sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Tribuna Livre Antes tarde do que nunca Dirceu Do Valle


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Antes tarde do que nunca
Dirceu Do Valle

Vivemos, hoje, a sociedade de consumo. As pessoas, para o capital, deixaram de ser indivíduos, mas massa de compradores, lobotomizados por mesmeristas pagos para convencer de que precisamos de algo que não precisamos. Comprar, comprar e comprar. Aí está o prazer. 
E o prazer da compra, em que o ter, mesmo que sem que se saiba para que, é o que importa, além dos danos ao meio ambiente com a retirada desordenada dos recursos naturais para suprir à demanda alavancada pela obsolência programada, traz um vazio existencial porque o ser passou a ser secundário. A infelicidade deriva do excesso e não da falta de opções.

Entretanto, conquanto o incutir falsas necessidades em adultos possa até ser justificável por alguns pela autonomia presumida que os maiores desfrutam, patente, em contrapartida, que faltante nas crianças o discernimento necessário para resistir ao bombardeio midiático que procuram seduzi-las e nelas condicionar, desde pequenas, hábitos de consumo. 
Evidente que publicidade voltada ao público infantil não é novidade, mas a que é praticada agora, comparada àquela de três décadas atrás, é meticulosamente engendrada, difusa, sacana, até. No mínimo, covarde. Auxiliada por pseudo psicólogos, manipulam despudoradamente a petizada. Não raro, culminam em uma adultização prematura e, pior, uma erotização precoce.

No documentário "The Corporation", boicotado por nossas emissoras de televisão - mas disponível graciosamente no You Tube -, noticiado que há alguns anos, foi desenvolvido estudos sobre a teimosia infantil, patrocinados por conglomerados e focados não na abordagem de como orientar os pais a lidar com o problema, mas como poderiam as empresas melhor explorar essa característica nos pequenos para aumentar seus lucros. 
"Super Size Me", outra película quase vista como um livro de São Cipriano pela mass media que não quer desagradar os grandes anunciantes, aborda a publicidade infantil praticada pelo fast food do palhacinho com suas campanhas do tipo "compre um lanchinho, leve um brinquedinho". 
É por essa razão que, seguindo o ditado de que antes tarde do que nunca, veio em boa hora o posicionamento mais firme do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), definindo parâmetros para disciplinar a publicidade voltada à gurizada, em especial o merchandising, agora vedado.

Propagandas subliminares, enrustidas, disfarçadas, como aquelas praticadas no meio de novelas infantis, estão proibidas. É um começo. A censura, em qualquer termo, é deletéria. Mas no caso disso não se trata. Crianças não são adultos pequenos. Precisam ser formadas. Não deformadas.


Dirceu do Valle, é advogado e professor de 
pós-graduação da PUC/SP

Fonte:Mogi News