domingo, 11 de dezembro de 2016

DESTAQUE:
Novo túnel facilita trânsito no Centro de Mogi

 11 de dezembro de 2016  DESTAQUE  
 Placa com identificação do túnel leva imagem de Tirreno da San Biagio.
Placa com identificação do túnel leva imagem de Tirreno da San Biagio.

ELIANE JOSÉ
Após homenagens ao jornalista Tirreno Da San Biagio (1931-2015), centenas de pessoas conheceram ontem o primeiro acesso que elimina o tráfego de carros pela passagem subterrânea da Praça Sacadura Cabral. Maior obra contratada pela Prefeitura, por R$ 128 milhões, o túnel interliga a Rua Dr. Ricardo Vilela à Cabo Diogo Oliver, no sentido bairro. “Estamos acabando com a cancela, a porteira que dividia Mogi das Cruzes ao meio. É o fim de um ‘apartheid’, do ‘muro de Berlim’, que existia na Cidade”, comparou o prefeito Marco Bertaiolli (PSD).

O administrador destacou o peso do projeto na vida da Cidade. “É um problema grave a manutenção das cancelas, porque elas param o trânsito”. E não se furtou a rebater críticas às características da obra, que inicia em uma faixa e termina em duas faixas. “Passa ônibus, passa caminhão, e não é apertada, como os senhores poderão ver”.


Na solenidade, um senso comum na fala de populares, técnicos que de alguma maneira participaram da execução do projeto, empresários e autoridades sobre o Complexo Viário Jornalista Tirreno Da San Biagio: a modernização da região central. O entorno da Estação Ferroviária, construída há 140 anos, quando dava para contar nos dedos das mãos, o número de ruas da Cidade, transformou-se num dos pontos mais deteriorados daquele perímetro e a causa do colapso do trânsito, toda vez que o trem passa.

Esse sentido foi captado por Tulio Da San Biagio, filho de Tirreno: “É um motivo de orgulho e honra para a minha família a homenagem ao meu pai, que sempre defendeu o melhor para Mogi, e motivo de reconhecimento nosso, como cidadão, porque a passagem é uma solução para a Cidade antiga que trava por causa do trânsito, e que demorou muito para conquistar essa obra. Os governos do Estado, Federal e Municipal estão concluindo um projeto que não podia mais ser postergado. Demorou muito. Mogi cresceu muito e depende da modernização para se desenvolver”.

O prefeito eleito, Marcus Vinicius de Almeida Melo (PSDB), afirmou que o primeiro dos dois acessos tem valor qualitativo para a Cidade. ‘Hoje, o maior desejo das pessoas é ter mais tempo para ficar com a família e se dedicar a outras atividades que não o trabalho. A melhoria da mobilidade reduz o tempo gasto no trânsito, melhora a vida das pessoas”.

A três semanas de assumir a Prefeitura, ele comentou que deseja entregar o segundo túnel em setembro do ano que vem: “O mais breve possível para acabar, de vez, com esse problema”.

Sob forte sol, centenas de pessoas acompanharam os discursos, o descerramento das duas placas, instaladas em um totem – uma com a descrição e data de inauguração, a outra, com um pequeno perfil de Da San Biagio.

“Agora, podemos dizer que Mogi não para para o trem passar”, disse o comerciante Roberto Assi, um dos interlocutores dos lojistas daquela região. Ele tem expectativas positivas, após a entrega do segundo túnel. “Durante anos, essa parte esperou por atenção”, disse.


Juquita, na certidão, José Silva de Oliveira, de 88 anos, mineiro morador do Mogilar, foi um dos que quis ver de perto o resultado da obra. “Cheguei a Mogi em 1957 e vi Mogi com 80 mil moradores e, agora, com mais de 400 mil. Essa cancela era uma vergonha. Vamos esperar a passarela para o pedestre”. As demandas da Cidade não param. A passarela está em estudo e será necessária para atender às milhares de pessoas que circulam entre o Centro e a Vila Estação (veja matérias à página 3).

Por volta do meio-dia, foi cortada a fita inaugural. As pessoas entraram na iluminada passagem. E ali pelas 14 horas, os primeiros veículos circularam por ela. Muita gente pode, então, matar a curiosidade.

Homenagem: Um jornalista na essência
Tirreno Da San Biagio, o Tote, era essencialmente um jornalista. Desde aquele 13 de dezembro de 1957 quando, aos 26 anos, editou o primeiro número deste jornal, ele cultuava uma máxima: “Quem não tem um projeto é usado pelo projeto de alguém”. E todos sabiam qual era o projeto de Tote: Mogi das Cruzes. A esse projeto, durante os 57 anos em que esteve à frente de O Diário, colocou o jornal a serviço.

O resultado foi aquele que, sabia o jornalista, seria infalível: na medida em que se pratica o jornalismo ético, se terá a credibilidade do leitor; com a credibilidade, se terá carteiras de assinantes e de anunciantes. Pressuposto básico para a sobrevivência de qualquer veículo.

Mogiano do Largo do Bom Jesus, nascido em 19 de outubro de 1931, Tote começou no jornalismo pelas mãos dos irmãos Isaac e Jayme Grinberg, que então dirigiam a Folha de Mogi. Foi em 1951, aos 20 anos, que teve contato, pela primeira vez, com o ofício. Ficou com os Grinberg por seis anos, até que estes vendessem o negócio. Não concordando com a nova linha, de conotação política, imprimida pelos novos donos, propôs a Neid de Freitas Brandão, noiva e colega de trabalho (se casariam dia 10 de dezembro de 1959): “vamos nos demitir e, com o dinheiro da indenização, montamos nosso jornal”.

E assim foi feito. Alugaram um galpão na Rua Barão de Jaceguai, compraram máquinas de segunda mão e tiveram, consigo, a lealdade de antigos colegas de trabalho, que aceitaram o desafio da empreitada. Também a adesão de assinantes e anunciantes que decidiram apoiar o jovem casal.

Em seis meses, o jornal do qual haviam se demitido já não existia, enquanto O Diário seguia sua trajetória ascendente. “Ninguém faz nada sozinho”, uma frase constante nas conversas de Tote. Ele sempre lembrava passagens como a compra de seu primeiro carro, um Volkswagen sedan. “Eu vendia anúncios e cobrava assinaturas de bicicleta. Um dia Anésio Urbano, concessionário da Volks, disse-me que eu precisava ter um carro; quando lhe respondi que não tinha dinheiro ele contestou: paga como puder”. Anésio foi um dos empresários mogianos que apoiou o novo jornal, publicando anúncios.

Na sua empreitada de constante reinversão de resultados, Tote foi consolidando o negócio. Adquiriu o prédio em que o jornal começou, assumiu o controle da Rádio Marabá (depois Rádio Diário), a mais antiga emissora da Cidade e construiu a nova sede da Rua Ricardo Vilela. Sempre cuidando da atualização do parque gráfico. E olhando para o futuro: foi o maior incentivador dos filhos no processo de concorrência pública, que resultou na instalação da TV Diário, retransmissora Globo no Alto Tietê.

No período que antecedeu sua morte, em 14 de outubro de 2015, Tote seguia a rotina que se impôs desde 13 dezembro de 1957: era o primeiro a chegar, tinha a porta de seu escritório permanentemente aberta e permanecia um atento defensor dos interesses de Mogi das Cruzes.


O discurso Da San Biagio
“Antes de mais nada quero comentar uma feliz coincidência: há exatos 57 anos, nesta mesma hora do dia 10 de dezembro de 1959, meus pais Neid e Tirreno casavam-se.

Sinto-me emocionado e profundamente grato ao me dirigir a todos aqui presentes, em especial ao prefeito municipal Marco Aurélio Bertaiolli.

Tulio discursa em nome da família Da San Biagio. (Foto: Edson Martins)
Tulio discursa em nome da família Da San Biagio. (Foto: Edson Martins)

Estou feliz e, ao mesmo tempo, recompensado por ter sido escolhido pela minha família para, em seu nome, externar a nossa emoção e gratidão neste momento ímpar da história recente de nossa Cidade.

Esta oportunidade me leva a um passeio pelos 51 anos em que pude conviver com meu pai. E lhes confidencio: ele tinha um ideal prioritário. Que era Mogi das Cruzes. E transformou cada edição do jornal que fundou, e por 57 anos dirigiu, em ferramenta para a concretização desse ideal.

A inauguração desta imponente obra viária tem um significado especial para Mogi das Cruzes e, mais ainda, para os Da San Biagio.

Para Cidade, representa o primeiro passo para a solução de um problema crônico do nosso antigo centro urbano.

Eu e meu irmão temos a consciência de que não podemos substituí-lo. Mas firmamos com esta Cidade, neste momento, o compromisso de manter vivo o ideal de nosso pai, na defesa permanente e intransigente de seus propósitos.

Esta passagem subterrânea, cujo primeiro túnel está sendo entregue hoje ao tráfego de veículos, representará a libertação progressiva dos congestionamentos que sempre atormentaram aqueles motoristas que se aventuraram a passar por aqui, tendo de enfrentar os prolongados fechamentos das cancelas junto à linha férrea, para que os trens pudessem trafegar com segurança.

Mogi das Cruzes, a partir de hoje, poderá se orgulhar desta obra, assim como de tantas outras realizadas durante o profícuo mandato deste dinâmico prefeito.

E assim como a Cidade, posso garantir que a família Da San Biagio também sente-se especialmente honrada e orgulhosa por este importante complexo viário receber o nome de Tirreno Da San Biagio, o Tote, meu pai, um apaixonado por Mogi das Cruzes e defensor intransigente de seu progresso e crescimento.

A cada edição de O Diário, a cada grade de transmissão da TV Diário e em todos conteúdos digitais das plataformas que atuamos, sentimos que, de alguma forma, estamos trabalhando para a perenização de sua memória.

Neste momento, prefeito Bertaiolli e demais presentes, gostaria de lembrar um antigo orador que dizia que “nenhum dever é mais importante que a gratidão”, e assim poder afirmar a todos que esta homenagem prestada ao jornalista mogiano e fundador do jornal O Diário de Mogi ficará para sempre registrada, de maneira marcante e inesquecível, em algo maior que a estrutura de concreto que se apresenta à nossa frente.

Ficará guardada, em definitivo, na memória do coração de todos nós, da família Da San Biagio, onde se devem recolher as manifestações de carinho, como esta que hoje recebemos desta Cidade que meu pai tanto amou e pela qual sempre lutou.

Em nome de minha mãe Neid, de meu irmão Spartaco, da minha mulher, Márcia, de minhas filhas Giovanna e Rafaella e de demais familiares, gostaria de externar nosso mais sincero agradecimento por essa obra que irá eternizar o nome de meu pai no coração da Mogi das Cruzes, onde ele passou os 84 anos de uma vida voltada para o jornalismo e para os interesses maiores do Município e seus habitantes.

Neste momento avalio o orgulho que nosso pai teria ao deixar a sede de O Diário, que ele construiu com tanto amor no número 568 da Rua Ricardo Vilela e dirigir até este túnel. Chegaria devagar, nem tanto que atrapalhasse o trânsito que lhe seguisse. E olharia cada detalhe. Tenho certeza, voltaria mais uma vez, e ainda outra e muitas outras vezes para olhar, admirar, inspecionar. E sabemos, meu caro prefeito, também para lhe telefonar na manhã seguinte sugerindo uma pequena complementação. E, assim, honrar o que o senhor sempre diz a respeito de meu pai, que ele “Tote é o síndico de Mogi”.

Fonte:O Diário de Mogi