sexta-feira, 16 de agosto de 2019

INFORMAÇÃO: Folclore Político (CI) Maluf e a Mogi-Bertioga

11 de agosto de 20195 min. - Tempo de leitura
Darwin Valente
Darwin Valente
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Equipes trabalharam a noite toda para garantir a visita à Mogi-Bertioga 

A abertura da ligação rodoviária Mogi das Cruzes-Bertioga pela Prefeitura de Mogi, durante o segundo governo de Waldemar Costa Filho, já chegava à reta final, quando um fato inesperado alterou radicalmente os planos do prefeito: uma enorme rocha apareceu na rota da estrada, no trecho final da Serra do Mar, num ponto que não permitia desvios ou contornos. Para ser vencido, o obstáculo exigiria mais algumas toneladas de explosivos e serviços de peritos, algo que encareceria a obra muito além do que os cofres já debilitados do município conseguiriam suprir. O negócio seria pedir ajuda ao governador do Estado, na época Paulo Maluf, que era contrário à execução da obra da maneira como Waldemar a conduzia. O prefeito foi ao Palácio de chapéu na mão e Maluf prometeu lhe atender, se as condições da estrada satisfizessem a sua visão de engenheiro formado pela Escola Politécnica. Acontece que a rodovia, à época, era pouco mais que uma picada aberta em plena Serra do Mar para que as máquinas avançassem mata adentro e fossem abrindo caminho para as explosões das rochas menores à base de dinamite e afins. Algo impensável  para os dias de hoje, com tantas restrições ambientais. Mas como a ajuda de Maluf era decisiva para a conclusão da obra, Waldemar decidiu aceitar o desafio do visitante e procurou dar uma maquiada geral na obra para que o governador se sentisse incentivado a lhe oferecer ajuda. Homens e máquinas da empreiteira Almeida & Filho passaram a trabalhar em ritmo frenético, apoiados por equipes da Codemo, então presidida pelo filho do prefeito, Valdemar Costa Neto. Tudo caminhava bem, até a semana que antecedeu à visita de Maluf, quando uma chuva incessante passou a cair sobre a Serra. A cada estiagem, o ritmo das atividades duplicava, ou triplicava. Até que na tarde de quinta-feira, uma estiagem deu sinais que viria. O trabalho se intensificou na sexta e todas as equipes, inclusive Costa Neto, passaram a noite toda trabalhando para garantir segurança no caminho do visitante que chegaria  no sábado. Por via das dúvidas, um jipe com tração nas quatro rodas, radiocomunicador e outros apetrechos, do empresário João Manoel dos Reis, foi colocado à disposição de Maluf. Naquele dia, as emissoras de rádio e jornais se uniram, em um pool, para a transmissão do evento, dadas as poucas condições de trabalho na área da rodovia em construção. O sol saiu e até o bispo da época, dom Emílio Pignoli, foi levado por Waldemar para o encontro com Maluf. Diante de tal aparato, o governador veio, viu e gostou. O dinheiro para vencer a última rocha foi liberado, semanas depois.

Democracia

A história é contada pelo jornalista Claudio Humberto, em seu Diário do Poder. Nos anos 40, apesar do fim da ditadura Vargas, o poder político era definido segundo a vontade dos “coronéis”, no interior. Era o caso de São Caetano, no agreste pernambucano. Lá, mandava o “coronel” João Guilherme. Na primeira eleição após o Estado Novo, ele destacou capangas para o trabalho, digamos, de “boca de urna”: ficavam nas proximidades dos locais de votação perguntando aos eleitores se eles votariam no candidato do coronel. Se a resposta fosse “não”, os eleitores ouviam a “sugestão”: “Acho melhor o senhor não votar, não. É para não atrapalhar a democracia”.

Dita dura – 1

O leitor Joel Avelino Ribeiro relembra as histórias que ouviu na juventude sobre o período ditatorial: “Num bar em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos, na rua do Carmo, em São Paulo, um aposentado, bebendo sua dose de Tatuzinho, me disse que muitos desaparecidos daquela época, na verdade, abandonaram suas famílias e se mandavam para países vizinhos ou para o México com novos amores. Ele lembrou até o caso de um morador dos Jardins, cuja família imaginava que tivesse sido enterrado no cemitério de Perus”.

Dita dura – 2

Prossegue Avelino: “Com a entrada em vigor da anistia ampla, geral e irrestrita, muitos retornaram e outros, já bem sucedidos onde estavam, nunca mais deram as caras. Se tudo isso é verdade ou não, o que a gente sabe é que sempre haverá muitos mistérios, mentiras e exageros sobre aquele período. E como diz um velho ditado, “num burro carregado de açúcar, até o rabo fica doce…”

Repelentes

Para encerrar, outra de Claudio Humberto. No governo do general Emílio Médici, o Incra mantinha uma casa em Padre Bernardo, no entorno do DF, frequentada por figurões da República, dentre os quais, ministros e até um ilustre parente do presidente, acompanhados de amantes. O jovem presidente da autarquia, Walter Costa Porto, temia um escândalo e não sabia o que fazer até que bolou um repelente infalível: Synteko. Mandou besuntar o piso de madeira da casa uma vez por semana, religiosamente. O cheiro forte e as emanações lacrimogênias puserem fim aos encontros galantes dos amigos e do parente do ditador.

Fonte:O Diário de Mogi