sábado, 10 de setembro de 2011

Chacareiros Famílias relutam em abandonar a terra

A maioria das pessoas não quer sair da Chácara dos Baianos, onde vivem e trabalham, para morar em apartamento de programa habitacional
Jamile Santana
Da Reportagem Local
Daniel Carvalho

Famílias que estão acostumadas a lidar com a terra não aceitam o apartamento de programa
Seu Cícero Panta da Silva tem 50 anos, e desde 1985, quando saiu da cidade de Águas Belas, em Pernambuco, mora na Chácara dos Baianos, no Conjunto Santo Ângelo. Em um espaço de terra invadido, construiu seu barraco, mas orgulha-se mesmo é de sua plantação. Cultiva couve, cebola, salsa, e revende na feira do Parque Dom Pedro, em São Paulo, ou na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp). O dinheiro que ganha é gasto na venda do bairro, onde o chacareiro compra tudo aquilo que não consegue cultivar para alimentar a esposa e os seis filhos. Com o trocado, se diverte no bar com os amigos. Não paga conta de água e luz. Ele é um dos produtores rurais ameaçados de despejo pela mineradora Itaquareia, dona dos loteamentos que requer judicialmente a reintegração de posse do espaço. 
Como alternativa, Silva poderia ser beneficiado com um apartamento em Jundiapeba construído pelo programa Minha Casa, Minha Vida, mas o chacareiro não quer trocar sua terra por concreto. "Sou analfabeto, tenho 50 anos e nunca trabalhei em empresa nenhuma, só vivi da terra. Você acha que eu tenho chance na cidade grande menina?", afirmou.


Muitas famílias têm mostrado resistência às alternativas dadas pela Prefeitura de Mogi, que realizou um cadastro com 550 famílias que podem ser atendidas pelo programa habitacional. Apenas 160 famílias apresentaram a documentação necessária na Coordenadoria de Habitação. As famílias beneficiadas devem pagar uma prestação de R$ 50 durante 10 anos. Mas a maioria não quer sair da terra onde mora e cultiva. "Mesmo se eu quisesse sair daqui, sem produzir hortaliça eu não tenho como pagar R$ 50 do apartamento, mais a conta de luz e água regular. Não dá pra eu sair daqui", afirmou Silva. É o caso da produtora rural Edvania Ferreira Alves, que tem 25 anos e cresceu no bairro. Ela vive com o marido e os filhos e também cultiva hortaliças. "Estou acostumada com espaço, terra, não me vejo morando em um apartamento apertado. Aqui os vizinhos se ajudam, trocamos verduras para consumo próprio. Se eu morar na região urbanizada, tudo vou ter de pagar. Eu não sei fazer mais nada da vida, a não ser mexer com a terra", garantiu.


No próximo dia 17, o prefeito Marco Bertaiolli fará uma reunião com os moradores para explicar o programa. Isto porque se não aceitarem a moradia, os chacareiros correm o risco de terem de sair do terreno por ordem judicial e não terão para onde ir. A questão é mais cultural do que social. "Se mudarmos de casa, temos que mudar nossos costumes. Somos da roça, não da cidade", disse Everaldo Lima.


Fonte:Mogi News