quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Justiça condena Santa Casa a pagar R$ 200 mil a segurança

Danos morais e materiais
Ex-funcionário foi esfaqueado na perna por um desconhecido que procurava pela esposa dentro do hospital
Foto: Daniel Carvalho


Segurança Marcio Rodrigues da Silva diz que agressão lhe causou outros traumas
A Santa Casa de Misericórdia de Suzano foi condenada a pagar R$ 150 mil por danos materiais e R$ 50 mil por danos morais ao ex-segurança Márcio Rodrigues da Silva, de 39 anos, que sofreu ferimentos graves ao ser esfaqueado na porta da unidade, onde trabalhava, no dia 6 de setembro de 2014. Segundo o advogado que o representa na ação, Dario Reisinger, a decisão foi proferida pela juíza Simone Aparecida Nunes, da 2ª Vara do Trabalho, mas ainda é passível de recurso, já que foi em primeira instância.
Na ocasião, Silva se recorda de que estava em uma portaria, quando foi chamado por uma funcionária para ir para outra entrada, conter um homem que procurava pela esposa, sem dar o nome completo, e que queria agredir uma recepcionista. Silva, que era contratado da própria Santa Casa e trabalhava há quatro anos na função, afirmou que não usava nenhum uniforme, armamento de defesa, equipamento de proteção ou rádio de comunicação. "Ele estava bastante alterado. Lembro que fui falar com ele e em um instante em que virei as costas, ele tirou um facão, acredito que escondido na manga da blusa, e me golpeou na perna. Voltei para pedir ajuda, tentar ligar para a polícia, mas vi muito sangue, senti tontura e caí com o rosto no chão. Fui acordar quatro dias depois na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)", recordou-se.
O golpe foi tão grave que atingiu a veia femural de Silva que, por sorte, só sobreviveu por ter sido atendido rapidamente na própria Santa Casa. "Me contaram depois que perdi praticamente todo o sangue do corpo e que, na hora em que iriam fazer a cirurgia, tiveram de pegar o fio para sutura no Hospital Santa Marcelina, porque nem isso tinham. Fiquei entre a vida e a morte e os médicos ainda chegaram a cogitar a amputação da minha perna", comentou.
Hoje, mesmo passados quase três anos do crime, as sequelas físicas e psicológicas persistem. O ex-segurança contou que o agressor ficou apenas alguns meses preso e que já está nas ruas e que a tentativa de homicídio lhe rendeu, além de muitas dores e inchaço, o risco ainda presente de amputação e uma síndrome do pânico resultante do trauma vivido. "Não saio de casa para nada, a não ser para dar continuidade ao tratamento que estou fazendo só uma vez por semana, devido à falta de condições financeiras. No início, a Santa Casa me deu suporte, mas com o passar do tempo não ajudou mais", lamentou. "Desde então, não pude mais trabalhar e preciso tomar remédios constantemente, inclusive porque meu psicológico ficou abalado. Tenho receio de encontrar o agressor nas ruas a qualquer momento".
O ex-segurança e a esposa passam por dificuldades para custear o tratamento dele e as despesas de casa. Segundo o casal, o que sobra para fazer as compras e pagar as contas do mês é uma quantia de R$ 200. "A igreja nos ajuda fornecendo uma cesta básica", complementou.
Silva faz um apelo para que quem puder ajudá-lo, entre em contato pelo telefone 99908-1118.
Morosidade aumenta a agonia do ex-funcionário
De acordo com o advogado Dario Reisinger, que defende Márcio Rodrigues da Silva na causa, a Justiça não entendeu que a Prefeitura - embora a Santa Casa esteja sob intervenção -, possa responder solidariamente no caso dele
De acordo com o advogado Dario Reisinger, que defende Márcio Rodrigues da Silva na causa, a Justiça não entendeu que a Prefeitura - embora a Santa Casa esteja sob intervenção -, possa responder solidariamente no caso dele. Porém, conforme ele, isso não faz com que a questão "deixe de estar nas mãos da administração municipal". "O fato é: vamos fazer o quê? Pedir o bloqueio de verbas da Santa Casa? Há muitos funcionários que não receberam direitos trabalhistas e, no caso dele, que foi um dos mais graves, também não há perspectivas de receber", lamentou.
Entretanto, segundo Reisinger, apesar da Santa Casa estar se transformando em uma espécie de "escudo da impunidade", a Justiça poderá entender, mais tarde, que a execução deverá recair também sobre a prefeitura. "Todo esse débito faz parte do passivo e o atual prefeito (Rodrigo Ashiuchi - PR) prometeu anteriormente que iria resolver esse problema. Gostaríamos, inclusive, que ele nos recebesse, porque a situação do meu cliente é bastante delicada", reforçou o advogado.
Em nota ao jornal, a Santa Casa de Misericórdia de Suzano respondeu que "o processo ainda não foi encaminhado para a equipe de intervenção da unidade e que todos os fatos transcorreram na gestão passada, não tendo sido informados pela gestão anterior durante a fase de transição de governo".
O comunicado diz ainda que "naturalmente, a Santa Casa está à disposição da Justiça para prestar todos os esclarecimentos que se façam necessários". (C.I.)

Fonte:Mogi News