quarta-feira, 27 de julho de 2011

Faltam leitos para tratar viciados

Viciados em crack usam a droga abertamente na tarde de quinta-feira, em São Paulo
Enquanto o uso do crack avança nas cidades paulistas - hoje o consumo atinge 83% das cidades do Estado, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) -, as ações para combater este cenário tem se mostrado insuficientes. A começar pela falta de leitos em unidades de saúde, entre clínicas, hospitais e instituições assistenciais. Nos 645 municípios de São Paulo, há apenas 450 vagas/leitos. Os dados preocupantes levaram o deputado estadual Donisete Braga (PT), que coordena a Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, a propor um levantamento mais detalhado em cada região do Estado. A ideia é de que, a partir destes números, ele possa sugerir emendas para sanar o problema.


"A ideia surgiu depois de recebermos algumas pesquisas bastante gerais sobre o tema. Sabemos que dos 5.564 municípios brasileiros, o entorpecente está presente em 98% deles. Por isso a intenção é colher os dados, cruzar as informações, levantar custos e propor benefícios. Até o momento 150 formulários foram devolvidos, inclusive o da Capital, que abriga uma "cracolândia" na região central, com cerca de 400 dependentes químicos. Isso nos dá uma base. Mas queremos, até o próximo mês, ter em mãos pelo menos a metade dos questionários para saber como agir", diz o parlamentar.


O questionário busca saber o número de dependentes químicos do crack e outras drogas, a faixa etária deles, o índice de reincidência nos tratamentos, se há leitos do SUS para os dependentes, se recebem ou não recursos públicos, além do montante que acreditam ser necessário investir em um programa local.


Na visão de Braga, a grande dificuldade hoje é manter um dependente químico internado. Por dia o custo despendido pelo governo federal é de R$ 57,00 – valor que será elevado em agosto para R$ 200,00. O tratamento dura de seis meses a um ano e a falta de uma equipe médica especializada agravam a situação.


"Não haverá saída se não for criada uma rede integrada e regionalizada de serviços públicos que contemple a prevenção, o tratamento dos dependentes e sua reinserção social. Os governos federal e estadual estão ainda em dívida com a sociedade no que se refere ao avanço das drogas", afirma. Outra meta a ser alcançada pela Frente Parlamentar é o aumento das unidades do Centro de Atenção Psicossocial (CAP) e do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) – hoje a Capital, por exemplo, conta com 15 CAPs, e a intenção é se ter pelo menos 45, e um Cratod, sendo que o ideal é 15.


"Passando por esses centros, o dependente químico pode ser encaminhado à internação. Com a falta de leitos públicos a única opção são os particulares. No entanto, o custo mensal de uma internação em uma clínica particular é de aproximadamente R$ 15 mil, valor que nem todo mundo tem", acrescenta. O assunto será tema em 18 audiências públicas que a Comissão de Finanças e Orçamento da Assembleia realizará em todas as regiões do Estado, a partir do próximo dia 19. "Com a realidade nas mãos, teremos melhores condições de pressionar por verbas para os municípios e por mais ação dos executivos municipais", diz o deputado Braga.


Fonte:O Diário de Mogi