que distribui os royalties da exploração e comercialização do petróleo da camada pré-sal.


Depois da derrubada na Câmara da Contribuição Social para a Saúde, os líderes aliados temem que os governadores de Estado acabem pressionando os senadores pela restituição do mecanismo que vincula 10% da receita da União para a Saúde. A maioria dos governadores é favorável à criação de um tributo para financiar a Saúde. Mas essa fonte de receita ficou inviável no projeto que regulamenta a emenda 29 com o fim da CSS.


Nem os deputados nem os senadores estão dispostos hoje a "abraçar" a ideia de um projeto com a instituição de imposto para custear a Saúde, nos moldes da extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). "CPMF não! De jeito nenhum!", reagiu o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), que em 1995 foi relator do projeto do então governo Fernando Henrique Cardoso que criou a contribuição de 0,20% sobre todas as transações financeiras.


"Não há clima para o Congresso discutir a volta da contribuição. Há uma pressão muito grande da sociedade contra essa proposta", observou o líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO).


Pelo projeto de lei complementar, os governos de Estado terão, no entanto, vincular 12% de sua receita para a Saúde. Nos municípios, o percentual é de 15%. O texto aprovado na Câmara desobriga a União a destinar um percentual de sua receita para o setor. O governo federal precisará apenas manter o mesmo patamar de gastos, que equivale ao orçamento do ano anterior mais a variação do PIB (Produto Interno Bruto) nominal.


Daí a pressão dos governadores que querem receber mais recursos da União, obrigando-a a destinar um percentual de sua receita para a Saúde.


A rebeldia da base em prol dos 10% de vinculação da receita da União para o setor tem o apoio da oposição. "Vamos insistir naquilo que foi votado no Senado. Não nos venha com a ideia de criar imposto novo ou nova receita para financiamento da saúde. Não precisa. Um País que fala em trem-bala para beneficiar uns poucos não tem autoridade moral para falar em mais recursos para a saúde", argumentou o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN).


O projeto de lei complementar que regulamenta a emenda constitucional 29 estava parado na Câmara há três anos. Sua votação foi concluída anteontem pelos deputados, apesar da pressão contrária do Planalto. Aprovado em 2008 no Senado, o projeto estabelecia a destinação de 10% da receita da União para investimentos na Saúde.


A vinculação para o governo federal foi retirada na Câmara que, num primeiro momento, criou a CSS. Essa contribuição foi derrubada anteontem pelos deputados, que, apesar de chancelarem a criação do imposto, tornaram-no sem efeito ao derrubar o artigo que estabelecia a base de cálculo. "Esse projeto demorou três anos na Câmara. Não tem porque correr agora no Senado", concluiu o líder Jucá.


Fonte:O Diário de Mogi