quinta-feira, 16 de junho de 2011

Santa Casa nega morte por infecção

MARA FLÔRES

A Secretaria de Saúde de Suzano e a direção da Santa Casa de Misericórdia negaram ontem, mesmo diante do laudo da Vigilância Epidemiológica Estadual publicado com exclusividade por O Diário anteontem e já em poder do Ministério Público (MP), a ocorrência de quatro mortes por infecção hospitalar – além de um quinto caso compatível - na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do hospital, que está interditada desde o último dia 3, depois que nove bebês vieram a óbito no mês de maio, enquanto a média mensal até então era de dois falecimentos. Mesmo com reafirmações exaltadas de que não conhece oficialmente o documento, o que é contestado pela Secretaria de Estado da Saúde (leia mais nesta página), os representantes municipais informaram que já solicitaram a impugnação do laudo que atesta os óbitos e anteciparam que a Cidade depende de um repasse do Estado da ordem de R$ 500 mil para corrigir os problemas estruturais existentes no setor que, só então, poderá voltar a funcionar.


Ontem à tarde, mais uma vez, a Secretaria Municipal de Saúde e a direção da Santa Casa convocaram entrevista coletiva para tentar, por meio de acusações ao Estado, Ministério Público e até mesmo à imprensa, minimizar o fato de nove bebês terem vindo a óbito num único mês na UTI Neonatal. Desde a divulgação das mortes de quatro recém-nascidos num intervalo de apenas 13 horas em meados de maio, os indicativos apontavam para um possível quadro de infecção hospitalar, suspeita essa confirmada pelo laudo da Vigilância Epidemiológica entregue na última segunda-feira ao MP, mas que o Município contesta insistentemente com o argumento de que os óbitos não passaram de uma fatalidade em razão do aumento da demanda, de se tratarem de bebês de alto risco (a UTI existe para atender exatamente esse tipo de paciente) e de que a interdição do setor só ocorreu por problemas estruturais.


"Negamos a morte por infecção hospitalar", declararam o interventor da Santa Casa, Marco Antonio Grandini Izzo, a secretária municipal de Saúde, Célia Bortoletto, e o médico neonatologista, Luiz Carlos Zamarco. "Fizemos análises em 30 pontos dentro da UTI. Se tivesse infecção, esse foco ia aparecer em algum lugar. Não tem ninguém mais interessado em resolver isso do que nós e se fosse infecção, não teria nenhum problema, iríamos resolver", assegurou a secretária, que se exaltou por várias vezes na entrevista. "Se fosse infecção hospitalar, o Estado mandaria remover as crianças que estavam na UTI e isso não aconteceu. A interdição se deu por problemas estruturais mas, daí, aparece esse relatório não sei de onde, para a imprensa e para o MP, e não aparece para mim. Então, eu posso achar que há algo contra mim", disse, em tom de vítima, Célia Bortoletto.


No final de 2009 e começo de 2010, quando a UTI Neonatal da Santa Casa de Mogi das Cruzes foi interditada por mais de uma vez em razão de mortes de bebês por infecção hospitalar, também não houve remoção dos recém-nascidos que se encontravam internados, apenas a proibição para o atendimento de novos casos, a exemplo do que feito agora em Suzano. Essa conduta costuma ser adotada justamente para que não ocorra o risco da infecção hospitalar se propagar para outras unidades de saúde e por conta da insuficiência do setor em disponibilizar transporte adequado (ambulâncias equipadas com UTI) para a remoção de todos os pacientes. Aliás, no auto de interdição imposto pelo Estado à Santa Casa de Suzano, consta que a Vigilância Sanitária Municipal é responsável pelos bebês que permaneceram na UTI Neonatal.


Ontem, a secretária de Saúde assegurou, no entanto, que os cinco leitos da unidade estão desocupados e assim deverão permanecer até que todas as adequações físicas sejam feitas e haja a desinterdição. Embora a ocorrência de infecção hospitalar seja negada veementemente por Suzano, o próprio médico neonatologista ressaltou que a morte de nove bebês num único mês não é uma coisa normal e afirmou que não é preciso ser médico para saber que pelo menos quatro dos recém-nascidos apresentavam um quadro inevitável de morte por conta de apresentarem baixíssimo peso e má-formação. Luiz Carlos Zamarco, no entanto, admitiu que os outros cinco bebês eram filhos de mães que apresentavam quadro de infecção precoce, o que levou as cinco crianças a óbito também por infecção, só que pré-existentes. Dentre esses cinco casos estão, segundo O Diário apurou, exatamente os quatro que a Vigilância Epidemiológica Estadual atesta como sendo por infecção hospitalar e o outro compatível com o mesmo quadro.


Fonte:O Diário de Mogi