sexta-feira, 29 de abril de 2011

PT dá anistia a Delúbio após 5 anos

PT dá anistia a Delúbio após 5 anos

POLÊMICA O processo de reabilitação do tesoureiro Delúbio Soares provoca reações no partido
BRASÍLIA
Expulso do PT há cinco anos e meio, no rastro do escândalo do mensalão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares será anistiado pelo partido neste fim de semana. Delúbio protocolou ontem, em reunião da Executiva Nacional, o pedido de refiliação, que deverá passar pelo crivo do Diretório petista. O processo de reabilitação do tesoureiro provocou reações no partido. Secretário de Finanças do PT durante mais de três anos, ele conta com o apoio de aproximadamente 59 dos 84 integrantes do Diretório.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende o retorno de Delúbio, seu amigo há 30 anos, mas chegou a manifestar receio de que a anistia, agora, contaminasse o processo dos réus do mensalão.
"A partir do momento em que houver a reintegração (do Delúbio), esse tema voltará à tona e, com a repercussão, a possibilidade de interferência no julgamento é grande", concordou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), numa referência ao julgamento do caso, previsto para 2012. "De qualquer forma, não houve condenação formal e o partido não pode manter uma pena ad eternum".
Embora as correntes que detêm o controle no PT estejam dispostas a reabilitar o ex-tesoureiro, sua volta já provoca protestos. O ex-ministro Patrus Ananias, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e o senador Delcídio Amaral (MS) são integrantes do Diretório Nacional, mas faltarão à reunião de hoje e amanhã por discordarem do perdão a Delúbio.
Na carta que enviou à Executiva, o ex-tesoureiro lembrou que nunca foi filiado a outro partido. "Eu sou PT de formação e de coração", escreveu ele. Acusado de recolher R$ 55 milhões em "recursos não contabilizados", na campanha presidencial de 2002, Delúbio foi expulso por gestão temerária, mas disse não guardar mágoa de seus pares.
Esta é a segunda vez que Delúbio tenta retornar ao PT após ter sido defenestrado, em outubro de 2005. Em abril de 2009, ele também encaminhou pedido para a reintegração, mas foi obrigado a desistir, para não atrapalhar a pré-campanha de Dilma Rousseff à Presidência. Na ocasião, disse que vivia um "calvário" pessoal.
"Por que 2011 se o Delúbio de hoje é o Delúbio de 1980 e será o Delúbio de amanhã?", protestou, à época, ao bater na tecla de que todos os políticos fazem caixa dois. No início deste mês, um relatório da Polícia Federal apontou uso de dinheiro público no mensalão.
Mesmo tendo apoio de mais de 60% dos petistas, Delúbio enfrentará resistência de grupos como Mensagem ao Partido - do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo - e Articulação de Esquerda, que prometem se posicionar contra a anistia.
"Desde a crise de 2005 o PT vem reconstruindo sua unidade e essa refiliação só trará desgaste", afirmou Carlos Árabe, secretário de Formação Política do PT. "Além disso, há um processo em curso no Supremo e o partido sequer tomou uma posição sobre isso."
No ano passado, Delúbio foi condenado por improbidade administrativa pelo Tribunal de Justiça de Goiás, acusado de fraudar declarações para continuar recebendo salário como professor da rede pública, apesar de não dar aulas há mais de dez anos.


Fonte:O Diário de Mogi