terça-feira, 14 de março de 2017

Mogianos esperam por cirugia de catarata

12 de março de 2017  QUADRO DESTAQUE  

Na Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes, cerca de 200 pacientes são diagnosticados com catarata a cada mês / Foto: Arquivo

NATAN LIRA

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Oftalmologia aponta que a cada ano mais de 550 mil pessoas são vítimas de catarata no País. Apenas na Santa Casa de Mogi das Cruzes, o número de pacientes diagnosticados com a deficiência na visão chega a 200 a cada mês, e o cenário na Cidade é ainda maior, quando considerado os atendimentos oftalmológicos realizados pelo Ambulatório Médico de Especialidades (AME), administrado pelo Governo do Estado. Os pacientes do Ame que necessitam da cirurgia são encaminhados ao Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo. O Diário perguntou este número de atendimentos à Secretaria de Estado da Saúde, mas a Pasta não informou os dados.
A realidade do aumento da população da terceira idade reflete no crescimento do número de casos de catarata. Em 2014, apenas na Grande São Paulo, foram realizados 29 mil procedimentos cirúrgicos. Já em 2016, os operados totalizaram 32 mil. “A catarata não é uma doença e sim o reflexo do envelhecimento dos olhos, então não há como se prevenir”, explica o oftalmologista Carlos Roberto Fonçatti. O médico lembra ainda que o problema acomete principalmente os pacientes com mais de 60 anos, mas isso não exclui o diagnóstico em pessoas de outras faixas etárias. “Existem diferentes tipos de catarata, que podem ocorrer mesmo em recém-nascidos, mas não são os casos mais comuns”, pontua.
Dos 200 pacientes diagnosticados com catarata na Santa Casa, por mês, 70 deles precisam de tratamento cirúrgico. A técnica mais moderna para o tratamento é a facoemulsificação, realizada por meio de um equipamento de ultrassom. “Muitas pessoas confundem com o laser, que também existe, mas tem indicação restrita e é combinada com o facoemulsificador sempre”, explica o oftalmologista Ricardo Costa Boucault, responsável pelo Setor de Catarata da Santa Casa de Mogi.
Até 2014, a Santa Casa realizava mutirões de cirurgias, a fim de diminuir a quantidade de pacientes na espera pelo tratamento. Naquela época, segundo a assessoria de imprensa do hospital, eram atendidos 600 pacientes mensais acometidos pela catarata e, deste número, 200 seguiam para tratamento cirúrgico. Com a diminuição da demanda, a unidade parou de realizar as cirurgias conjuntas, mas desde 2015, O Diário mostrou o aumento no número de pessoas à espera pelo procedimento. Uma reportagem publicada à época informou que 240 pessoas aguardam pela operação só na Santa Casa. Agora, segundo Boucault, o número chegou a 500 esperando pela cirurgia.
O aumento na fila de espera levou a Prefeitura de Mogi, por meio da Secretaria de Saúde, a realizar uma parceria com a Santa Casa e a equipe de oftalmologia, a fim de zerar a fila de espera. O grupo estuda promover um mutirão no segundo semestre. Boucault esclarece, contudo, que este serviço não é sinônimo de baixa qualidade no tratamento, visto a utilização de materiais fornecidos por empresas americanas, licenciados pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) e, entre um paciente e outro, todos os equipamentos são esterilizados.

 Tratamento deve ter início o quanto antes

Maior causa da cegueira no Brasil, a catarata tem como principal sintoma a sensação de fumaça na visão. O paciente enxerga com se estivesse sob a neblina. Mas se o diagnóstico vier no início da doença, o tratamento pode ser por meio do uso de óculos. Entretanto, a demora pela busca de atendimento pode levar ao desenvolvimento de um tipo de glaucoma e acarretar na cegueira irreversível. É importante que o paciente procure um especialista mesmo que a piora na visão aconteça somente para objetos distantes e exista boa capacidade para enxergar de perto.
O diagnóstico da catarata é obtido por meio de exame clínico. “Primeiramente tentamos corrigir, se ainda possível, com o uso de óculos, porém em alguns casos essa melhora não ocorre e optamos por correção cirúrgica. Não existe nenhuma outra maneira de correção da catarata sem ser cirurgia, colírios não são efetivos”, explica o oftalmologista Ricardo Boucault, da Santa Casa de Mogi.
O oftalmologista Carlos Roberto Fonçatti diz que o procedimento cirúrgico não ultrapassa os 20 minutos e o pós-operatório não exige apenas um simples repouso do paciente. “A recuperação é muito tranquila. Durante uma semana, o operado deve evitar pegar peso e dormir com o lado operado sobre o travesseiro”, conclui Fonçatti.

Aposentada critica espera por consulta

Para a aposentada Ivonete Laurentino de Oliveira, de 67 anos, a maior dificuldade em conseguir o tratamento de catarata em Mogi das Cruzes está na demora da consulta com o oftalmologista. Em 2013, ela começou a ter dificuldade para enxergar, buscou a Santa Casa e esperou por um ano para ser atendida pelo profissional. “Depois que passei no médico, não demorou nem um mês para eu operar o olho direito e, 30 dias depois, estava passando pelo procedimento no esquerdo”, conta Ivonete.
Atualmente, para o paciente ser atendido pelo Setor de Oftalmologia da Santa Casa ele deve ir até a Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa e solicitar agendamento com alguma especialidade básica (clínico geral, ginecologista, pediatra, entre outros) e solicitar a este médico que o encaminhe ao oftalmologista. Não é possível agendar a consulta direto no hospital, este encaminhamento é realizado apenas por meio da Secretaria Municipal de Saúde. Os atendimentos ocorrem todos os dias, de segunda à sexta-feira, nos períodos da manhã e tarde.
Há a possibilidade ainda do paciente buscar o atendimento nas Ames, que ofertam 250 consultas por mês na especialidade de oftalmologia. Caso o paciente seja diagnosticado com catarata, ele será encaminhado ao Hospital Luzia de Pinho Melo para realizar a cirurgia.
Passados os três anos da operação, Ivonete começou a sentir o olho esquerdo embaçado. Ela diz ter tentado atendimento para verificar se a lente inserida durante o procedimento precisava ser trocada, mas se deparou com a mesma demora de 2013. “Aí eu fui a um hospital de Ferraz de Vasconcelos e lá me encaminharam a outro de São Paulo. O médico me passou um colírio e agora está melhor, porque pelo menos não fica mais escorrendo lágrimas, igual antes. Só que ainda não consigo enxergar se fechar o direito”, explica. Ela deve retornar em junho ao oftalmologista, na Capital, para verificar se precisará operar, de novo, da catarata.

Fonte:O Diário de Mogi