quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

No RJ, Mangueira faz parada show

RIO
Apreensivo, o presidente da Mangueira, Ivo Meirelles, acompanha a apuração. Foto: Bruna Prado/Futura Press


Um ano depois da "paradona" que assombrou a Sapucaí com o silêncio prolongado da bateria, o presidente da Mangueira, Ivo Meirelles, arriscou ainda mais no desfile da madrugada de ontem, em que homenageou o lendário bloco Cacique de Ramos - com o enredo "Vou festejar, sou Cacique, sou Mangueira". Numa Sapucaí ampliada com novas arquibancadas, a Verde e Rosa fez o que Meirelles chamou de "parada show", dividindo opiniões mais uma vez.


Pelo menos quatro vezes, na frente das cabines de jurados, a bateria parava e o som da passarela caía por quase dois minutos, deixando o samba sustentado nas vozes dos componentes e de um time de estrelas escalado para um pagode quase intimista sobre um pequeno carro. Numa referência ao reduto do pagode que se tornou o Cacique, nomes como Alcione, Sombrinha, Dudu Nobre, Noca da Portela e Xande do Revelação revezaram-se num show que animou quem estava próximo, principalmente na retomada da bateria.


"As baterias estão cada vez mais parecidas. A cada ano é preciso arriscar mais para se diferenciar. Eu sou um presidente que vim da bateria, sabia que era possível", afirmou Meirelles. "A bateria da Mangueira está pronta para tudo", concordou Alcione. Dudu Nobre revelou que o grupo ensaiou durante as madrugadas para garantir o segredo.


Sem a mesma tradição na elite do carnaval do Rio, a São Clemente apostou na criatividade para surpreender o público, apresentando o enredo "Uma aventura musical na Sapucaí". Na bateria, a amarela e preta de Botafogo inovou com um violinista. Durante paradinhas, o músico Renato Sobreira tocava no violino parte do samba da escola em uma referência ao espetáculo "Um Violinista no Telhado".


A escola de Botafogo empolgou ao recriar na passarela do samba musicais como "O Fantasma da Ópera", "A Noviça Rebelde", "Cabaret" , O Mágico de Oz" e o brasileiro "Ópera do Malandro". Uma réplica da Estátua da Liberdade vestida de biquíni e tomando sorvete foi ponto alto do desfile.


Outro foi a mulata inflável de 20 metros, que ficou sobrevoando a avenida. Presa por cerca de 40 cabos, criada pelo artista Gringo Cardia nos Estados Unidos, a mulata sambava, o que arrancou muito aplausos.


Reis e rainhas


Com o enredo "De Londres ao Rio - Era uma vez… uma Ilha", a União da Ilha fez uma homenagem ao Reino Unido, num enredo sobre Londres e os Jogos Olímpicos, sempre com uma pitada de irreverência, quebrando a rigidez do protocolo britânico.


A Ilha subverteu a ordem desde a comissão de frente - o gari Renato Sorriso, que costuma seguir atrás das escolas, empunhando a vassoura, foi coroado rei. Teve como rainha Maria Augusta Rodrigues, carnavalesca da Ilha nos anos 70. Eles chegaram de carruagem, numa paródia aos cortejos reais.


Já a Unidos da Tijuca homenageou o compositor Luiz Gonzaga em "O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o rei Luiz do sertão". Considerado o carnavalesco mais inovador e mais bem pago, "gênio" para muitos, Paulo Barros teve sacadas inteligentes para tirar o enredo do óbvio - especialmente num carnaval que teve outros quatro enredos falando do Nordeste. Ainda assim, a plateia viu mais fantasias de boi bumbá, Lampião e Maria Bonita, gangues de cangaceiros e festas juninas, todas já apresentadas em escolas de anteontem e de ontem.


Dois carros se destacaram pela beleza plástica: o de Mestre Vitalino, totalmente em cor de barro, que reproduzia uma casa de pau a pique perfeita até no cheiro, e o da asa branca, do qual "voavam" pássaros humanos de movimentos perfeitos. 


Na concentração, a rainha de bateria, Gracyanne Barbosa beijava o marido, o pagodeiro Belo, para mostrar que eles não estão se separando, como foi noticiado. Ela brilhava vestida de assum preto, remissão ao clássico de Gonzagão. Só na sandália eram 15 mil cristais. "Se dependesse do Belo, eu viria de cristais até na sola. Ele escolhe até o meu esmalte", disse.


Superação


Considerada uma das poucas escolas de samba cariocas capazes de impedir o bicampeonato da Beija-Flor, o Salgueiro, que apresentou o enredo "Cordel Branco e Encarnado", teve o seu maior momento de emoção no final, devido ao risco de ultrapassar o limite de 82 minutos. A rainha da bateria, Viviane Araújo, que ostentava uma fantasia feita com ouro em pó e avaliada em R$ 250 mil, atraiu aplausos ao longo de toda a passarela.


Outra que empolgou - não pelas curvas, mas pela espontaneidade e pelo samba no pé - foi Vânia Flor. Com mais de 100 quilos, ela foi convidada a desfilar depois de fazer sucesso durante uma feijoada na quadra do Salgueiro.


Um ano após o incêndio que destruiu fantasias e alegorias, dias antes do carnaval de 2011, a Acadêmicos do Grande Rio mostrou o enredo "Eu acredito em você! E você?", em que, a partir de sua própria experiência, contou histórias de superação. Com carros e fantasias luxuosas, a agremiação levou para a avenida o iatista Lars Grael, que perdeu uma perna em um acidente no mar, e o pianista João Carlos Martins, que virou maestro depois de perder o movimento dos dedos, entre outras personalidades.


Fonte:O Diário de Mogi