quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Boca no trombone: Irracionais? Quem? Fábio Simas



Fabio SimasBoca no trombone
Irracionais? Quem?
Fábio Simas
Nos últimos dias, veiculou-se na Imprensa mogiana a notícia de que algumas pessoas estariam se mobilizando para a realização de um Rodeio (ou Festa de Peão) aqui em nossa cidade. Trata-se de um assunto que leva-nos à indignação e, por isso, não pode ficar restrito a meras reflexões, exigindo um posicionamento mais veemente, contrário à promoção desse verdadeiro circo de horrores.

Conquanto o ordenamento jurídico assegure o lazer como um direito social e imponha ao Estado o dever de garantir o acesso à cultura, incentivando-a e valorizando suas mais diversas manifestações, não podemos nos esquecer que esse mesmo conjunto de normas também protege os animais, sejam ou não da fauna brasileira, reconhecendo-os como dotados de sensibilidade, impondo à sociedade e ao Estado o dever de respeitar a vida e a integridade física desses seres.

E hoje, embora alguns ainda vivam com a cabeça de 300 anos atrás, vê-se que a humanidade alcançou um grau de civilidade que não condiz a perversa e torpe diversão às custas da dor e do sofrimento, ainda que seja de um animal.

Logo, se queremos fazer valer nossa condição de nobres pela razão e infinitos pelas faculdades, como disse Hamlet, não devemos tolerar o referido evento, ainda que o mesmo esteja revestido de caráter cultural, pois trata-se de verdadeira comemoração aos maus-tratos, um lamentável exemplo de tortura aos animais. Do contrário, valerá o que disse Mefistófeles de que melhor seria se o Criador não nos tivesse infundido o raio dessa luz chamada razão, a qual na prática só prestaria para tornar-nos mais brutos que os mais brutos.

Outrossim, não devemos aceitar o já surrado argumento segundo o qual haveria geração de empregos e a movimentação do comércio local. Isto porque tal raciocínio parte da ética da quantidade, do capital financeiro, fruto de um discutível conjunto de princípios e valores que pavimenta o caminho para a infâmia.

Portanto, andaria bem o poder público local se, a exemplo de outras cidades, como Araraquara e Sorocaba, proibisse a realização de festas de peão ou rodeios onde animais são seviciados e submetidos a apetrechos dignos das masmorras, não permitindo que façam parte de nosso calendário cultural. E quanto a nós, cidadãos mogianos, andaríamos melhor ainda se não prestigiássemos essa selvageria disfarçada. 
Encerramos então com as palavras de Milan Kundera, autor de " A insustentável Leveza dos Ser": "A verdadeira bondade do homem só pode se manifestar com toda a pureza, com toda a liberdade, em relação àqueles que não representam nenhuma força. O verdadeiro teste moral da humanidade são as relações com aqueles que estão à nossa volta: os animais".


Fábio Simas, é advogado e colabora toda quarta-feira com esta coluna

Fonte:Mogi News