quarta-feira, 19 de agosto de 2020

PESQUISA: Estudo aponta áreas de risco em Mogi das Cruzes

15 horas atrás9 min. - Tempo de leitura

Natan Lira

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COMPLICADO Rua Alexandre Andreotti, em Jundiapeba, ficou alagada em uma das fortes chuvas que atingiram a cidade no inicio de 2020. (Foto: arquivo)

A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente entregou às prefeituras do Alto Tietê os resultados do Mapeamento de Riscos de Movimentos de Massa e Inundações, que aponta as áreas que oferecem algum tipo de risco (R) e a classificação pela gravidade, que vai de 1 a 4. Em Mogi das Cruzes foram pontuados 374 setores (pontos) que requerem atenção. Com o estudo, a administração municipal pode elencar quais demandas mais simples consegue resolver e, nos casos mais graves, o material repassado pelo Governo do Estado serve como pré-projeto para busca de financiamento a fim de solucionar os problemas.

O relatório separa as ocorrências em dois grandes grupos. No primeiro, os riscos de escorregamento e movimentos em massa nas áreas urbanas. Dos 63 setores verificados, as classificações “nulo ou quase nulo”, “muito baixo e baixo” e “médio” ficaram com 15 áreas cada uma. Em risco “alto” estavam 16 setores, além de 2 em muito “alto”.

Quando verificado o risco de inundação e processos correlatos, o total de áreas que pontuaram para demandas foi de 311, das quais 94 estavam com risco “baixo”, 159 em “moderado”, 40 para “alto” e 18 em “muito alto”.


Em entrevista a O Diário, Claudio José Ferreira, pesquisador científico do Instituto Geológico – órgão vinculado à Secretaria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente, explicou que o trabalho teve abordagem inovadora ao utilizar diferentes escalas. Primeiro, o levantamento mapeia todo o território dos municípios. Depois, em uma escala menor, foram observadas as áreas críticas para a fase dos estudos locais.


“Esses setores derivaram de áreas-alvo que efetivamente a equipe foi a campo para uma escala em que constatou algum risco. Eles foram classificados entre R1 a R4, e essa classificação vai do menor risco (1) a questões mais críticas (4). Para cada setor há uma ficha de campo específica com toda a caracterização do que foi identificado. Às vezes, a Prefeitura não consegue resolver um problema mais grave sem financiamento. Mas, às vezes, um ‘R1’ pode ser sanado com mais rapidez, até para não virar um ‘R2’”, pontua Ferreira.


Paulo César Fernandes da Silva, pesquisador científico do IG e que junto com Ferreira integra o Núcleo de Geologia de Engenharia Ambiental, pontuou que para se chegar à classificação de risco do local são verificados tanto o perigo quanto a vulnerabilidade. O primeiro verificou a incidência das inundações, por exemplo, o volume de água acumulado, enquanto o segundo avaliou a infraestrutura do local como a situação do solo e das casas daquele perímetro.


“Em caso de inundação, o perigo mostra a declividade do terreno e a ocorrência dos registros. Em campo, a gente percebe se tem trinca no chão, nas casas ou o histórico de outros escorregamentos. Esses elementos determinam o perigo e a vulnerabilidade e, consequentemente, o risco que representam”, destacou.


Os pesquisadores pontuaram que esses riscos nem sempre são iminentes. Há casos em que eles dependem ainda de outros fatores, como o climático.


Além de enviar os relatórios às prefeituras, a equipe técnica vai agendar com cada administração uma apresentação mais detalhada a fim de pontuar, com maior abrangência, o que as cidades podem usar em cada escala de trabalho. O interesse, neste caso, parte do poder público verificar se o estudo vai nortear novas ações, o Plano Diretor, ou se pretende criar um planejamento de resiliência para as questões climáticas.


“A Prefeitura vai saber se pode atuar em determinado setor com recursos próprios, mas também verificar um setor muito crítico, em que precisa da ajuda dos governos estadual ou federal. Ela já tem estudo para mostrar e comprovar a necessidade. O documento serve até mesmo para a Secretaria de Habitação verificar as moradias que realmente precisam ser demolidas e realocadas”, detalhou Ferreira.


Pesquisa teve início após deslizamento


O Mapeamento de Riscos de Movimentos de Massa e Inundações surgiu após o Governo do Estado contratar financiamento junto ao Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), via Departamento de Estradas de Rodagem (DER), para mapeamento geográfico da rodovia Mogi-Bertioga (SP-98), que em 2018 sofria uma série de deslizamentos de terra.

Na ocasião, no entanto, o empréstimo oferecia o fortalecimento institucional. Então, o Instituto Geológico propôs um componente de gestão de risco e verificou que todos os mapeamentos feitos na Região Metropolitana de São Paulo estavam desatualizados. Portanto, foi proposta e aceita pelo Banco Mundial a realização do mapeamento dos 38 municípios que integram a área.


Dentro de dois ou três meses, o mapeamento da Mogi-Bertioga será finalizado e apresentado pelos técnicos. Ontem, eles divulgaram apenas que o estudo considerou a rodovia inteira, quilômetro por quilômetro. Atualmente, está sendo concluída a análise em campo.

Com investimento de quase R$ 2,9 milhões, a pesquisa teve início em maio de 2018 e está prevista para ser concluída no final deste ano com a entrega da análise de riscos voltada às rodovias.

Nessa primeira etapa está prevista ainda a entrega da integração do gerenciamento de risco de desastres no setor de Logística e Transportes, onde o enfoque é a infraestrutura rodoviária. Já a segunda etapa do estudo vai entregar outros 27 levantamentos de municípios da Região Metropolitana de São Paulo.

Problemas estão localizados em 52 bairros

Carla Olivo

O Mapeamento de Riscos de Movimentos de Massa e Inundações aponta áreas em 52 bairros de Mogi com possibilidade de inundação, solapamento e escorregamento. Ao todo são 31.193 imóveis, sendo 8.555 com risco de movimentação de terra e 22.638 sob ameaça de alagamento.

O secretário municipal de Segurança, Paulo Roberto Madureira Sales, explica que o estudo do Instituto Geológico vai contribuir para o monitoramento realizado pela Prefeitura de Mogi. “O foco deste mapeamento mais técnico é a análise do tipo de solo, o que colabora com nosso trabalho porque é mais detalhado, mas como esta pesquisa teve início há dois anos e meio, algumas áreas apontadas já foram corrigidas, a exemplo da região de Jundiapeba, onde fizemos um trabalho que evitou novas inundações como as ocorridas em 2017. Temos um controle completo de todas as áreas de risco de Mogi, com o número de imóveis, de famílias e de pessoas que neles moram”, explica.

No mapeamento de Mogi, há 143 famílias cinco áreas com risco de deslizamento nos bairros Jardim São Paulo, Residencial Itapeti e jardins Piatã, Nova União e Aeroporto III. Já 598 famílias estão em outros cinco pontos da Ponte Grande, Chácaras Guanabara, Jundiapeba e Jardins Santos Dumont, Aeroporto e Náutico, com possibilidade de sofrer inundações e enchentes. Os riscos de alagamentos se encontram em 20 áreas que ficam no centro, Ponte Grande, Mogilar, Socorro, Nova Mogilar, Mogi Moderno, Vila Estação, Jundiapeba, Braz Cubas, Jardim Layr, César de Souza, Sabaúna e Vila Natal.

O secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Daniel Teixeira de Lima, explica que o mapeamento do IG é o primeiro do tipo realizado no Alto Tietê a pedido das prefeituras da região. “Havia uma grande demanda por este estudo que ajuda no planejamento de cidade, não só pela Prefeitura, mas para a gestão pública como um todo e também para a população. Aponta, por exemplo, a necessidade de desassoreamento do rio tietê, que a cidade já vinha batalhando e conseguiu aprovar o recurso para o DAEE fazê-lo neste ano, além do desassoreamento do rio Jundiaí, que vem sendo cobrado há mais de 10 anos. Outro ponto é a proteção e recuperação das margens, que já fazemos desde 2017, quando iniciamos um estudo com a UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), que se transformou no Plano da Mata Atlântica, no Plano Diretor, que tem o corredor ecológico ambiental e o plano de arborização”, detalha.

Lima também enfatiza que um dos embasamentos para o estudo de risco é a política estadual de mudanças climáticas. “Com o mapeamento de calor se detecta a necessidade de arborização e se faz o programa para evitar o maior número de enchentes, porque onde há um mapa de calor formado, a tendência é a maior intensidade de chuva e a tendência de risco de alagamento”, diz.

O mapeamento, na avaliação de Lima, vai servir para ensinar a minimizar e conviver com os riscos. “Um dos exemplos é aquela área onde houve deslizamento, há décadas, no Jardim Layr. As famílias foram retiradas da encosta, que hoje é arborizada e não houve mais deslizamento no local. A recuperação vegetal auxilia neste sentido. Este mapeamento é mais amplo e visa olhar o município do ponto de vista da micro e macrodrenagem. Temos recurso aprovado para construção de mais dois parques à beira do Tietê, o saneamento dos córregos do Lavapés e Canudos, ampliação do tratamento de água, tudo isso colabora para evitar e minimizar estes riscos. Com base neste relatório técnico será mais um dos instrumentos de gestão e organização de políticas públicas dos municípios tanto nas questões para o Estado fazer, assim como as prefeituras e a população”, conclui.

Áreas

As áreas apontadas no mapeamento do Instituto Geológico com risco de inundação estão na Chácaras Guanabara, Jardim Margarida, Botujuru, Vila São Paulo, Sabaúna, Parque Morumbi, Jardim São Pedro, Vila Suíssa, Vila Moares, César de Souza, Jardim Cíntia, Vila Nova Aparecida, Conjunto Habitacional Jeferson da Silva, Taiaçupeba, Socorro, Jardim Modelo, Vila Paulista, Ponte Grande, Jardim Náutico, Vila Áurea, Rodeio, Mogilar, Centro, Vila Tietê, Praça Francisca de Campos Melo Freire, Vila Oliveira, Vila Natal, Jardim Santista, Mogi Moderno, Caputera, Conjunto Residencial Nova Bertioga, Vila Ressaca, Conjunto Residencial Álvaro Bovolenta, Conjunto Habitacional Ana Paula, Cocuera, Jardim Aeroporto, Jardim Santos Dumont, Jardim Layr, Jardim Oropó, Braz Cubas, Quatinga, Vila Moraes, Jardim Ivete, Biritiba Ussu, Vila Cintra e Jardim Piatã.

De acordo com o estudo, há áreas com risco de solapamento no Jardim Margarida, Jardim Cíntia, Vila Paulista, Praça Francisca de Campos Melo Freire, Vila Natal, Mogi Moderno, Jardim Ivete, Conjunto Residencial Álvaro Bovolenta, Vila Moraes e Quatinga.

Já os riscos de escorregamento ficam na Vila Nova Aparecida, Vila Oliveira, Jardim Universo, Vila Cecília, Jardim Aeroporto, Jardim Planalto, Conjunto Residencial do Bosque, Rodeio, Braz Cubas, Parque Residencial Itapeti, Jardim Margarida, Jardim São Pedro, Mogi Moderno e Vila Ipiranga.

Fonte:O Diário de Mogi