quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Tribuna Livre; Violência contra a mulher Afonso Pola


Tribuna Livre
Violência contra a mulher
Afonso Pola
Cresce a violência contra as mulheres brasileiras. O número de mulheres assassinadas a cada mês no Brasil saltou de 113 para 372 em 30 anos. Esse índice foi divulgado pelo IAB (Instituto Avante Brasil), uma entidade sem fins lucrativos e que tem por objetivo facilitar o acesso às informações e pesquisas sobre os mais diversos temas acadêmicos e científicos relacionados à prevenção do crime e da violência. 
Enquanto no início dos anos 1980 uma mulher era assassinada a cada 6 horas e meia, hoje tal intervalo é inferior a duas horas. O número de mulheres assassinadas aumentou mais de três vezes no mesmo período em que a população brasileira não chegou a dobrar. Foi de 119 milhões para 190 milhões. 
E esse é um dado que considera somente as mortes. A violência contra a mulher é ainda mais ampla, pois é compreendido como violência "qualquer ato ou conduta que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na privada", conforme previsto na Convenção Interamericana de 1994, para Prevenir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Números do Anuário das Mulheres Brasileiras 2011, divulgado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres e pelo Dieese, mostram que quatro entre cada dez mulheres brasileiras já foram vítimas de violência doméstica. 
Entre os muitos aspectos importantes relacionados ao tema, pelo menos dois devem ser ressaltados. Um deles diz respeito a algumas particularidades que caracterizam grande parte das situações. Em aproximadamente 80% dos casos de violência registrados contra a mulher o seu parceiro é o responsável pela agressão e o medo continua sendo a principal razão para que o agressor não seja denunciado. Machismo e alcoolismo são apontados como principais fatores motivadores para a violência contra a mulher.

Já o outro evidencia a ainda precária rede de proteção as mulheres que são vítimas da violência de seus parceiros. Muitas vezes, a morte da mulher é o desfecho de um ciclo de violências anteriormente praticadas e já denunciadas. Contribui muito para isso a omissão das instituições envolvidas e a insuficiência de mecanismos sociais necessários para que a mulher possa romper definitivamente com o ciclo da violência. 
Livrar a nossa sociedade de dados tão vergonhosos pressupõe profunda mudança de comportamento. O sexismo (conjunto de ações e ideias que privilegiam entes de determinado gênero, no caso o masculino) não combina com o século XXI. Para isso, são fundamentais que estudos e campanhas públicas sobre o tema sejam cada vez mais comuns. É urgente também atuar para ampliar a rede de proteção às mulheres e familiares em situação de risco garantindo um atendimento com qualidade.

Afonso Pola, é sociólogo e professor universitário e colabora toda quarta com esta coluna

Fonte:Mogi News