quinta-feira, 10 de maio de 2012

A bola da vez



Os esquemas e negociatas do todo-poderoso Carlinhos Cachoeira vão se revelando; muito mais do que investigar, é preciso punir de fato todos os envolvidos
Acada dia surgem novas e estarrecedoras revelações sobre o poder exercido pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em diversos órgãos públicos. Afinal, comandar o império da contravenção por meio de máquinas caça-níqueis requer uma boa dose de influência e estratégias mirabolantes de administração do dinheiro ilegal. Além, é claro, do gerenciamento das propinas necessárias para manter o esquema ilícito. Ora, de acordo com as últimas notícias, o senador Demóstenes Torres é mesmo peixe pequeno nesta história toda. É apenas mais um dos muitos envolvidos.


O poderoso da vez é Cachoeira, preso desde fevereiro. Segundo gravações da Polícia Federal, ele tentou corromper até ministros do Supremo Tribunal Federal, despendeu alguns milhões de reais para pagamento de políticos de diversos partidos com o objetivo de manipular votações e ganhar influência para reinar absoluto na contravenção. Utilizou informações privilegiadas de delegados e outros policiais sobre operações de combate ao jogo de azar, criou falsas Ongs para embolsar verba pública e engordar o capital ilícito para gerir a sua organização criminosa.


A equipe de Carlinhos Cachoeira tinha até funcionário infiltrado na Controladoria Geral da União (CGU) para prejudicar em licitações públicas um concorrente da Delta Construções, empresa envolvida até o pescoço com esquemas fraudulentos e que faz obras públicas milionárias para diversos Estados. Até mesmo a Revista Veja está na linha de atuação do contraventor e denúncias indicam que Cachoeira tinha forte influência sobre as publicações.


Aliás, as denúncias só vieram a público graças ao vazamento de cópias dos documentos envolvendo as negociatas. As investigações da CPI começaram anteontem no Senado. E, para surpresa do cidadão, ávido por respostas e medidas punitivas a curto prazo, os depoimentos serão dados em uma sala secreta e são sigilosos. E então, nem ao menos podemos saber o conteúdo deles, as desculpas ou os detalhes de como tudo ocorreu nos últimos anos neste esquema fraudulento? É isto mesmo? Neste caso, os crimes que estão sob investigação são muitos: tráfico de influência, fraude nas licitações, corrupção e formação de quadrilha, entre outros.


A verdade é que o cidadão já está saturado de tantos escândalos envolvendo o dinheiro público, de tanta gente querendo se beneficiar do poder, dos esquemas milionários, da crescente troca de favores. A falta de ética nas relações políticas ainda impera neste País, infelizmente. Então, de pouco ou quase nada adiantarão os resultados da CPI e as investigações da Polícia Federal, se a "instituição impunidade" não for revista em todas as esferas do Judiciário. Isto porque o sentimento dos brasileiros, a cada novo escândalo, é o de que as penas e a aplicação delas, a morosidade dos processos e as leis demasiadamente protetivas aos criminosos de todas as espécies estão destruindo a nossa sociedade no sentido de deixá-la apática aos assuntos da coletividade.


Quem não se lembra do mensalão, em 2005? Até agora, os 38 réus ainda não foram julgados e os milhões de reais desviados ninguém sabe onde estão, tampouco retornaram aos cofres públicos. Ao que tudo indica, o caso Cachoeira pode tomar o mesmo rumo. É muito blá-blá-blá e burocracia na investigação e nenhuma atitude prática.


Fica a reflexão: se todos são iguais perante a lei, por que presidente da república, governadores e prefeitos juntamente com deputados, senadores, vereadores e juízes, seja de que instância jurídica for têm tratamento privilegiado quando são investigados e julgados e gozam de impunidade? De uma vez por todas, é chegada a hora de levantar a bandeira do "doa a quem doer". Senão, tudo continuará exatamente como está.


Fonte:Mogi News