domingo, 25 de setembro de 2011

Na sala de aula Educadores discutem violência em alta de alunos contra professores

Casos mais recentes serviram para mais uma vez mostrar a fragilidade do sistema educacional no País
Cleber Lazo
Da Reportagem Local
Daniel Carvalho

Inês: sucateamento da escola
Sociedade violenta, falta de investimentos em projetos educacionais e estrutura física, valores ligados ao consumo, transformação da escola em "guardadores de crianças" e a desvalorização do professor. Estes foram alguns dos motivos apontados por educadores e professores ouvidos pelo Mogi News sobre um tema que repercutiu negativamente no Estado na semana passada: as cenas de violência cometidas por alunos contra professores dentro das salas de aula. 
Na segunda-feira da semana passada, um estudante mogiano de 14 anos agrediu uma professora de Matemática na Escola Estadual Euryclides de Jesus Zerbini, no Jardim Margarida. A vítima foi atingida por um soco nas costas, depois de ter pegado o celular da carteira do aluno. O jovem teria se recusado a desligar o aparelho. 
Dois dias depois, um novo caso de violência. Este com proporções gigantescas. Um aluno de 10 anos da 4ª série da Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, atirou na professora Rosileide Queiros de Oliveira, 38. Em seguida, ele se matou com um tiro na cabeça.


Os casos serviram para mais uma vez mostrar a fragilidade do sistema educacional, comprovada por meio das entrevistas feitas com seis profissionais de educação. Eles tiveram um discurso quase uníssono em afirmar que o caso de São Caetano deve ser usado como marco para mudar o sistema educacional brasileiro.


Opiniões
A conselheira regional do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Inês Paz, avaliou que "a política de sucateamento trouxe como reflexo as tensões para dentro da sala de aula". "A escola deixou de ser um local da busca pelo conhecimento e se transformou em um depósito de crianças", afirmou.


Já o coordenador da Apeosp de Mogi das Cruzes, Roberto Fukumaro, acredita que a família precisa ser co-responsável pela educação dos jovens. "Os parentes hoje em dias não têm conseguido identificar comportamentos anormais dentro de casa. Hoje, a escola é um ambiente hostil, muito em reflexo da sociedade", disse.


Com 35 anos de experiência na rede pública de ensino, a professora e ex-vereadora de Mogi, Sônia Sampaio, destacou que "chegou o momento do governo e da sociedade definirem o que desejam a partir de agora da educação brasileira. "Episódios como estes chocam a todos, mas se não tomarmos uma atitude eles se tornarão fatos rotineiros", salientou.


O presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo, Celso Napolitano, que representa os educadores da rede particular de ensino, tem um posicionamento semelhante ao da ex-vereadora. "O desprestígio social do professor gera essa violência injustificada. Enquanto tudo que o aluno faz é permitido, nada que o professor realiza é respaldado. Se a progressão continuada é um assunto polêmico na rede pública, o aluno/cliente é o mal na rede particular. Se o pai paga, o aluno é obrigado a ser aprovado", revelou. "A sociedade precisa tomar o seu lugar e passar a discutir como sair desta situação e este é o ano para isso, quando o governo elabora o Plano Nacional da Educação que definirá as diretrizes para os próximos 10 anos", alertou.


Fechar para balanço
"Chegou a hora das escolas chamarem alunos, governantes e educadores reunir todo mundo e fechar as portas das instituições de ensino para fazer um balanço", salientou o historiador e professor universitário Mario Sérgio de Moraes. 
"Há algum tempo que o mundo é movido pelo consumismo. O mercado é voraz e ninguém tem mais o sentido de solidariedade. A escola está inserida neste meio e o que acontece fora da sala de aula, também acontece dentro dela", comparou.


A historiadora Ivone Marques conta ser "preciso separar o caso de São Caetano, por se tratar de um fato isolado, causado por um problema patológico". "De maneira geral, a escola perdeu o sentido original de educar e hoje é tratada como uma aprisionadora de alunos". "Se perguntarmos para 10 estudantes se eles aprendem mais na sala de aula ou na internet, pelos menos nove dirão internet. A degeneração cultural traz como reflexo a aglutinação de jovens aprisionados horas dentro das escolas", opinou.


Fonte:Mogi News