segunda-feira, 24 de julho de 2017

Pimenta: um negócio picante e rentável em Mogi

23 de julho de 2017  QUADRO DESTAQUE  
A produção de molhos de pimenta tem se mostrado um bom negócio na Cidade. (Foto: Eisner Soares)
A produção de molhos de pimenta tem se mostrado um bom negócio na Cidade. (Foto: Eisner Soares)

SILVIA CHIMELLO
Alimento muito apreciado na gastronomia brasileira, a pimenta é consumida desde o início da civilização. Já funcionou como moeda de troca e faz parte da história do País. Existem confrarias e uma legião de apaixonados pelo produto, que consideram uma privação de prazer comer sem ela. Para alguns, comer pimenta é uma arte e quanto mais forte melhor. A boa é aquela que até mareja os olhos. Outros só gostam do realce no sabor da comida. Mas, independentemente das preferências de consumo, o que se percebe é que esse mercado dá sinais de crescimento no Município.

Investir nesse ramo tem se mostrado uma boa aposta de negócios para empresários do setor de alimentação, interessados em diversificar a produção. Também se apresenta como uma boa alternativa para aqueles que precisam complementar a renda. Em Mogi das Cruzes, a dimensão das empresas vai desde os pequenos empreendedores e suas fabricações artesanais com núcleo familiar, até as fábricas maiores que estão conquistando cada vez mais espaço no mercado.


Os tipos mais populares produzidos na Cidade são os molhos e conservas, mas já existem empreendedores da Cidade investindo em pimenta em pó e geleias com frutas e sabores exóticos para aumentar o valor agregado do produto.

PRODUTORES
Uma das empresas que vem se destacando nesse ramo é a Alho Oishii. Fundada em Mogi há 10 anos, comercializa uma linha grande de temperos, que inclui pimenta, alho, cebola, molhos e sal grosso.

Um dos sócios-proprietários, Marcos Odashima, explica que inicialmente a empresa nasceu com propósito de fazer alho picado em potes, mas aos poucos foi diversificando os produtos até que apareceu ideia de produzir molho de pimenta e buscar formas diferenciadas. Foi então que surgiu o creme de pimenta, que hoje é o carro-chefe na linha de pimentas.

Odashima explica a matéria prima vem de Minas Gerais, onde passa por um processo, se transforma em polpa e é acondicionada em barricas. A partir daí é transportada para a fábrica mogiana, onde é colocada em um tanque de 200 kg, adicionada aos demais ingredientes. Depois desse processo, a mistura descansa por alguns dias para ser envasada.

A fábrica, localizada na Vila São Francisco, no Distrito de Braz Cubas, conta com 35 funcionários e comercializa 5 mil frascos por mês, vendidos em embalagens de 150 ml, 200 ml e 900 ml. O principal foco são os supermercados. Atualmente abastece a região do Alto Tietê e o Estado, mas tem projetos para ampliar o leque de produtos e atender todo Brasil.

“A pimenta é um ótimo negócio e está em alta, principalmente as linhas artesanais e ‘gourmetizada’, que fazem muito sucesso. Os consumidores de pimenta têm paladares muito pessoais. Os apaixonados por pimentas gostam da ardência, mas ainda o giro maior é a pimenta mais leve que acaba sendo consumida mais rapidamente. De todas as formas, o produto tem uma boa aceitação, inclusive entre os mais jovens”, reforça.


O fato de ter um restaurante e bar incentivou o empresário Romeu José da Silva a iniciar a produção de pimentas. A história começou quando ele resolveu montar um vidro com um tipo picante para servir com o mocotó, seu carro-chefe. Os potes deixados no bar despertaram o interesse dos frequentadores. A maioria que experimentava, aprovava, pedia a receita e queria comprar. Os pedidos eram tantos que motivou o dono do estabelecimento a pensar em um novo projeto.

Há cerca de três anos, o empresário resolveu dedicar-se ao negócio. Fez pesquisas de mercado, cursos de especialização, estudou o produto e decidiu investir na empresa “Pimenta do Romeu”. Optou por um fornecedor na cidade de Durandé, que fica em Minas Gerais, divisa com Espírito Santo, depois de ver de perto a produção e ter segurança sobre a procedência da matéria prima. Romeu explica que só trabalha com a malagueta e oferece quatro linhas de produto: molho refinado, com semente sem semente, conserva e pimenta em pó.

Atualmente, consegue vender entre 10 a 15 unidades diariamente em seu comércio. Abastece ainda várias padarias, restaurantes e alguns mercados. Por enquanto cuida de todo o processo de produção sozinho, manuseia e coloca nos vidros em um espaço que mantém no próprio restaurante localizado na Rua Ipiranga. Segundo ele, o grande segredo é na hora de envasar o produto.

“A produção ainda é pequena, mas pretendo ampliar porque o meu produto tem uma boa aceitação. Isso porque só uso produtos naturais, sem conservante”, assegura Romeu.

Outra marca de pimenta fabricada em Mogi das Cruzes é a Maná Pimentas, que atua também na linha de molhos, com produção artesanal. O pequeno empreendedor é o professor Manassés Maximiano, que decidiu investir no ramo “para reforçar o orçamento”.

A empresa, que começou a funcionar há cerca de três anos na Vila São Sebastião, abastece todo o Alto Tietê apenas no mercado atacadista. Ele conta que se arriscou nesse mercado “por necessidade, porque estava difícil sobreviver só como professor e encontrei na fabricação de pimenta uma saída”. Atualmente produz cerca de 500 vidros de molho por mês, comercializados em com frascos de 200 ml . Ele adquire a matéria prima em São Paulo.

Casal investe em geleias gourmet
Marcos e Marina investiram em ideia trazida de fora. (Foto: Carmelo Riolo/ Divulgação)

Marcos e Marina investiram em ideia trazida de fora. (Foto: Carmelo Riolo/ Divulgação)

A produção de pimenta em Mogi acompanha a tendência e apresenta inovações para atender às exigências de um mercado cada vez mais diferenciado. Existem hoje várias formas de agregar valores e explorar as possibilidades da pimenta no universo gourmet. O casal Marcos Quiziri e Marina Carraro, depois de um período de um ano fazendo intercâmbio fora do Brasil, passando pela Irlanda e Suíça, voltaram para Mogi sem muitas opções de trabalho e foi aí que decidiram investir em um produto que tinham conhecido e aprovado no exterior, as geleias de pimenta.

No final de janeiro, depois de pesquisas, avaliação do mercado, cursos técnicos e empresarial, começaram comercializando o produto através da internet, utilizando as mídias sociais e já estão conseguindo espaço cada vez maior no mercado. Marcos conta que para fabricar o produto utiliza tipos de pimenta dedo de moça, malagueta, entre outros. Produz atualmente uma média de 500 potes por mês. O seu maior fornecedor é a Cobal. “O nosso investimento inicial foi de R$ 20 mil, até agora não obtivemos todo o retorno, mas estamos caminhando para isso”, afirma ele. Produz uma média de 500 potes por mês

A marca “de Lambuja” apresenta um blend de pimentas selecionadas com o toque agridoce da geleia, pode ser consumida com carne, pães, entre outras opções. Oferece 25 sabores da mistura com abacaxi, morango, damasco, nozes, além de linha exótica. A fábrica fica na Rua Agostinho Caporali, 142, no Bairro do Socorro.

Hipócrates acreditava no poder curativo do produtora
As pesquisas feitas na Internet sobre a história da pimenta revelam que há registros de seu uso há 9.000 anos a.C. Depois de estudar os seus princípios ativos, Hipócrates, o Pai da Medicina, acreditava que tinha o poder curativo. Pesquisadores afirmam que a especiaria aromática e picante, estimula o apetite, auxilia a digestão, possui valor nutritivo e é fonte de vitaminas A, B, C e E. Contém os carotenoides, antioxidantes naturais, que combatem os radicais livres.

A ardência é provocada pela capsaicina, que aumenta a produção de endorfinas – substâncias indutoras da sensação de prazer. Além disso, tem função analgésica, anti-inflamatória e anticoagulante.

Há informações de que a pimenta brasileira é um conjunto de 25 espécies de “capsicum”, com frutos de sabor picante similar ao da Piper nigrum (pimenta-do-reino), especiaria indiana, considerada a rainha das pimentas, valorizada pelo efeito conservante sobre a carne, que já foi aceita até como moeda.

Prefeito é um consumidor ávido da iguaria
Um dos apaixonados por pimenta é o prefeito Marcus Melo (PSDB), que faz questão de incluir o produto no seu cardápio. Ele disse que a iguaria nunca pode faltar no almoço e nem no jantar. “E quanto mais forte e picante melhor”, reforça.

Melo revela que coleciona várias marcas e tipos diferentes na casa dele e sempre que se depara com alguma novidade no mercado, faz questão de comprar.

“Alguns amigos, sabendo do meu gosto, inclusive, me presenteiam com algumas pimentas, principalmente quando encontram alguma coisa nova. Prefiro as receitas caseiras, mas não dispenso nenhuma”, realça o tucano.

Nutricionista destaca alimento funcional
O consumo da pimenta tem levantado muitas controvérsias ultimamente, devido às inúmeras vantagens em comparação com as desvantagens que apresenta, conforme explica a professora e nutricionista Sandra Aparecida Fernandes Otoni de Oliveira.

Segundo ela, “esse condimento tem se destacado devido ao seu princípio ativo, que é a capsaicina, responsável pelo seu grau de ardência, agindo como forma de um alimento funcional”.

A nutricionista relaciona uma série de vantagens no consumo de pimenta, entre elas: perda de peso, por ser um produto termogênico, acelera a queima de gordura corpórea; ação anticancerígena devido à sua atuação como antioxidante, que age nos radicais livres da corrente sanguínea; ação microbiana, bactericida e anti-inflamatória; feito analgésico, devido ao seu princípio ativo (capsaicina), se liga aos receptores da dor e capta todas as percepções de desconforto, principalmente os das artroses (diminuindo seu inchaço).

Na lista de benefícios, a professora observa também que a pimenta promove o aumento da secreção gástrica e consequentemente auxilia na digestão; rica em vitaminas do complexo B (repara mucosas e tecidos), vitamina C (aumenta a imunidade), potássio (auxilia no controle da pressão arterial e das contrações musculares), manganês, magnésio e ferro, cobre (ajuda na coloração sanguínea); é rica em licopeno (pigmento vermelho) previne o câncer de próstata; estimula o organismo a prevenir doenças cardíacas e controle do colesterol; e ainda melhora o humor, porque estimula a produção de serotonina, o hormônio da felicidade.

Entre as desvantagens está a ação da pimenta no aumento da produção de sucos gástricos, o que torna o produto contra indicado a pessoas com gastrite. Também pode provocar queimaduras no sistema digestório como no esôfago e desconforto gástrico quando ingerida em grandes quantidades, principalmente quando se trata de pacientes com hemorroidas.

Receita
Não poderia faltar nesta reportagem, uma receita especial, com uso de pimenta. A dica foi passada pelo empresário do setor de restaurantes em Guararema, Valdir Stilhano.

Nome do Prato: Camarão Stilhano

Ingredientes: Camarão (360 gramas), Azeite (200ml), Pimenta Mirante (30gramas); Sal da Vovó (10 gramas) e Alho (10 gramas).

Tempere o camarão como sal da vovó. Em uma saltese acrescente o azeite, o alho, a pimenta mirante e depois junte o camarão. Depois disso, vá puxando até mudar de cor.

Valdir Stilhano garante que o prato fica muito saboroso e irresistível. (S.C.)

Fonte:O Diário de Mogi